Foto: Anderson Tozato |
Quase três mil pessoas lotaram o salão do Clube Santa Mônica. continua após a publicidade |
O tradicional baile do Clube Santa Mônica no último dia de Carnaval em Curitiba fez os foliões darem adeus à festa com uma boa dose de animação. Na madrugada de ontem, o clima não inspirava saudades dos dias de festa, mas sim a vontade de fazer valer cada minuto antes da chegada da Quarta-feira de Cinzas. Os organizadores utilizaram os cem anos do frevo como temática da festa, mas o ritmo imperou somente na decoração do salão e no traje de alguns foliões: a maior parte do tempo, como é tradicional nos carnavais de clube, o baile foi regado a axé e marchinhas.
Como competir com a praia não é tarefa fácil, o diretor social Ronaldo Ferreira diz que todo ano arruma um jeito de trazer para o baile aqueles foliões que preferem a festa tradicional de Carnaval, tal como nos salões citados pelas antigas marchas. ?Tanto que muita gente sobe a serra para aproveitar a última noite aqui?, relata, fazendo referência à tradição que se repete há anos no clube. Em seu 45.º Carnaval, pelo menos 2,8 mil pessoas lotaram o salão do Santa Mônica ao longo da noite, vindas de todo lugar: ?Fizemos um acordo com os clubes co-irmãos Morgenau, Círculo Militar, Duque de Caxias, Thalia e Curitibano para que seus associados pagassem valor bem abaixo dos convidados, o que incrementou a participação?.
O diretor social garante que, apesar de poucos clubes ainda manterem os bailes em Curitiba no último dia de Carnaval, a demanda para a festa existe: ?Apostamos na tradição e nesse espaço deixado pelos outros. E apesar da concorrência com o litoral, procuramos incrementar com a temática, apresentando sempre novidades aos participantes?, diz. Este ano, por exemplo, a homenagem foi aos cem anos do frevo, ritmo pernambucano que apareceu no baile em Curitiba, ainda que muito mais na decoração e em alguns trajes do que na música propriamente dita – no início, a banda deu uma ?puxada? para o tema, mas logo voltou ao axé e às marchinhas, preferidos pelos sulistas.
Porém, para os foliões, bastava estar no salão para todos os estilos serem bem-vindos. Ana Paula Madalosso, por exemplo, pulou apenas naquela noite. ?Fazia dez anos que não vinha ao Carnaval aqui, mas a festa é famosa e a diversão garantida?, disse. A estudante Fernanda Matos, que estreava no Santa Mônica, também era só animação em meio aos confetes: ?Em Carnaval eu curto todas, faço tudo que puder. Na praia é divertido, mas estou preferindo o baile do clube hoje, é melhor e mais animado, com clima diferente?, defendia.
O folião Pedro Sache, diferente da maioria dos participantes, vestiu fantasia de mulher para curtir a festa. ?Para mim o que não pode faltar é fantasia no Carnaval, senão não tem graça.? Não era o caso do aposentado Antônio Bonacielo, 75 anos, que estava louco para ouvir as marchinhas (entre uma e outra, ele levantava da mesa e aproveitava para dançar): ?Carnaval não é mais como antigamente. Antes era muito mais animado, agora é só barulho. Mas a gente vem para acompanhar a família?. No fim do baile, apesar do friozinho, o destino foi o famoso banho de piscina: ?É imperdível. Carnaval aqui tem que ter a piscina no final?, finalizou o folião Cícero Gava.
Realidades distintas em outros clubes
Mara Andrich
Mesmo com a chuva da madrugada de ontem, muitos curitibanos incansáveis não se intimidaram e foram aos bailes noturnos de Carnaval tradicionais do Paraná Clube e do Três Marias Clube de Campo. Apesar das marchinhas não terem mais tanto espaço nos salões e o popular axé tomar conta, muitos foliões compareceram fantasiados para aproveitar a última noite de festa, como manda a tradição.
O salão do Paraná Clube não ficou lotado, com cerca de 1,8 mil pessoas, mas mesmo assim surpreendeu os organizadores da festa. O gerente do local, Luis Carlos Casagrande, disse que esse público é 30% maior do que o dos anos anteriores. ?Acho que estamos começando a resgatar o Carnaval tradicional dos clubes?, comemorou.
Mas apesar do desânimo de muitos curitibanos com relação ao Carnaval da cidade, a professora Simone Silva e seu marido, o administrador Alexandre Lima, dão um exemplo de espírito carnavalesco: voltaram da praia mais cedo especialmente para pular a última noite no Paraná Clube. ?Na praia é muito tumulto, aqui o clima é mais família?, disse.
As ?moças? adolescentes Puga (Rafael), Pepa (Pedro) e Luana (Luan) também se divertem pelo menos uma noite de Carnaval todos os anos no Paraná Clube. Eles voltaram da praia na segunda-feira e na terça à noite garantiram presença no salão fantasiados de mulher. ?Esse é o primeiro ano que a gente vem de mulher?, garantiu Rafael. Para os três amigos, o clube é atrativo por conta do comportamento das pessoas. ?Todos são muito simpáticos?, disse.
Festa entre amigos
No Três Marias Clube de Campo havia cerca de 300 pessoas no baile da madrugada de ontem. Mesmo com o salão bastante vazio, ninguém perdeu o ânimo. ?Na praia não há a mesma tranqüilidade do clube e nem há tanta união, pois aqui a gente está entre amigos?, disse Liomar Gonçalves de Oliveira, de 24 anos, que estava fantasiado de ?Guiomar?. ?Nós nunca viajamos. Sempre ficamos aqui, entre amigos?, disse o empresário Giovane Costa, de 35 anos, fantasiado de Ronaldinho.
O diretor social do Três Marias, Gaspar Pinto, disse que o clube promove apenas uma noite de Carnaval, porque não há público para os outros dias. ?As pessoas vão para a praia.?
Mas ele ressaltou que as matinês infantis é que surpreenderam neste ano no Três Marias. ?Os pais não têm onde levar as crianças e acham o clube uma boa opção?, disse.