No mundo de hoje, em que o individualismo e o consumismo se tornam cada vez mais fortes, ainda existem jovens que abrem mão de tudo para se tornar freiras. Elas saem da casa dos pais e, ao contrário de outras moças da mesma idade, deixam de sonhar com namorados, sucesso profissional e coisas que o dinheiro pode comprar para se colocar à disposição da Igreja Católica e servir a Deus. Tornam-se noviças, para em breve fazer votos de obediência, pobreza e castidade.

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O último censo realizado pela Igreja Católica, em 2008, revela que o número de religiosas no Brasil vem diminuindo ao longo dos anos. Entre 2000 e 2008, a redução foi de 6,71%. Porém, segundo a assessora de formação inicial da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), irmã Terezinha Boscheco, que vive em Curitiba e pertence à congregação Ursulinas do Coração de Jesus Agonizante, ao mesmo tempo que a quantidade de freiras é menor, a qualidade vocacional das mesmas é bem maior.

“São duas as causas da redução do número de irmãs: as famílias terem diminuído o número de filhos e o maior interesse das pessoas em gozar a vida no sentido do ter e do prazer. Apesar disso, a qualidade das religiosas tem melhorado bastante ao longo dos últimos anos. Hoje, quem opta pela vida consagrada opta de verdade e se dedica inteiramente à mesma”, afirma Terezinha, que fez os votos há 27 anos.

Noviças

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Na Rua Emiliano Perneta, em meio ao centro de Curitiba, encontra-se a congregação das Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria. Com um amplo jardim e uma capela, o lugar é dotado de silêncio e tranquilidade que contrastam com a agitação e a correria verificadas no ambiente exterior. No local, convivem dezenas de moças que se preparam para os votos religiosos. Elas se mostram felizes com a vida de simplicidade que levam e certas das escolhas que vêm realizando. Todas dizem ter sentido o chamado de Deus em algum momento da vida, afirmam que o mesmo é bastante forte, mas difícil de ser explicado com palavras.

Um exemplo é a noviça Joana Aguiar, de 23 anos, que nasceu em Luziânia (GO), foi aspirante em Brasília (DF) e dá continuidade à sua preparação religiosa na capital paranaense. Bastante comunicativa, ela conciliava estudos e trabalho em um banco antes de entrar para a congregação religiosa. Conta que era feliz com a vida que levava, mas que sentia falta de alguma coisa que não sabia o que era.
“Eu rezava muito e pedia a Deus que sempre me mostrasse o caminho a seguir. Aos 16 anos, senti que Ele me chamava e procurei uma congregação religiosa, quando comecei a ser acompanhada pelas irmãs. O trabalho e os estudos me faziam feliz, mas não me preenchiam totalmente. Hoje, tenho certeza que estou no caminho certo. Ao fazer os votos, quero ser uma religiosa autêntica e levar Jesus a quem mais precisa”, comenta.

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Na família de Joana, ela é a única de três irmãos a optar pela vida consagrada. O mesmo acontece com a noviça Jéssica Tives, de 19 anos, que também faz parte da congregação das Irmãs Franciscanas. Originária de Santa Catarina, ela conta que sempre quis ser freira e que teve certeza de sua escolha aos 11 anos de idade. “Fui buscar um primo em um colégio religioso e uma irmã me deu um sorriso. Naquele momento, senti o chamado e tive, dentro de mim, a certeza do que queria. Foi um momento de grande emoção”, revela. “Comuniquei a decisão a meus pais e, no início, senti um pouco de resistência por parte de meu pai. Também fui questionada por primos e amigos. Porém, depois aceitaram e ficaram bastante felizes, pois sabiam que eu me sentia feliz”.

Histórias de resistências familiares costumam ser comuns entre as noviças. Assim como Jéssica, muitas delas contam que tiveram sua vocação questionada por fami,liares e amigos. Entretanto, as dificuldades também não costumam impedi-las de seguir em frente e buscar a vida que desejam. É o caso de Fernanda da Silva, de 19 anos, que nasceu no município de Assaí e tem apenas um irmão, gêmeo. “Desde criança, eu via as irmãs de minha cidade trabalhando e queria seguir o mesmo caminho. Aos 16 anos, comecei a ser acompanhada por elas e, no início, meus pais não aceitaram. Minha mãe ficava chateada principalmente pelo fato de que eu iria ficar longe dela. Depois de um tempo, todos acabaram aceitando e compreendendo. Tenho certeza de que quero seguir a vida consagrada e vou me colocar à disposição de Deus”.

Três etapas para se formar

As moças que decidem seguir a carreira religiosa geralmente procuram uma congregação e passam a acompanhar a rotina da mesma. Se decidem entrar para a entidade, o que geralmente acontece a partir dos quinze anos de idade, passam, segundo a irmã Terezinha Boscheco, por três etapas de formação, deixando suas casas e passando a viver em comunidade com irmãs.

A primeira etapa de formação é denominada aspirantado e proporciona o conhecimento inicial da jovem em relação à congregação escolhida e vice-versa. “Esta fase tem duração variável, conforme as características e a escolaridade da moça que quer se tornar religiosa. A vocação é algo bastante pessoal”, diz irmã Terezinha.

A segunda etapa, com duração mínima de meio ano, é a do postulantado. Nela, as jovens recebem conhecimentos mais aprofundados sobre a espiritualidade da congregação. Já a terceira fase é o noviciado, que dura de um a dois anos e na qual às moças, que passam a ser chamadas noviças, não podem realizar estudos e trabalhos fora da congregação. “O noviciado é uma etapa muito especial de experiência de Deus”.

Concluído o noviciado, os votos são realizados na casa religiosa, na paróquia onde se encontra a casa da congregação ou na paróquia
de origem da noviça, que se torna então junhorista. Na fase chamada de junhorato, a religiosa deve renovar seus votos um ano após
tê-los feito pela primeira vezes, depois por mais dois anos e por mais outros dois anos. Após este período total de cinco anos, obtém a profissão religiosa perpétua.

“A vida consagrada é uma vida de oração, em comunidade (com a família religiosa) e de missão, que é transmitir uma experiência de Deus através de gestos e palavras. Junto com isso, vem o serviço, que pode ser realizado em locais como hospitais, pastorais, creches e escolas”. (CV)