Está preso o empresário Cleber Onésio Alves Salazar, denunciado pelo Fantástico, da Rede Globo, como o responsável por fraudes em postos de combustíveis. Sua prisão foi decretada no final da tarde de ontem e, pouco depois, ele se apresentou ao Ministério Público. Porém, polícia e órgãos de fiscalização vão ter dificuldade de encontrar provas que o incriminem, se depender da operação feita ontem, que lacrou oito bombas de dois postos, mas por outros motivos.
O pedido de prisão foi feito pela Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, do MP, que investiga o caso com a Delegacia de Crimes contra a Economia e Proteção ao Consumidor (Delcon). Salazar pode responder por estelionato, formação de quadrilha e sonegação fiscal, entre outros crimes. Ele foi ouvido e levado ao Centro de Triagem II, em Piraquara.
Dois postos de Curitiba foram fiscalizados na tarde de ontem, por equipes da Delcon e do Instituto de Pesos e Medidas do Paraná (Ipem-PR), vinculado ao Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). No entanto, os órgãos de fiscalização podem ter chegado tarde. Vizinhos de ambos os postos afirmaram ter visto movimentação estranha nos estabelecimentos durante as últimas noites, o que sugere que os indícios das fraudes podem ter sido apagados.
Dificuldade
A fraude era feita nas placas eletrônicas que registram a passagem do combustível nas bombas. O delegado-titular da Delcon, Jairo Estorílio, admitiu que Salazar teria tido tempo suficiente para desativar as placas irregulares. Ele afirmou que a delegacia recebeu uma denúncia de fraude parecida no ano passado, referente a um posto na Cidade Industrial, mas as irregularidades não foram comprovadas.
O presidente do Ipem-PR, Rubico Camargo, ressaltou que o órgão também deve ter dificuldades em comprovar a fraude, por os equipamentos serem sofisticadas demais. “Ainda não conhecemos muito bem essa tecnologia, por isso teremos que fazer uma análise do software dessas placas”, explica. Uma das placas apreendidas será enviada para avaliação do Inmetro no Rio de Janeiro.
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Diz que tem contatos na fiscalização
Ana Carolina Bendlin
A mesma reportagem do Fantástico que mostrou como funcionava a fraude nos postos de combustíveis registrou Cleber Onésio Alves Salazar afirmar ter “contatos na fiscalização”, dando a entender que tinha informações privilegiadas sobre essas ações. No entanto, o delegado Jairo Estorilio não acredita nessa possibilidade.
“Pode ser que ele tivesse algum contato isolado, mas não acredito que ele conhecia pelo menos uma pessoa em cada um dos oito órgãos que fiscalizam postos de combustíveis, principalmente porque eles não atuam de forma conjunta. Se tivesse esses contatos, ele não precisaria dos controles que acionava as placas nas bombas”, explicou. Para ele, a afirmação de Salazar sevia para ele ganhar confiança dos donos dos postos. “Ele também mentiu quando disse que era uma placa por bico, mas na verdade é uma por bomba”.
Sócios
Além de Salazar, são investigados o sócio dele na empresa Power Bombas Manutenção e Instalação Ltda., Antônio Guebur, e um funcionário credenciado para executar a manutenção, Altair de Lima. A empresa tem contrato social datado de janeiro do ano passado e estava em situação regular no ca,dastro do Instituto de Pesos e Medidas do Estado do Paraná (Ipem-PR). Mesmo antes de as denúncias serem comprovadas, a atividade da empresa foi suspensa por dois meses.
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Empresa atendia 40 postos
Ana Carolina Bendlin e Giselle Ulbrich
Os dois postos fiscalizados ontem – Varela e DB, na Rua Fagundes Varela, Jardim Social, e na Rua José de Oliveira Franco, Bairro Alto – não eram os mesmos mostrados no Fantástico. De acordo com o Ipem, eles faziam parte de uma lista de 40 postos atendidos por Salazar e foram escolhidos por terem solicitado a troca da empresa de manutenção nas bombas. Oito bombas foram interditadas devido a pequenos erros de medição, vazamento e rompimento de lacre sem autorização. Com base nas denúncias, o Ipem apenas determinou que todos os postos da lista não poderão mais fazer abertura dos lacres para manutenção sem autorização prévia, mas não divulgou o nome dos outros estabelecimentos. A fiscalização deve abranger outros postos e outras empresas de manutenção.
Denúncia
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis (Sindicombustíveis), Roberto Fregonese, disse ontem que, no início do ano passado, já havia feito a denúncia sobre irregularidades em postos de combustíveis ao governador Beto Richa e aos secretários da Segurança Pública, Reinaldo de Almeida Cesar, e da Fazenda, Luiz Carlos Hauly. Em nota oficial na Agência de Notícias Estadual, o governador negou que já tivesse recebido denúncia e determinou apuração rigorosa da fraude na venda de combustíveis em postos do Paraná. Segundo ele, o Instituto de Pesos e Medidas (Ipem) e as duas secretarias vão investigar a atuação de pessoas e empresas que agem contra os direitos do consumidor.
O Paraná Online teve acesso ao dossiê feito por Fregonese, que trata apenas sobre irregularidades fiscais.
Apreensão
A Delegacia de Estelionatos e Desvios de Cargas fez buscas na residência e na empresa de Cléber, ambas no Bairro Alto. Na empresa, foram recolhidos dois computadores. A esposa de Cléber e um gerente de posto prestaram depoimentos. “No decorrer do inquérito, pode ser que a comparação das declarações deles com de outros envolvidos possa revelar algo importante”, analisou o delegado Cassiano Aufiero.
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