Quando soube que teria que fazer transplante de um rim, depois de oito anos em tratamento contra a insuficiência renal, a fotógrafa Tereza Priscila do Rosário Matos, 51, não imaginou que encontraria seu doador tão rápido e tão perto. Seu marido, Ravilson José Matos, 46, não hesitou em fazer a doação.
Priscila descobriu a doença depois de sofrer por anos com dores nas costas. “Achava que era a coluna ou porque tinha feito cesárea, mas nem sei por que doía, já que o médico falou que os rins não doem. Uma vez senti muita dor e fui para o hospital. Lá eles fizeram o exame de sangue, que mostrou a insuficiência renal. Tive sorte de descobrir cedo”, lembra.
Após o diagnóstico, ela tentou por anos controlar os níveis de creatinina no sangue, mas a indicação para transplante ou hemodiálise foi inevitável.
Primeiro
Imediatamente, Priscila fez a relação de prováveis doadores, entre familiares e amigos. O primeiro a fazer o teste de compatibilidade foi Ravilson, que logo foi considerado apto para a doação. “Às vezes, nem irmão tem 75% de compatibilidade”, comenta ele. Toda a preparação para o transplante durou seis meses, entre exames físicos e o acompanhamento do processo pelo Ministério Público, que gerencia a doação de órgãos entre pessoas vivas e exige série de documentos.
Certeza no coração
“Fiz a minha parte. Desde o primeiro momento tinha certeza que seria compatível com ela. Tem coisas que a medicina não explica e as coisas não acontecem por acaso. Não tive medo de nada. Tudo aconteceu como tinha que acontecer”, diz Ravilson. A confiança do casal influenciou a recuperação dos dois.
Priscila deixou o hospital uma semana depois do transplante e seu marido após apenas três dias. Quarenta dias após a cirurgia, ela conta que o pós-operatório está um sucesso. “Me cuido sempre e não vou voltar pro hospital”, garante ela, que não aparenta ter passado por procedimento de tamanha complexidade há pouco tempo.
Entre vivos
De acordo com a Central Estadual de Transplantes, no ano passado, dos 422 transplantes realizados, 29 foram entre casais, sendo a doação de rim a mais comum. Em média, são realizados entre 150 e 200 transplantes entre pessoas vivas por ano.
“O ideal é não existir doação entre vivos, mas que a doação que vem de cadáveres cobrisse toda a necessidade no estado”, avalia a diretora da Central Estadual de Transplantes, Arlene Badoch.
Para Arlene, a sensibilização das famílias para a doação de órgãos já representou melhora no número de transplantes. Em média, 40% das famílias, quando consultadas, não autorizam a doação dos órgãos de seus parentes mortos. “Ainda temos mais alguns bons anos de trabalho”, diz.
Campanha verde
Arlene explique que é preciso mudança cultural, por isso são feitas campanhas como o Setembro Verde. Neste mês, a Central Estadual de Transplantes do Paraná promove diversas ações para promover o debate sobre a doação de órgãos. Além disso, monumentos como o Jardim Botânico e outros pontos turísticos de Curitiba estarão iluminados de verde. “Não precisa registrar nenhum documento sobre a intenção de doar os órgãos. Quem decide é a família e ela só toma a decisão se estiver ciente do desejo de quem faleceu”, reforça Arlene.