Fazer a diferença para o salvamento de pessoas com vida em risco é o combustível de todos os socorristas. Trabalhando em regime de 24 horas por 48 horas de descanso, eles chegam antes das 8h, e só deixam o serviço depois de passar para o sistema as informações de cada atendimento no Registro Geral de Ocorrência (RGO), e no Relatório de Atendimento do Socorrista (RAS), sobre condições vitais das vítimas.

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Mesmo faltando meia hora para encerrar o plantão, se a equipe for acionada, cumpre todo o atendimento, que inclui a limpeza (a base de peresal e álcool 70º) e reposição de materiais após o transporte das vítimas.

Grave

Na terça-feira passada, enquanto a equipe da ambulância 10886 registrava uma manhã tranquila, com apenas três atendimentos de vítimas leves, quem estava de serviço na madrugada, precisou atender um grave acidente de trânsito no Contorno Norte, envolvendo um Peugeot e uma caminhonete Hilux.

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Equipes do quartel de Santa Felicidade e do Pilarzinho foram mobilizadas. O socorrista Rafael Rodrigues Alves de Cristo Leite, 34 anos, do quartel do Bairro Alto, estava escalado para a unidade de Santa Felicidade e ajudou no atendimento do que “era somente situação de colisão com uma vítima ferida”.

Na chegada, como muitas vezes ocorre, a situação era muito mais grave. “O menino que estava no banco de trás ficou prensado entre o banco de um dos carros e o porta-malas do outro, já quase sem sinais vitais”, recorda. Feito o resgate, com apoio de outros veículos, o garoto de 15 anos foi levado pela ambulância do socorrista Leite. “Ele estava quase sem vida, teve uma parada cardíaca dentro do veículo e recuperamos massagem cardíaca e oxigenação. Entregamos no hospital, mas a confirmação da morte só soube no outro plantão”, conta.

Juliana ajudou ferido por bala de borracha. Foto: Gerson Klaina.
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Histórias reunidas em livro

O governo estadual vai lançar até o fim do ano, um livro sobre os 25 atendimentos do Siate que mais comoveram a opinião pública. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) está recolhendo depoimento dos socorristas e das vítimas. A sargento Juliana Colares, 35 anos, da Coordenação Estadual do Siate, atendeu um dos feridos no confronto de torcedores do Coritiba na final do Brasileirão de 2009.

Juliana tinha um ano de experiência como socorrista, quando a ambulância em que ela estava foi acionada para atender um torcedor baleado, que estava em frente à saída principal. “Ainda havia muitas pessoas fora do estádio e pedindo socorro, mas a prioridade era a vítima por arma de fogo”, conta.
Susto

Ela lembra que pensou que ser algo de menor gravidade, pois no caminho foi informada que o rapaz tinha sido atingido por bala de borracha. “Ele estava com a cabeça enrolada na camiseta e amparado por um parente, mas ao retiramos o pano, vimos que havia massa encefálica exposta”, conta.
Juliana encerrou o serviço naquele dia pensando que a vítima não sobreviveria. “Ele tinha a mesma idade do meu irmão, 19 anos, e poderia perder a vida por conta de um jogo”, comenta. O ferido sobreviveu, mas ficou com sequelas. “Ele ficou 20 dias em estado vegetativo”, celebra.

Por conta do livro, há um mês, Juliana encontrou a vítima, Anderson Moura, que também prepara outro livro para contar sua experiência de superação. “Também vou ter uma participação no livro dele”.

“Eu rezo e choro”

Para o socorrista Leite, o segredo para administrar a frustração quando a vítima não sobrevive é fazer tudo que é possível durante o atendimento. “Perder alguém na minha mão &eac,ute; sempre algo que faz da viagem de retorno ao quartel muito dolorida. Por vezes rezo e choro, só que sou movido pela adrenalina e pelo riso. Recupero rapidamente o meu humor, embora não consiga esquecer”, explica. “Viajar para ver meus pais em minha namorada e Ribeira, nas 48 horas de folga, também ajuda a me renovar. Até porque foi na minha família e na minha cidade que aprendi o espírito de servir ao outro. Lá todo mundo se ajuda”.