O jornalista, escritor e ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Paraná, João Féder, morreu na madrugada de ontem, aos 83 anos. No final da tarde o seu corpo foi sepultado no Cemitério Parque Iguaçu. Nascido em Campo Largo e bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná, Féder foi também professor dos cursos de comunicação social das universidades Federal do Paraná e Católica, por 30 anos. Foi conselheiro do Tribunal de Contas até se aposentar e presidente da instituição em 1969 e no começo dos anos 80. Ele ainda escreveu dez livros, foi cidadão honorário de Carrolton (Texas), nos Estados Unidos, e diretor, além da Tribuna, das emissoras de televisão Iguaçu e Tibagi.
Féder gostava de dizer que se considerava um dinossauro da imprensa paranaense. Se ele foi dinossauro, foi da espécie Tribunossauro Rex. Foi o mentor da Tribuna do Paraná, jornal que fundou no dia 17 de outubro de 1956, para se dedicar exclusivamente ao leitor da capital paranaense, com enfoque mais acentuado em assuntos esportivos e populares. Féder criou um lema para o jornal que virou bordão e repetia até a exaustão: “Para a Tribuna do Paraná, mais vale um sapo morto na Praça Tiradentes do que um soldado derrubado na Guerra da Coreia.”
Crônicas diárias
Féder foi advogado, mas nunca negou a sua veia jornalística. Tanto que ao se aposentar no TCE, voltou para a redação do jornal O Estado do Paraná, onde tinha pequena sala e escrevia crônicas diárias. “Batalhei juridicamente por mais de 15 anos. Profissão árdua, cansativa e nem sempre bem compreendida. Predominava, contudo, em mim a veia jornalista”, disse. Uma “veia” que começou a pulsar ainda na juventude em Campo Largo, com as matérias que fazia para O Dia, de Curitiba. “Os jornais chegavam de ônibus em certo horário e eram disputados pelos leitores. Talvez testemunhando este fato eu tenha voltado para a imprensa”, declarou.
Tribunascope vira maior sucesso
Arquivo |
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Embaixador do cinema americano no Brasil. |
Depois que criou a Tribuna, e por conta de suas incursões por São Paulo e Rio de Janeiro, João Féder estabeleceu amizade com Harry Stone, conhecido como embaixador do cinema americano no Brasil. Stone foi por 40 anos diretor e vice-presidente da Motion Picture Association (MPA) e teve seus primeiros contatos com brasileiros na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. O americano ainda se destacou por trazer ao Brasil estrelas de Hollywood como Kirk Douglas, Rita Hayworth e Ava Gardner, no auge da fama. Um dia Féder disse para Stone: “Estou pensando em fazer em Curitiba o Tribunascope.” O americano perguntou: “Que bicho é esse?” Féder explicou que era uma espécie de Oscar paranaense. “Um júri selecionado e designado por mim escolhia os melhores filmes de todos os que foram exibidos em Curitiba durante o ano”, contou.
Ele fez parceria com Ismail Macedo, gerente do Cine Ópera, e contou para Stone que estava tudo arrumado. E recebeu a resposta: “Aguarde então para eu lhe confirmar a data possível em que teremos os artistas no Brasil.” E foi assim que atrizes e atores americanos, como Tony Curtis, Janet Leigh e Karl Malden, desembarcaram em Curitiba para ganhar o Oscar chamado Cinemascope, confeccionado na Joalheria Karan, numa solenidade no Cine Vitória, apresentada por Rafael Iatauro. O Tribunascope durou nove anos. “O cinema que era o maior da cidade ficou lotadinho e tudo foi o maior sucesso. Eu sinto enorme saudade de tudo isso”, comentou, há alguns anos.
Profissão
Por tudo isso, João Féder tinha carinho todo especial com a profissão que mais, amava: “A imprensa me trouxe não somente sustento como me fez encontrar grandes e belas amizades.” A frase de sua página na internet, no dia de ontem, tinha a seguinte frase de São Jerônimo: “Vivei como se cada dia tivésseis de morrer, estudai como se eternamente tivésseis de viver.”
Sonho de ser diplomata
Mas sua vocação foi alimentada também pela leitura, hábito que adquiriu bem jovem. “Na verdade sempre gostei de ler, começando com Gibi (que naquele tempo era o título de uma revista), Globo Juvenil, O Fantasma, Príncipe Submarino, Super Homem e Tarzan, os heróis da minha juventude. Posteriormente, surgiram os mais modernos Batman, Capitão Marvel e sei lá mais quantos”, contou. No entanto, antes de a “veia jornalística” o arrastar para as redações, ainda sonhou fazer carreira diplomática. Por razão muito marota: “Eu queria conhecer o mundo. Não deu certo, mas deu.”
Pode parecer contraditório, mas foi por esta mesma razão que acabou de vez seduzido pelo jornalismo: “Eu ingressei no jornalismo como cronista esportivo de futebol. E a partir daí tive oportunidade de conhecer vários lugares no Brasil e no mundo”, relatou. Ou seja, o que mais esperava na carreira diplomática, encontrou no jornalismo.
Esportes
E assim ficou na imprensa, mas transitou por outros setores. Seus primeiros passos na imprensa foram no Paraná Esportivo. Depois assumiu a área esportiva de A Tarde, onde tinha a coluna Bola ao Centro. Algum tempo depois estava no comando da sucursal de A Gazeta Esportiva. Foi aí que teve a ideia de fazer em Curitiba uma versão paranaense da famosa Corrida de São Silvestre. O melhor atleta paranaense ele levava para correr na versão nacional em São Paulo, disputada todos os anos na noite de 31 de dezembro.