Florestas do Paraná pedem socorro

O desmatamento devastou grande parte das florestas do Paraná, tendo um ritmo acelerado entre os anos 1940 e 1980. De toda a cobertura original do Estado, sobraram atualmente apenas 2,9% de remanescentes florestais, segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema). As áreas estão concentradas essencialmente no litoral, na região Centro-Sul e no Parque Nacional do Iguaçu, no Oeste. Mas as florestas que ficaram de pé não estão salvas. A ação de criminosos continua, apesar do pouco que restou.

Originalmente, 85% do território do Paraná era coberto por florestas. De 1500 a 1940, foram desmatados 35% do território; de 1940 a 1960, 32%; de 1960 a 1980, 12%; e, de 1980 a 2000, 8% do território. A retirada de árvores está diretamente relacionada com a história do País. De maneira geral, o Brasil possuía florestas exuberantes, clima favorável e terras de boa qualidade. Por esses motivos, o agronegócio passou a ser lucrativo, e isso gerou as fronteiras agrícolas. Desmatar era necessário de tempos em tempos. A área onde a mata já havia sido retirada sofria com a perda de nutrientes, se tornando muito pobre para a atividade. "É muito caro recuperar um solo degradado. Acaba virando pasto para gado", afirma o professor Eduardo Gobbi, coordenador do curso de engenharia ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

"E o desmatamento continua, mas não no mesmo ritmo, até mesmo porque não sobrou muito. É só andar por aí para verificar. Há muitos casos na Região Metropolitana de Curitiba. O ser humano tem uma relação muito próxima com a extração. Não pensa que a natureza tem um limite de reposição", comenta. De acordo com Gobbi, o desmatamento que ocorre nos dias de hoje ainda está ligado com a economia, para o comércio de lenha e a venda de madeiras nobres.

As áreas mais ameaçadas, na opinião de Paulo Roberto Castella, engenheiro agrônomo da assessoria de secretário estadual de Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, são as de florestas estacionais no interior do Estado, nas regiões de Paranavaí, Maringá e Toledo. "Essas florestas estão extremamente em perigo. São áreas de solos férteis e há uma forte pressão para a agricultura e criação de gado", esclarece. Castella acredita que, apesar de ainda existir, o desmatamento teve seu ritmo reduzido nos últimos anos.

O desmatamento desacelerou por causa do monitoramento sobre os remanescentes florestais e da crescente fiscalização, segundo o secretário de Estado do Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida. "Mas ainda há casos isolados. Os criminosos deixam uma cortina de árvores e no meio está tudo desmatado. Somente se consegue enxergar com aeronaves", enfatiza.

O presidente do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Rasca Rodrigues, revela que a fiscalização, com o programa Força Verde, têm aumentado consideravelmente. O número de laudos de autuação cresceu 110% em dois anos. "Os aviões trabalham de forma intensiva, ajudando o pessoal em terra. Houve maior efetividade no trabalho", afirma.

Dentre o remanescente de 2,9% da cobertura vegetal original do Estado, estão as Araucárias, árvores símbolos do Estado que estão em extinção. Dados de 2000 indicam que sobrou somente 0,8% do que existia dessa espécie no Paraná. "Depois de cinco anos, corremos o risco de ter menos araucárias", alerta Castella. 

Lucro de uns, necessidade de outros

De nada adianta proibir a retirada de árvores se não há alternativas de renda para a população que precisa da floresta para sobreviver, segundo o professor Eduardo Gobbi, da UFPR. Contribui para essa situação o fato da floresta em pé não ser valorizada. "A bromélia, a orquídea, o musgo são produtos não madeiráveis e de uso sustentável que geram renda. Se não tem emprego, a pessoa vai explorar", afirma.

Para Luiz Eduardo Cheida, secretário de Estado do Meio Ambiente, o desmatamento não se trata mais de falta de consciência. O cidadão desmata porque é mais interessante para ele, até mesmo se tiver que pagar multa. "Por isso tenho duas propostas: que esse crime seja inafiançável e que a pessoa perca a posse da terra", comenta. Cheida conta que existem quadrilhas, relacionadas com o crime organizado, por trás do desmatamento.

O secretário frisa que a legislação ambiental é rígida em alguns pontos, mas não evita que o homem continue cortando árvores em massa. "70% das propriedades rurais do Paraná são de pequeno porte. Cada uma gera R$ 800 por mês. Imagine falar para esse proprietário que ele deve deixar uma área para a reserva legal. É preciso se tornar claro que preservar dá lucro, mas tem que fazer isso acontecer. Não tem ecologia para um homem com fome", conta Cheida.

Barragens

Há uma outra modalidade de extinção de florestas que a população não reconhece: a construção de usinas hidrelétricas. A formação de reservatórios deixam milhares de hectares de florestas embaixo d’água. "Uma única barragem acaba com 4 mil hectares de floresta. São 4 milhões e 900 mil árvores de grande porte dentro da barragem", aponta Tom Grando, coordenador institucional da Ong Liga Ambiental. (JC)

Discussão das ações de preservação

A preservação das poucas florestas que resistem, passa por uma discussão mais profunda e pela consciência de que a natureza deve ser algo integrado nas nossas vidas, na avaliação do professor Eduardo Gobbi, da UFPR. "Esse é um trabalho de longo prazo. Um debate de alto nível, junto com entidades e organizações ambientais, pode dar origem a um modelo de preservação novo, pois o modelo atual não está funcionando", opina.

As Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN) e outros tipos de unidades de conservação também são alternativas para garantir florestas no Paraná daqui a alguns anos. O Estado conta com 300 RPPN, metade das existentes no Brasil, e há expectativa para que sejam criadas mais 300 em 2006. "Uma forma de se preservar é identificar os maiores e melhores remanescentes e transformá-los em parques", afirma Paulo Roberto Castella, engenheiro agrônomo da Secretaria de Estado de Meio Ambiente.

Neste ano, o governo federal propôs a criação de três unidades de conservação de Araucárias, totalizando 50 mil hectares, cobrindo 40% das árvores dessa espécie em extinção. A implantação só depende do governo para derrubar uma liminar conseguida pelos opositores do projeto na justiça. "Independente das derrubadas que aconteceram durante o estudo da proposta, como ocorreu em uma área grande em Palmas, os projetos originais são mantidos", relata Castella.

O coordenador institucional da organização não-governamental (Ong) Liga Ambiental, Tom Grando, acredita que a saída é fazer valer os instrumentos de gestão ambiental. "Há planejamento, mas falta vontade política em realizá-los", defende. Para ele, o destino do Paraná é se tornar um Estado de plantações de soja, pecuária e monocultura de espécies florestais. (JC)

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