Declarada como pandemia em 25 de abril, passando pelo pico de casos graves e mortes registrado nos meses de julho e agosto, a gripe A (H1N1) tende a tranquilizar as autoridades em saúde do Brasil com o fim do inverno.

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A previsão é que com a mudança de estação, e o aumento da temperatura, reduza o número de novos casos, apesar de a circulação do vírus não desaparecer.

Agora, analistas concordam que a hora é de observar o comportamento da doença no hemisfério norte, que começa a entrar no outono, para ver o que é possível aprender e aplicar no próximo ano por aqui, quando a chamada “segunda onda” deve aparecer.

A vacina poderá não ser a solução do problema, mas é lembrada como fator que pode ajudar no enfrentamento da doença em 2010, embora o número de doses previstas para o Brasil seja limitado.

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“As 18 milhões de doses vão dar para cerca de 10% da população brasileira. Os adultos jovens devem ficar de fora mais uma vez, pois provavelmente gestantes e profissionais da saúde terão preferência”, prevê o presidente da Sociedade Paranaense de Infectologia, Alceu Pacheco.

Na semana passada, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, em meio às mais variadas críticas por seu posicionamento frente à doença, anunciou que o combate à nova gripe será uma das prioridades do governo federal no ano que vem.

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Na avaliação do presidente da Sociedade Paranaense de Infectologia, duas situações ficaram mal resolvidas pelo governo brasileiro durante esta primeira onda da doença: a distribuição do antiviral Tamiflu e o reconhecimento da circulação sustentada do vírus. “Parecia ser orgulho nacional dizer que a gripe não tinha entrado ainda no Brasil”, critica.

Pelo protocolo do Ministério da Saúde, seguindo orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o medicamento deveria ser receitado apenas para pessoas pertencentes a grupos de risco.

No entanto, para o infectologista, o protocolo adotado mundialmente serve apenas para a gripe sazonal. “Esse protocolo não serve para a gripe pandêmica, visto que a maioria absoluta de mortes é de adultos jovens, e não de crianças e idosos”, lembra.

Paraná avalia que realizou o “dever de casa”

O Paraná vai preparar seu plano de contingência para a próxima situação necessária no combate à gripe suína com base nos dados deste inverno, e com a atual atenção ao comportamento do vírus do hemisfério norte.

“Agora já sabemos todos os caminhos que teremos que trilhar para dar atendimento e vamos ter que trabalhar com projeção de cenários (maior ou menor virulência do vírus) para elaborar um plano de contingência em cima disso”, afirma o secretário de Estado da Saúde, Gilberto Martin.

Para o secretário, o Paraná deu o enfrentamento necessário nesta primeira fase da gripe. “As decisões foram tomadas no sufoco, de uma semana para outra, mas a saúde pública do Paraná conseguiu, em um primeiro momento, fazer o que chamamos de trabalho de bloqueio, retardando em pelo menos 30 dias a circulação sustentada (dentro do Estado) do vírus. Com isso ganhamos praticamente metade do inverno”, diz.

Já na fase de circulação do H1N1, o secretário destaca a assistência da saúde para absorver a demanda. “Principalmente em julho tivemos momentos de grande concentração de pessoas procurando atendimento. Apesar desse atropelo, todo mundo foi atendido. Conseguimos garantir estrutura de internamento aos pacientes, sem fila de espera”, avalia.

O Laboratório Central do Paraná (Lacen-PR), que a partir de meados de julho começou a fazer os exames da nova gripe, também é destacado pelo secretário. “Na minha opinião, o Lacen teve uma eficiência maior que os outros três laboratórios que atendiam o resto do País, com diagnóstico muito preciso do comportamento da gripe”.

O secretário ressalta que é incorreto dizer que o Paraná é “campeão de mortes” pela gripe suína, porque outros estados ainda n&at,ilde;o terminaram de realizar seus exames.

“Pagamos um preço por fazer o dever de casa e ter tido competência para fazer o que precisava. Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro ainda estão anunciando óbitos de julho e nós temos dados atualizados de setembro”, compara.

“É como se fosse um sistema de apuração. Nós estamos com a apuração mais adiantada, não significa que o candidato que está na frente vai ganhar a eleição”, completa.(L.C)

Curitiba teme novos boatos na segunda onda

Mesmo com todas as lições aprendidas na prática com a chegada da gripe suína, muitas incertezas persistem. Não se sabe ao certo se o H1N1 vai voltar mais forte ou mais brando, ou se realmente vai esperar o nosso próximo inverno para voltar com maior número de casos.

O que se pode afirmar é que a nova gripe veio para ficar. E com ela devem persistir os cuidados básicos de higiene, de lavagem constante das mãos, de manter ambientes bem arejados e de ficar em repouso em caso de gripe.

“Passou a epidemia, mas o H1N1 continua. Os cuidados que a população incorporou nesse primeiro momento e que ajudou muito a controlar a epidemia de uma maneira rápida têm que se manter”, alerta o diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria da Saúde de Curitiba, Moacir Gerolomo.

Durante o pico da doença, Curitiba e região metropolitana foram locais em que a doença mais proliferou. Em meados de julho, os casos de gripe começaram a aumentar consideravelmente, o que se manteve por praticamente um mês.

Somente de 26 de julho a 1.º de agosto, 5.274 pacientes saíram com diagnóstico de gripe em Curitiba. “A gente conseguiu dar uma resposta imediata. Tínhamos, a princípio, dois postos de coleta de gripe na cidade, que logo se expandiu para os oito centros municipais de urgência”, exemplifica Gerolomo.

Tanto quanto a possibilidade de aumento da virulência do H1N1, preocupa a volta da disseminação de boatos infundados pela internet. “A única coisa que não queremos que volte, com a segunda onda, é o pavor causado com os e-mails”, afirma. (L.C)