As longas filas nos postos de saúde de Curitiba têm irritado os usuários. Muitos deles reclamam que perdem praticamente o dia inteiro para conseguir realizar uma consulta médica. Nas unidades 24 horas, a situação não é diferente. Alguns chegam a acampar no local, à espera do atendimento.
É o caso de Alberto Shutil de Oliveira, 23 anos. Usuário de drogas, ele conta que está desde a última sexta-feira na unidade de saúde 24 horas do Boa Vista, na expectativa de conseguir uma vaga para o encaminhamento à saúde mental. “Eu uso crack, mas quero largar”, conta Alberto, que tem dormido em um papelão, do lado de fora da unidade.
Michele de Oliveira, 21, também está à espera de uma vaga para internamento. “Há dez dias chego aqui às 7h da manhã e vou embora às 7h da noite. Eles falam que é para vir todos os dias, mas ninguém dá comida nem nada”, reclama. Michele conta que usa crack mas que quer se tratar para poder cuidar dos três filhos – um de quatro anos, outro de dois e o terceiro de apenas cinco meses.
“Falaram que eu vou ter que esperar quatro horas”, contou a dona de casa Luvilda Ferreira, 49, que também aguardava para ser atendida na unidade Boa Vista. “É sempre assim”, lamentou a dona de casa, que reclamava de dor na garganta. Segundo ela, exames que teriam de ser realizados em novembro ainda não foram feitos.
Campo Comprido
Na unidade 24 horas do Campo Comprido a situação não é diferente. “Hoje o atendimento até que foi rápido: esperei uma hora e meia. Em outras ocasiões já fiquei até quatro horas esperando”, revelou a dona de casa Maria Cristina Rodrigues, 32, que estava na unidade na última quarta-feira, acompanhando o filho Afonso, 7. “Ele tem rinite alérgica e, no mínimo de três em três meses, tenho que trazê-lo à unidade”, contou. Maria Cristina lembra que tinha plano de saúde até dois anos atrás, mas teve que se desfazer. “Em casa, somos em cinco pessoas. Ficou muito caro.” Para Maria Cristina, além da falta de médicos, outro problema que agrava a situação da unidade de saúde é o mau atendimento. “Os funcionários atendem muito mal, com má vontade”, reclamou.
Já a dona de casa Olíria Retzlaff Ferreira, 48, não tinha reclamações da unidade 24 horas. Segundo ela, no posto de saúde do Sabará -para onde vai, normalmente -a situação é muito pior. “Houve dias em que cheguei às 8h e só fui atendida às 11h. O problema é que muita gente acaba passando na nossa frente”, reclamou, referindo-se aos casos de emergência. Plano de saúde particular é inviável no momento, segundo ela. “Eu e meu esposo estamos desempregados. Às vezes, nem temos dinheiro para comprar o remédio que o médico receita.”
Secretaria culpa a demanda
De acordo com a superintendente da secretaria municipal de Saúde, Edimara Seegmuller, o tempo de espera no pronto atendimento das unidades de saúde 24 horas é em média de duas horas. “O tempo varia conforme a demanda. Pela manhã, por exemplo, a espera geralmente é menor do que uma hora. Já no final da tarde, a demanda aumenta”, informou, acrescentando que esse tempo de espera obedece ao padrão mundial. “É uma situação que está sob controle”. Já casos de urgência ou emergência, lembra, são imediatamente atendidos.
Sobre o número de médicos, Edimara diz que ele está aquém da procura, mas não apenas nas unidades de saúde. “Há necessidade de maior oferta de profissionais médicos em todo o sistema municipal. Tanto que vêm acontecendo concursos públicos.” Nas cinco unidades 24 horas de Curitiba, são 200 médicos atuando no momento, através de convênios com hospitais universitários. São quase 600 consultas médicas realizadas todos os dias, em cada uma das unidades.
Sobre a situação específica da unidade Boa Vista, a superintendente lembrou que a grande demanda se deve ao atendimento a moradores de outros municípios. “De 35% a 40% dos pacientes atendidos naquela unidade não são de Curitiba. Para nós, fica difícil trabalhar”, afirmou.
Quanto ao tempo de espera dos dois pacientes que querem se internar para a desintoxicação de drogas, Edimara afirmou que não há estrangulamento de vagas no internamento hospitalar em se tratando de álcool e drogas. “Pode ser que haja problemas psicóticos também e, nesse caso, realmente há uma procura maior. É preciso analisar os casos, mas que fique claro que é de nosso interesse prestar todo o atendimento a esses pacientes.”
