A diretoria da Fundação Estadual de Cidadania (FEC) recebeu ontem a reportagem de O Estado para responder às acusações de desvio de dinheiro e má administração do Consórcio Social da Juventude em Curitiba, um braço do projeto Primeiro Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os diretores frisaram que, apesar de alguns deles serem filiados ao PT, o deputado estadual petista Ângelo Vanhoni não teria nenhuma ligação com a ONG. Para o presidente da FEC, Edson Miguel Torquato Padilha, as acusações teriam sido oportunamente exageradas, tomando essa dimensão graças ?ao panorama político nacional?. Mas preferiu não citar ninguém que pudesse se beneficiar com as denúncias.
A FEC apresentou à reportagem a mesma documentação que teria mostrado às entidades executoras do programa como prestação de contas. Seis entidades protocolaram na última quarta-feira um documento na Delegacia Regional do Trabalho (DRT/PR), relatando a dificuldade financeira que se encontram em virtude da participação no programa, questionando a administração da FEC e a prestação de contas. O Tribunal de Contas da União (TCU) investiga todas as entidades envolvidas no consórcio há três semanas, e recomendou à Brasília uma devassa nos consórcios em todo o País e o corte imediato de envio de verbas ao programa na capital paranaense.
Ligações políticas
Maurício Chelli, assessor de gabinete de Vanhoni, foi coordenador de inserção da FEC entre janeiro de 2005 até o fim do consórcio, em julho, recebendo o salário de R$ 2.050,00. Durante esse período, afirma que não trabalhou para Vanhoni, retornando ao cargo apenas em agosto último. ?Mesmo porque, se tivesse dois cargos públicos, o MTE encerraria na hora o consórcio?, diz. Chelli conta que a FEC foi fundada em 1995, e o assessor, que é do PT, foi um dos fundadores. ?Ninguém criou nada da noite para o dia para desviar dinheiro.?
A informação de que o sobrinho de Vanhoni, Bruno Vanhoni, que é dirigente estudantil, foi consultor do Consórcio, é confirmada pela FEC. ?Ele recebeu um salário de R$ 460 por mês?, afirma Chelli. A reportagem tentou entrar em contato com o deputado, mas mais uma vez não obteve sucesso.
Sobre a acusação das executoras de que o presidente da FEC teria usado três números de CPF diferentes, Padilha se defende afirmando que tudo não passou de erro de digitação.
Valores
A FEC confirmou a informação do TCU de que recebeu do MTE R$ 1.938.523,50, e não R$ 1.458.523,50 que as executoras apontam em seu documento para a DRT. Desse total, Padilha explica que as executoras só teriam direito a receber o valor referente à contratação dos educadores, o que segundo a FEC, custou pouco mais de R$ 293 mil, para pagar 51 professores, inclusive 18 da educação básica, contratados pela própria fundação. ?Não sei de onde as executoras tiraram o valor de R$ 190 mil, e muito menos o cálculo de R$ 690 mil a que alegam ter direito?, diz Chelli.
Correção
Ao contrário do que foi publicado na edição de ontem, a Associação de Desenvolvimento Técnico e Administrativo para Indústria e Serviços (Sodetec), uma das executoras do consórcio, prestou sim conta, tanto à FEC quanto ao TCU, conforme prova documentação enviada à redação do jornal.
Ex-coordenador promete entregar todos diplomas
De acordo com a prestação de contas da FEC apresentada ao jornal, ao final do projeto, em julho, sobraram R$ 351,55 e mais R$ 105 mil do programa Bolsa Auxílio, que serão estornados ao MTE. Já em relação ao montante de R$ 226 mil destinados ao fornecimento de lanches, que chamou a atenção do TCU, o presidente da FEC, Edson Padilha, explica que se deve a 144 mil refeições ao custo de R$ 1,57, fornecidas pela empresa Café Curaçao, que ganhou uma licitação com outras quatro empresas.
Quanto à reclamação das executoras de que os jovens não receberam o Bolsa Auxílio, Padilha diz que ocorreu um atraso na liberação devido à burocracia do ministério, e que esses montantes não eram depositados para a FEC. Sobre a acusação de que não repassavam os vales-transporte aos jovens do programa, o presidente explica que as passagens eram dadas de acordo com a freqüência. Quanto mais faltas, menos créditos o estudante recebia.
O ex-coordenador de inserção do programa, Maurício Chelli, disse que os diplomas ainda não foram entregues a todos os jovens participantes do consórcio por falta de verba. Mas que todos irão receber. ?Esse consórcio nunca foi para ter lucro. Assim como as outras entidades, nós também tivemos que tirar dinheiro do bolso para cobrir despesas.? Lembrou que a entidade se comprometeu e que vai reformar o prédio da União Paranaense dos Estudantes, que usou como sede do programa.
Padilha diz que foi marcada uma reunião para segunda-feira com representantes de todas as entidades executoras para esclarecer todas as divergências. ?Ainda consideramos todas essas entidades nossas parceiras, que nos ajudaram a ultrapassar a meta de inserção no mercado de 30% dos jovens atendidos.? (DD)