Esperança e fé. Essas foram as principais mensagens nas celebrações do Dia de Finados. Em todos os cemitérios e nas igrejas, os mortos foram lembrados carinhosamente com missas, orações, flores e velas. Apesar da imensa tristeza de alguns e de muitas palavras de conforto, as pessoas procuravam realizar uma viagem interior, com muitas reflexões, e matar as saudades dos amigos e entes queridos.

O padre Reginaldo Manzotti, da Paróquia São José Operário, na Vila Maria Antonieta, em Pinhais, celebrou ontem uma missa em frente ao Cemitério Municipal do Água Verde, em Curitiba. Ele acredita que o Dia de Finados não é um momento de tristeza, mesmo estando intimamente ligado com a morte. As palavras difundidas por ele comunicavam que os falecidos não estão mortos. “O fim não é o cemitério. A morte é uma passagem para uma vida em plenitude. O Dia de Finados lembra a maior verdade de todas: Cristo está vivo. O dia é de esperança e fé”, afirma.

Manzotti explica que a tristeza é um sentimento natural dos seres humanos e muitos deles procuram viver um dia de luto. “Pedimos para as pessoas superarem e olharem para frente. Colocar flores e acender velas são manifestações de carinho”, comenta o padre, revelando que a vela significa que a luz perpétua brilhe para a pessoa que morreu.

A missa celebrada pelo padre contou com muita música e coreografias de panos brancos na multidão. “A música dá a alegria que não deixa a tristeza dominar a pessoa”, declara. Manzotti conta que mais de 25 mil pessoas compareceram ao local, segundo o Corpo de Bombeiros. Alguns espectadores vieram em quarenta ônibus de Santa Catarina e 126 caravanas da Região Metropolitana de Curitiba. Pelo volume de pessoas, provavelmente um outro local seja escolhido para a realização da missa no ano que vem. A celebração fez parte de um projeto do padre, chamado de “Evangelizar é Preciso”, no qual deseja despertar o Deus adormecido dentro de cada um.

Atividades amenizam sofrimento

A dor de perder alguém que se ama sempre ressurge no Dia de Finados. Para amenizar o sofrimento, o Cemitério Parque São Pedro, no Umbará, em Curitiba, realizou uma série de atividades terapêuticas com crianças e adultos. Os visitantes prestaram homenagens aos mortos da forma tradicional, com flores e velas, e também com outros tipos de lembranças.

O cemitério deixou à disposição de familiares e amigos placas de jardim no projeto “Dedique uma Flor”. Eles puderam preenchê-las com mensagens de saudades, amor, carinho e paz. Depois, colocaram as pequenas placas em um canteiro de flores que fica na entrada do lugar. A autônoma Rita Fernandes aproveitou a ida ao cemitério para deixar uma mensagem no jardim. Ela e a família vão todos os anos homenagear os parentes no Dia de Finados, mesmo com as visitas regulares que fazem durante o ano. “Estou deixando a plaquinha para concretizar o sentimento que temos. Eles sabem disso lá em cima, mas é uma forma de carinho. Para todos nós é uma data muito importante”, avalia.

As crianças também participaram de algumas atividades. Elas fizeram desenhos e pinturas para aqueles que gostariam de prestar a homenagem. Os trabalhos ficarão expostos na capela do cemitério durante todo o ano. Para o diretor de marketing do cemitério, Ronaldo Vanzo, as ações são importantes para minimizar o luto das pessoas quando chegam perto de onde entes queridos estão enterrados. A cerimônia “Dia de Finados em Memória” também foi realizada ontem no cemitério, pelo sexto ano seguido. As pessoas puderam cantar, refletir, rezar e pedir paz com a revoada de 300 pombos-correio no final da celebração.

A dona de casa Dalaira dos Santos visitou junto com os filhos o túmulo de seu marido no Cemitério Parque São Pedro. “Venho para matar um pouco as saudades. Deixo flores e velas em homenagem ao meu marido”, afirma. Já o caseiro José Vicente aproveita a proximidade de sua casa com o cemitério para rezar no Dia de Finados. “Venho sempre, mesmo sem ter uma pessoa sepultada aqui. Venho para rezar e assistir a missa. Depois, visito o túmulo da minha sogra no Cemitério da Santa Cândida”, conta.

Uma celebração especial também foi realizada no Crematório Vaticano, em Campina Grande do Sul, Região Metropolitana de Curitiba. O encontro teve música, cantos, distribuição de lembranças e revoada de 100 pombos. Este é o mesmo ritual feito quando uma pessoa é cremada no local. A decoração conta com um teto pintado com nuvens, um sol e pequenas lâmpadas simbolizando as estrelas. (JC)

Movimento surpreende Prefeitura

O movimento nos cemitérios no Dia de Finados surpreendeu a Prefeitura Municipal de Curitiba, que controla quatro cemitérios na cidade. Não há dados quantitativos, mas foi possível constatar a superação das expectativas apenas com a observação. O chefe da Divisão de Cemitérios, Ilderaldo Adamovicz, explica que a primeira indicação de grande movimento apareceu logo no começo da manhã de ontem.

“Foi acima das expectativas, o que também aconteceu no sábado e no domingo. Normalmente, o movimento intenso ocorre pela manhã e pela tarde, parando no período do almoço”, comenta. A surpresa ocorreu porque o número de visitações no Dia de Finados está caindo a cada ano que passa. Muitos vão aos cemitérios nos dias anteriores ou nos seguintes do feriado para fugir da agitação e dos preços altos das flores. Adamovicz também espera um grande movimento no próximo final de semana.

Por serem os cemitérios mais antigos, o São Francisco de Paula (conhecido como Municipal) e o Água Verde abrigam túmulos de pessoas conhecidas, como Poty Lazzarotto, Paulo Leminski, Maria Bueno e Maria Polenta. Mas, de acordo com ele, as visitas nesses jazigos não estão sendo priorizadas. “A maioria vem mesmo para homenagear parentes e amigos. Além disso, no Cemitério do Água Verde, as pessoas acendem velas na Cruz das Almas, localizada no fim do cemitério”, afirma Adamovicz.

Ele observou o movimento em várias regiões da cidade e concluiu que o número de pessoas foi grande nos cemitérios municipais e também nos particulares. “Apesar da movimentação, não ocorreram transtornos. Está sendo bem tranqüilo quanto a isso”, opina. Somente o acesso ao Cemitério do Água Verde ficou prejudicado pela manhã em virtude da missa realizada em frente a entrada do local, que reuniu mais de 25 mil pessoas. As ruas próximas foram bloqueadas durante a celebração.

Vendas

As floriculturas instaladas nos cemitérios e nos arredores estavam lotadas de compradores. Mas o grande movimento não animou os vendedores. Antônio Paisani Lopes conta que as vendas estavam boas, mas não superaram as do ano passado. O vaso de crisântemo foi o mais vendido. Custava entre R$ 5 e R$ 7.

A proprietária da floricultura Pequena Flor, Ana Maria Choinski, explica que as vendas no Dia de Finados não são melhores devido à ação dos supermercados. De acordo com ela, eles conseguem preços mais baixos por negociarem diretamente com o produtor, o que prejudica a competição. Com isso, muitos visitantes estão optando por comprar as flores antes de chegar nos cemitérios. “Espero que o movimento seja pelo menos igual ao do ano passado”, argumenta. (JC)

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