Os acidentes de trabalho estão relacionados em mais de 80% dos casos ao fator emocional. A afirmação é do psicólogo do trabalho Carlos Eduardo Baptista, que participou ontem da segunda edição do Congresso Nacional de Fisioterapia do Trabalho (Fisiotrab), realizada em Curitiba. Segundo ele, os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (dort) podem, muitas vezes, configurar uma conseqüência da pressão no trabalho, estresse ou mesmo assédio moral.
“O assédio moral pode ocorrer de chefe para funcionário, de funcionário para chefe ou entre pares”, explica o psicólogo, referindo-se à perseguição individual e humilhação da vítima. Segundo ele, o assediador é geralmente uma pessoa de personalidade perversa, fria, racional, manipuladora, que não aceita que o outro seja tão ou mais competente, por medo da concorrência. “O agressor normalmente seduz a vítima, faz elogios, busca uma socialização até fora da empresa”, afirma o psicólogo. “A perseguição começa de forma sutil, com poucas ações, como fofocas, intrigas, não chama para reuniões, enfim confunde a vítima, fazendo com que cometa erros. Com o tempo a intensidade vai aumentando, com humilhações expressas, sabotagem de documentos e até exposição da vida pessoal.”
As vítimas, segundo ele, são geralmente pessoas competentes, inteligentes, auto-motivadas, perfeccionistas e com grande autocrítica. “A vítima sente-se culpada pela situação, entra em depressão, não tem mais forças para reagir e, muitas vezes, acaba pedindo demissão”, diz o psicólogo. Outras conseqüências do assédio moral, cita ele, são insônia ou excesso de sono, vontade de mudar de profissão, perda da vontade de trabalhar, perda ou aumento do apetite e, no caso de mulheres, crises de choro.
Pesquisa
Pesquisa realizada em março último pelo Conselho Regional de Psicologia, em Curitiba, apontou que 15% dos entrevistados (de um contingente de 821 pessoas) alegaram já ter sofrido assédio sexual, sendo 77% mulheres. Numa segunda análise, quando o pesquisador mostrava ao entrevistado o que era considerado assédio moral, o índice de pessoas aumentou para 20%.
O psicólogo orienta que a vítima busque apoio junto à família, amigos e colegas de trabalho, não sinta vergonha ou culpa pela situação, busque testemunhas, registre ações do agressor, procure um advogado, sindicato, delegacia do trabalho ou Ministério do Trabalho para fazer uma denúncia formal. Ele orienta ainda a procura de um psicólogo do trabalho.