Nas últimas semanas, funcionários e atendentes de farmácias de Curitiba e região metropolitana vêm relatando uma onda de assaltos a estes estabelecimentos. Em alguns locais, estes crimes já se tornaram corriqueiros e acontecem em média três vezes por semana. As investidas dos assaltantes proporcionam momentos de terror, dos quais resultam traumas psicológicos cujas vítimas nem sempre se recuperam.
De acordo com os relatos, os assaltos não estão localizados nos bairros onde a população mais carece de serviços essenciais, porém, vêm ocorrendo em localidades nobres da capital. A exemplo, de acordo com funcionários de drogarias, o bairro Bigorrilho, considerado um bairro residencial de alto padrão, é um dos que semanalmente registram assaltos.
Numa das farmácias, localizada na esquina da Avenida Martin Afonso e com a Rua Capitão Souza Franco, foram dois assaltos somente na última semana. No primeiro, ocorrido no domingo passado, quatro elementos renderam o segurança contratado pelo estabelecimento e adentraram ao local. Após limpar o caixa, os assaltantes armados pressionaram os funcionários com uma máquina de choque para que os levassem a um cofre. Sem sucesso, os bandidos foram embora levando R$ 400 do caixa. A atendente Patrícia dos Santos Wenzel conta que além de violentos, os criminosos são despeitados. “Um deles levou uma carga de lâminas para aparelhos de barbear”, conta.
Segundo os funcionários, a farmácia sofreu uma nova investida na noite de terça-feira. Dessa vez, no entanto, a farmácia concorrente que fica ao lado da primeira também era assaltada simultaneamente. Segundo os funcionários da farmácia, os assaltantes eram os mesmos do último assalto, divididos entre os dois estabelecimentos. “Entraram dois aqui e dois na farmácia do lado. Eles usavam as mesmas roupas do domingo e também tinham uma máquina de choque”, conta Patrícia.
De acordo com a atendente, além dos funcionários, os clientes da farmácia também têm a vida em risco diante da situação. “Num dos assaltos, não deixaram a cliente sair da farmácia enquanto não terminassem o serviço. Fizeram a filha da cliente entrar na farmácia também”, conta.
Patrícia relata que os momentos de pânico a impediram de voltar ao trabalho no dia seguinte. “Fiquei com a arma na minha cabeça enquanto um colega nosso era agredido com a máquina de choque”, afirma. A atendente conta que todos trabalham com medo e com o alarme de pânico da empresa de segurança privada contratada na mão.
De acordo com o presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Paraná (Sindesp-PR), Jeferson Nazário, após acionado o alarme de pânico, as equipes chegam em média em quatro minutos. Por isso, os bandidos procuram agir dentro de no máximo três minutos.
Segundo Nazário, os assaltos à mão armada vêm acontecendo em Curitiba de maneira geral. Segundo ele, esse tipo de crime ocorre com maior frequência nas regiões da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e dos bairros Água Verde e Portão.
Nazário conta que este mês de abril está sendo atípico para as empresas de segurança que prestam serviços para as farmácias. Ele afirma que os crimes no bairro Mercês, que historicamente não registra grandes quantidades de assaltos, podem confirmar essa tese.
Utilize o “botão de pânico”
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Paraná (Sindesp-PR), Jeferson Nazário, o uso correto de equipamentos de segurança pode minimizar o risco de assaltos ou até mesmo inibir esse tipo de crime.
Nazário conta que a maior parte dos estabelecimentos atendidos pelas empresas de segurança contam com o chamado “botão de pânico” um alarme silencioso que solicita a presença de uma equipe de vigilantes imediatame,nte no local. No entanto, segundo Nazário, na grande maioria das vezes os funcionários ficam com receio de acionar o botão. “Fica difícil tomar alguma atitude com uma arma apontada para a cabeça”, afirma.
Para Nazário, a adoção de medidas como o uso de cofre com “boca-de- lobo” desestimula a ação dos marginais. “É importante não dar acesso a chave para pessoas que estão trabalhando no local para evitar que estas possam ser pressionadas pelos assaltantes”, afirma.
O presidente do Sidesp-PR também orienta o uso de câmeras de vigilância, que podem auxiliar a polícia na identificação dos criminosos. Para o comandante do Policiamento da Capital da Polícia Militar (PM) do Paraná, coronel Jorge Costa Filho, no caso de uso das câmeras, é necessário informar o público de forma explícita que as imagens geradas pelas câmeras de vigilância não são armazenadas no local.
“A ausência dessa informação pode motivar o assaltante a investir contra os funcionários do local para que entreguem uma suposta fita com as imagens do crime. Por isso, a informação precisa estar disponível para todos verem”, afirma o coronel.
Costa também chama a atenção para o cuidado de não manter mais do que R$ 200 para troco no caixa. Além disso, ele ressalta que a disponibilidade do layout do estabelecimento precisa ser planejado de modo que quem passe em frente ao local possa visualizar o seu interior. “É preciso que o ambiente seja bem claro e que não dê margens para o marginal se esconder”, diz.
O coronel também ressalta que, em qualquer situação, a orientação é de que a vítima não esboce reação.
Costa afirma, entretanto, que é preciso mudar o conceito de segurança que, segundo ele, deve traduzir tranquilidade e qualidade de vida. “Segurança não é sinônimo de presídio. Senão vamos virar prisioneiros em nossas próprias residências e ambientes de trabalho, enquanto o marginal está livre nas ruas.”
“A bola da vez dos assaltantes”
De acordo com o comandante do Policiamento da Capital da Polícia Militar (PM) do Paraná, coronel Jorge Costa Filho, as drogarias são a bola da vez dos assaltantes pela relativa facilidade em se conseguir dinheiro vivo, em relação aos demais estabelecimentos.
“Nos caixas automáticos de bancos, você não consegue sacar grandes quantias depois de um determinado horário. Com o comércio em geral fechado, sobram os estabelecimentos que ficam abertos até tarde, como farmácias e postos de combustível”, afirma Costa.
Segundo ele, a preferência dos assaltantes por um determinado ramo comercial é sazonal e variam conforme a suscetibilidade da atividade ao sucesso de um assalto. “Com as farmácias está acontecendo o mesmo fato verificado há tempos com as videolocadoras, quando havia um maior número de estabelecimentos deste fim. Hoje temos uma proliferação de farmácias que ficam abertas 24 horas na capital”, afirma.
Costa ressalta que a PM vem fazendo o possível para proteger os cidadãos que trabalham durante a noite. Contudo, ele afirma que é impossível fazer a segurança de cada ponto específico. “Ao invés de segurança pública, dessa forma estaríamos fazendo segurança privada”, diz.
Por isso, o coronel afirma ser de fundamental importância a colaboração da população, no sentido de informar o órgão sobre quaisquer acontecimentos desta natureza. “A população reclama, mas se não tivermos a informação da ocorrência de um crime, não temos como traçar um histórico”, conta. Segundo Costa, a partir dos relatos da população é possível fazer um mapeamento dos locais onde há necessidade da intensificação do policiamento.
Além disso, Costa explica que, com o preenchimento do boletim de ocorrência, há a possibilidade de se tomar medidas contra um possível assaltante preso posteriormente por outro crime. “Depois de preso é comum o marginal ser identificad,o por outras vítimas. Com uma notificação, pode-se caracterizar o delito no inquérito policial, mesmo sem o flagrante.”