A Cohab começou ontem a relocação de 43 famílias que moram na margem esquerda do rio Barigüi, no Campina do Siqueira, em Curitiba, numa ocupação conhecida como Vila Santa Rita. Os moradores estão sendo transferidos para casas construídas pela companhia.
A previsão é de que a operação de transferência das famílias demore de duas a três semanas. Após a desocupação da área, a Prefeitura fará no local obras de recuperação da faixa de drenagem do rio e começar a construção de uma ponte que vai possibilitar a implantação de um binário na região, formado pelas ruas Mário Tourinho e Major Heitor Guimarães. A ponte será construída no final da rua Major Heitor Guimarães, permitindo a sua ligação com a BR-277.
A relocação das famílias é uma das contrapartidas exigidas pela Prefeitura para a aprovação do empreendimento do Barigüi Park Shopping, em fase final de instalação. A Vila Santa Rita está localizada em área vizinha ao futuro shopping. Para custear a operação de transferência dos moradores, a empresa depositou recursos na conta do Fundo Municipal de Habitação. O valor depositado, R$ 500 mil, cobrirá as despesas com compra de área, implantação de infra-estrutura, construção de casas, transporte e apoio de mão de obra para a mudança.
A Cohab está coordenando todos os trabalhos. Antes de iniciar a atuação, todas as famílias foram cadastradas pelo serviço social e as técnicas da área estão acompanhando passo a passo a transferência dos moradores. Os engenheiros do Departamento de Obras são responsáveis pela construção das casas, em madeira, com dois quartos, um banheiro e uma cozinha.
Risco
As primeiras relocações estão sendo feitas para uma área ao lado do conjunto Moradias Barbacena, onde serão assentadas 16 famílias. As outras 27 irão para um loteamento que será criado na Rua João Dembinski. Os dois locais que abrigarão os relocados ficam no Campo Comprido, na mesma região da Vila Santa Rita. “Com isso, as famílias poderão manter os vínculos de vizinhança”, explica Álvaro de Carvalho Júnior, diretor de operações da Cohab.
Segundo ele, a transferência para as casas vai trazer uma melhora significativa no padrão de vida das famílias que hoje moram na margem do rio. “Elas ficarão livres do risco de inundações, irão para um lugar seguro e ainda terão a garantia de uma propriedade.”
Terezinha Cardoso do Nascimento, a primeira moradora relocada ontem sabe bem o que significava o risco de morar ao lado do rio. Ela chegou na Vila Santa Rita com a família há 18 anos e diz que foi enganada quando comprou um lote e uma pequena casa na ocupação. “Pensamos que era legal e depois descobrimos que não tínhamos direito a nada. Mas, como não tínhamos outro lugar para ir, fomos ficando”, conta ela.
O marido de Terezinha é aposentado e, para ajudar nas despesas da casa, ela trabalha como catadora de papel. Cria duas netas, com 12 e 8 anos, e está esperançosa com a mudança. “Lá, será melhor, porque não enfrentaremos ameaças de enchentes e teremos alguma coisa para deixar para nossos filhos”, diz.
O mesmo sentimento é compartilhado por Newton da Costa, outro relocado. Ele trabalha numa empresa de ônibus é responsável pela limpeza dos veículos e é pai de quatro filhos. Com 28 anos, conta que está na Vila Santa Rita “desde pequeno” e, depois que casou e passou a morar numa casa independente dos pais, perdeu seus móveis por duas vezes em função de alagamentos. “Não vejo a hora de mudar, porque na nova casa poderei pensar em melhorar e construir num lote que é seguro e é da gente”, falou.