O pedreiro Sidney Andrade está vivendo dias de pesadelo sem saber para onde levar a família que está ameaçada de perder a casa até a próxima terça-feira. Ele, que há 11 anos vive de trabalhos esporádicos, nem aposentadoria por invalidez conseguiu ainda. Sua esposa, Lucilene, trabalha como diarista, provém o sustento da casa e ainda ajuda na criação de dois netos. Um filho e a nora também moram na casa. “Não tenho para onde ir. Não sei o que fazer. Há dois meses soube que teria reintegração de posse do meu terreno e agora avisaram que será na terça-feira”, conta.
Além de tentar buscar uma saída para não ver a família na rua, Sidney está preocupado com a saúde da esposa. Lucilene tem passado mal constantemente e precisou ser internada. “Ela está muito nervosa e tem passado mal, perdido dias de trabalho. Ela ganha por dia e quando não pode ir trabalhar fica difícil. Eu ainda consigo fazer uns bicos, mas a renda maior vem dela”, comenta.
Sidney é apenas um dos moradores de São José dos Pinhais que entraram na Justiça contra imobiliárias e incorporadoras. Acampados em frente ao Fórum da cidade, pedindo por uma solução rápida para que famílias não percam suas casas, os moradores afirmam as imobiliárias venderam esses loteamentos há mais de 20 anos. Porém, a cobrança de juros abusivos levou as famílias ao endividamento.
São mais de 4 mil ações pedindo na Justiça a revisão dos contratos. Sidney comprou o terreno em 1996, ingressou com seu pedido em 2003 e orientado pelo advogado que atendia seu caso, deixou de fazer o pagamento das parcelas. Ele comprou o terreno no Jardim Lúcia em 150 prestações com a primeira parcela em R$ 145,60. “Em 2003, quando paguei a última, já estava em mais de R$ 300. Não teria como pagar mesmo”, explica. O pedreiro conta que por conta do descaso do advogado seu caso tomou proporções ainda piores. “Ele não foi e nem me avisou das três audiências de conciliação. O juiz entendeu que eu não tinha interesse, por isso saiu a ordem de desapropriação”.
O desespero de Sidney foi vivido por outra família ontem. Maria Salete Vargas de Mello teve de deixar sua casa. No início da tarde, um oficial de justiça foi à sua residência pedindo que o local fosse desocupado. “Moramos eu, meus dois filhos, meu irmão e meu marido. Agora vamos morar de favor, na casa de outro irmão. Não temos o que fazer”, lamenta Maria Salete.
Ela conta que pagou as prestações até 2004, mas depois de uma cirurgia do marido a família não teve mais condições de efetuar os pagamentos.
8 mil famílias afetadas
A líder comunitária Claudete Menezes, que também briga pela revisão do contrato do terreno onde mora, afirma que apesar de terem sido ingressadas 4 mil ações na Justiça, são mais de 8 mil famílias lesadas.
Na maioria dos casos há duas ou três casas sobre cada terreno e muitas já perderam os imóveis.
“Neste último ano já vimos quatro companheiros morrerem de infarto. Isso é por todo este problema. E vamos perder mais gente se não fizerem nada”, alerta.
Claudete conta ainda que o problema começou na década de 1990, embora alguns terrenos tenham sido adquiridos em 1986. Os imóveis eram parcelados em 150 vezes, mas as prestações que deveriam ser reajustadas com baixas taxas viraram um pesadelo para as famílias. Em poucos anos, os valores dobraram e muitos deixaram de pagar as prestações. “E se você deixasse de pagar a terceira, as imobiliárias já entravam com pedido de reintegração de posse, não queriam nem conversa”, explica a líder comunitária.
De acordo com Claudete, na segunda-feira o grupo deve ter uma reunião com o prefeito, vereadores e representantes do M,inistério Público para tentar solucionar o problema. “As famílias não têm para onde ir. Só queremos que alguém resolva isso. Só nesta semana foram oito reintegrações”, lembra. Representantes das imobiliárias foram procurados, mas não retornaram as ligações.