O terreno de 145 mil metros quadrados de uma empresa falida foi ocupado na Cidade Industrial de Curitiba por integrantes do grupo Movimento Popular Por Moradia (MPM), que buscam casa própria e fugir do aluguel abusivo cobrado atualmente. Desde a noite da última sexta-feira (17), cerca de 500 pessoas estão no terreno, algumas instaladas e outras ainda montando os barracos quer servirão de abrigo.
A ocupação, intitulada como “Tiradentes”, por causa do feriado, fica no final da Estrada Velha do Barigui, na Rua dos Palmenses, próximo a outras duas ocupações do MPM, chamadas “29 de Março” e “Nova Primavera”.
Os ocupantes dizem que não vão sair do local e que pretendem negociar, junto à prefeitura de Curitiba, a compra do terreno com a Caixa Econômica Federal. Uma manifestação em busca de acordo com a Prefeitura está marcada para a próxima quarta-feira (29), mas os coordenadores ainda não definiram o local do ato.
A escolha do terreno da Ocupação Tiradentes, abandonado desde que a empresa proprietária faliu, em 2003, aconteceu depois de estudos feitos pelo MPM. Ocupar o local seria uma forma de garantir a casa própria às pessoas que não têm condições dignas e também a de fazer com que o local não seja transformado em aterro sanitário.
De acordo com Chrysantho Figueiredo, um dos organizadores da ocupação, a empresa vizinha ao local, onde funciona um aterro sanitário particular que seria citado na Operação Lava Jato da Polícia Federal, tem intenção de comprar o terreno para transformar o terreno em extensão desse aterro. “Seria uma catástrofe ambiental e social”.
Na ocupação estão pessoas de diferentes idades e condições sociais. De desempregados a aposentados. A intenção de todos que acamparam no terreno não é a de construir barracos ou casas para morarem definitivamente, mas sim a de manter os acampamentos até que o terreno seja comprado por eles, para então construírem as casas definitivas.
Para a caixa de supermercado aposentada, Sônia Maria da Fonseca, de 60 anos, o alto valor de aluguel impede que as famílias consigam morar em condições dignas e a única opção é buscar novas formas de moradia, por meio da ocupação. “Hoje em dia é assim: você come ou você paga o aluguel. As duas coisas não conseguimos, porque não ganhamos salário alto e todo mundo sabe disso. Comprar uma casa própria então, não é nem um pouco fácil como ditam por aí”, desabafou.
Os moradores depositaram na ocupação a esperança da casa própria, mas sem deixar de lado as obrigações de pagar por isso. “Torcemos para que dê certo, para que a gente tenha o nosso teto pagando, mas de forma que consigamos viver também, pois não temos condições de arcar com altas parcelas, nem de aluguel, muito menos de financiamentos atuais”, disse Jussara Ferreira, de 20 anos, que está desempregada e reveza com o pai, aposentado, a permanência no acampamento. “Confio em Deus e tenho certeza que ele vai nos abençoar para que tudo dê certo”.
De acordo com os representantes do MPM, nem todos os ocupantes do acampamento estão na fila da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab). Apesar disso, a grande maioria, conforme informou Chrysantho, recebe benefícios de programas do governo federal e estaria apta a pleitear moradia popular.
Entre as famílias, a expectativa para que o terreno seja negociado é unânime. A Cohab, através da assessoria de imprensa, informa que o terreno é particular e que o atendimento habitacional do município segue critérios vinculados ao governo federal.
Para que recebam atendimento, as famílias precisam se inscrever na fila e aguardar atendimento, que se diferencia entre “faixa 1” e “faixa 2”. Para a “faixa 1” destinada às famílias com renda de até R$ 1600, o atendimento é ,por sorteio e não há como precisar a média de espera. Para as famílias da “faixa 2”, com renda de R$ 1.600 a R$ 3.275, o atendimento é por ordem de inscrição e leva em média três anos.
Sobre o terreno, por se tratar de uma área particular, é necessário que o proprietário seja localizado para descobrir se há possibilidade de acordo ou não. Os ocupantes afirmam que não vão sair do local.
Ocupantes ainda estão se instalando no local. Foto: Aliocha Maurício. |