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Famílias aguardam a casa própria há sete anos

Dias que viram meses e se transformam em anos de espera por algo primário, um lugar digno para viver e criar os filhos. Essa é a realidade de 23 famílias da Vila Savana, no bairro Guabirotuba. Desde 2006 elas estão cadastradas na Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), já que deveriam ser contempladas com 23 casas de 34 metros quadrados na própria localidade, projeto que até então era viabilizado por recursos do Programa de Subsídio Habitacional de Interesse Social (PSH).

Eles até viram alguns moradores de lá serem transferidos para o empreendimento Moradias Primavera, no bairro Uberaba, que em 2010 reassentou um total de 103 famílias das vilas Savana e Lorena, mas ficaram para “uma próxima etapa”. No ano passado, o início da construção de sete das 23 casas na própria Vila Savana, fez com que os moradores elevassem o local à categoria de Jardim Savana, porém, passado o primeiro turno das eleições, o sonho dessas famílias ficou no esqueleto de sete construções abandonadas.

A moradora Aparecida Ribeiro Marques da Cruz, 42 anos, conhecida como “Cida”, que há 17 anos vive no local, diz que esses anos de “enrolação” serviram para liquidar sua vontade de lutar pela tão sonhada casa da Cohab. “Antes eu ficava em cima, mas foram tantas desilusões que acabei me conformando em seguir do jeito que dá”, revela. Além de adquirir uma habilidade impressionante de recolher seus pertences e trocar de barraco de tempos em tempos, ela passou a fazer das condições adversas do local sua fonte de renda.

Marco Andre Lima
Grande quantidade de lixo acumulado aumenta risco de doenças.

Como? Passou a lavar roupa da comunidade com algumas máquinas e secadoras compradas com desconto na empresa onde o marido trabalha. “A umidade desses barracos impede que a roupa seque, ainda mais quando chove sem parar. E o pessoal acaba trazendo as trouxas de roupas para eu lavar aqui”, conta.

Mas apesar da oportunidade de renda, ela se ressente da condição em que as pessoas da vila vivem. “Sempre tem vizinho com doença respiratória, há vários casos de gente que foi internada de tuberculose. Além disso, o risco de doenças é grande com a quantidade de ratos que circulam por aqui, já que o lixo se acumula nos terrenos e nem todo mundo foi ligado à rede de esgoto construída há dois anos”, comenta. Outro problema constante são os incêndios provocados pelos gatos de energia elétrica.

O presidente da Associação de Moradores do bairro Guabirotuba e Jardim Savana, o pedreiro Manoel Moreira Lopes, 58 anos, informa que é tanta frustração com as casas que nunca vêm, que os moradores já se contentariam se a prefeitura formalizasse a entrega dos terrenos para que cada família construísse sua residência. “Vamos batalhar por isso ao menos”, diz.

Agora vai?

A assessoria da Cohab explicou que a construção das sete casas da Vila Savana foi interrompida porque a empreiteira que venceu a licitação para a execução da obra largou o projeto em função do aumento nos custos da construção civil, que tornou “inexequível” a construção, uma vez que o orçamento previu de forma equivocada um custo de R$ 13 mil para cada casa de 34 metros quadrados.

Na época, além das sete casas inacabas, foram realizadas obras de infraestrutura que pavimentaram o local e disponibilizaram rede de água e esgoto. Quanto à rede elétrica, a companhia observa que é uma decisão dos moradores não deixarem as “velhas intalaç&otil,de;es”.

Ainda conforme a Cohab, o Conselho Gestor se reuniu na última sexta-feira e definiu a retomada da construção das sete casas inacabadas e de outras duas para este ano. Os recursos, desta vez, serão provenientes do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social. Um novo processo de licitação deve ser realizado para que em até 90 dias se iniciem as obras. Assim que essas casas fiquem prontas e que nove famílias seja realocadas, no espaço vago serão construídas as demais residências. A execução das 23 casas está orçada em R$ 806 mil, ou seja, cada residência deve apresentar um custo de construção de aproximadamente R$ 35 mil.

Marco Andre Lima
Manuel batalha para que a prefeitura formalize a entrega dos terrenos.