Assim como uma polpa de fruta congelada pode servir de base para preparar um bom suco, uma família unida concentra todo potencial necessário para transformar dificuldades da vida em superação. A estranha comparação retrata o que sucedeu com a família da agroindustriária Meire Lunardon, 42 anos, que em março de 2011, foi vítima da enchente que destruiu Morretes.

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O negócio da família – a pequena fábrica de polpas de frutas congeladas Litoral Polpas, hoje com o nome de Frut Life – foi carregado pela força das águas naquele 11 de março, um dia antes do aniversário do filho mais velho dela, Guilherme. A água chegou a 3,5 metros de altura e a correnteza forte carregou o barracão com todos os equipamentos adquiridos ao longo de 18 anos de trabalho. Para piorar a situação, Guilherme foi levado pelas águas. “Ele tentava salvar algum equipamento e acabou sendo carregado pela enxurrada”, relata. Por sorte, o marido Moacir conseguiu resgatar o filho após alguns instantes desesperadores. “Foi Deus quem salvou a todos nós, pois 30 minutos depois de deixarmos a casa, a ponte do Rio Sagrado caiu, ou seja, saímos de lá com o principal: a vida”, ressalta.

Desde então, a família se instalou em Colombo, primeiramente na casa de familiares e depois em endereço próprio. “Continuamos com a chácara em Morretes, mas não tive mais coragem de morar lá. O choque material nem se compara ao choque que tive de quase perder um filho. Isso não sai da cabeça, até hoje tenho pesadelo com a chuva”, explica. Não foi fácil convencer os filhos de mudarem para cá. “O povo do litoral é bem diferente daqui, mas aos poucos eles passaram a entender que nossa força estava na família e na vontade de reconstruir tudo”.

Perto de Curitiba, eles também aprenderam a profissionalizar o negócio via Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae-PR) e Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Dois anos após a tragédia, Meire já recuperou 60% do que perdeu e produz, semanalmente, perto de uma tonelada de polpa. Boa parte da produção é comercializada por uma rede supermercadista. A família também fornece para pousadas e lanchonetes do litoral.

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Vendendo saúde

A ideia de fabricar polpas de frutas congeladas surgiu pouco tempo depois do casamento de Meire com o agricultor Moacir, há 22 anos. “Nós decidimos mudar para Morretes para escapar da geada. Foi uma mudança radical para mim, já que até então eu trabalhava como auxiliar administrativa em Curitiba”, recorda. Em Morretes, ela resolveu cultivar quatro pés de maracujá, para ter suco durante o verão. No segundo ano de safra, a produção foi muito boa e ela começou a congelar a polpa para não desperdiçar a farta produção. “Os parentes passaram a encomendar e não demorou para uma lanchonete se interessar pelo produto”, revela.

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Depois de aprender as boas práticas de manipulação e conseguir a certificação necessária para o produto, hoje ela se orgulha em dizer que o que vende é saúde. “Sempre me preocupei com a qualidade do meu produto, tanto que não é qualquer fruta que serve para a polpa que fabricamos. Quero para os meus clientes o mesmo que quero para meus filhos, ou seja, o melhor”, defende. “Nunca me identifico como dona do negócio, para poder ouvir a opinião de quem compra a polpa. Já ouvi relatos de pessoas que dizem sentir o cheiro da fruta quando abrem a embalagem da nossa polpa e de várias mães que conseguiram fazer o filho parar de tomar refrigerante porque o suco da nossa polpa é mais gostoso e saudável”, comemora.

Meire e o marido trabalham mais de 12 horas por dia de segunda a quinta-feira. Na sexta, fazem a limpeza. Até doming,o, a Fruit Life está expondo seus produtos com estande na Feira Sabores do Paraná, no pavilhão de exposições do Parque Barigui. Já são sete sabores de polpa: maracujá, morango, manga, abacaxi, abacaxi com hortelã, goiaba e acerola. As frutas são obtidas junto a outros dez pequenos agricultores da região metropolitana e do litoral, onde eles seguem cultivando maracujá e acerola. “As opções de polpas foram criadas a partir dos pedidos do clientes”, explica Meire.