Os custos elevados para se sustentar uma criança e a inserção das mulheres no mercado de trabalho fazem com que as famílias brasileiras sejam cada vez menores.

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Nas décadas de cinquenta e sessenta, era comum ver mães com quatro, cinco ou até mais filhos. Hoje, no Paraná, a média é de 1,9 filho por mulher, bastante parecida com a média nacional (2 filhos).

“A cada levantamento que fazemos, o número de filhos por casal é menor. A redução se deve ao planejamento familiar e ao aumento da escolaridade da mulher. Atualmente, no Estado, o número de pessoas por domicílio é 3,8, sendo que as famílias estão ficando cada vez menos numerosas”, afirma o chefe da unidade estadual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Paraná, Sinval Dias dos Santos.

Apesar da constatação, ainda existem exceções. Famílias numerosas, com um grande número de irmãos, ainda são realidade, principalmente em localidades onde existem maiores atividades de campo.

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Porém, O Estado encontrou uma grande família que vive a poucos quilômetros de Curitiba, no município de Colombo, na Região Metropolitana. Trata-se do clã do militar Ozair de Jesus Ribeiro Filho e de sua esposa, a pedagoga Rosicler Guidolin Ribeiro. Eles tem 21 filhos, sendo o mais velho de 24 anos de idade e os mais novos, gêmeos de 12 anos.

Ozair e Rosicler se casaram há 26 anos, sempre gostaram muito de crianças e planejaram ter uma família numerosa. Tiveram três filhos biológicos. Após o nascimento do terceiro, Rosicler não pôde mais engravidar. Diante da constatação, decidiram pela adoção.

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“O primeiro filho que adotei foi fruto de um salvamento que realizei como tenente do Corpo de Bombeiros. Fiz o salvamento da criança e depois a requis para adoção. Os outros filhos vieram naturalmente, sendo que a última adoção foi realizada há cerca de dez anos”, conta Ozair.

Hoje, o militar e sua esposa têm cinco meninas e dezesseis meninos. De todos, dois estão casados, um mora em São Paulo e outro em Belo Horizonte (MG). Os demais vivem com o casal, em um mesmo lar.

“Já temos dois netos e logo vamos ter mais dois. A esposa de um de nossos filhos casados está grávida de gêmeos”, diz Ozair com alegria, revelando que a família vai ficar ainda maior.

O casal cria os filhos sem qualquer ajuda financeira e, há dez anos, fundou uma escola (o Colégio Le Savant, na Estrada da Ribeira) para que eles pudessem estudar.

O empreendimento começou pequeno, mas chamou a atenção de outras pessoas que também começaram a matricular suas crianças e hoje oferece turmas do maternal ao ensino médio. Para manter a ordem em casa com tantas crianças e adolescentes, Ozair e Rosicler dizem que o segredo é bastante amor, paciência e disciplina.

Enquanto alguns pais enfrentam problemas tendo apenas um ou dois filhos, eles contam que conseguiram fazer de seus 21 herdeiros pessoas educadas, estudiosas, que têm valores e respeitam a Deus.

“Em nossa casa, levantamos todos às 6h, nos reunimos para fazer uma oração e temos horários definidos para todas as atividades, como comer, estudar, fazer as tarefas domésticas e de lazer. Eu e minha esposa dedicamos nossa vida em prol das crianças e procuramos passar a todas elas valores éticos e morais”.

A rotina da família também envolve muita cooperação, solidariedade e amizade. Ozair comenta que todas as atividades, por serem realizadas em grupo, costumam ser bastante divertidas.

Em sua casa, ninguém costuma se sentir sozinho. Fato que é confirmado pelo garoto Denis de Jesus Ribeiro, que tem 15 anos e cursa o segundo ano do ensino médio. “Fazemos tudo juntos e é sempre bastante divertido, principalmente as brincadeiras. Nas tarefas, todo mundo se ajuda”, revela.

Mudanças no perfil familiar

As famílias começaram a diminuir com o processo de urbanização ocorrido no Brasil. Nas, sociedades agrárias, o modelo de família tinha relação com o sistema de produção.

A atividade desenvolvida envolvia todos os membros de uma família e havia uma clara divisão das tarefas. Com a urbanização, o vínculo produtivo deixa de existir e a presença de muitos filhos torna complexa a subsistência das famílias.

“No passado, não existia a cultura do contraceptivo. Quanto mais filhos um casal tivesse melhor, pois era mais gente para ajudar no trabalho. Com a urbanização, deixa de haver uma divisão tão clara das tarefas no lar. Passa a existir controle de natalidade e o padrão de normalidade se altera. No passado, era normal ter muitos filhos. Hoje, o normal é ter um ou dois”, comenta o sociólogo e professor de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Lindomar Boneti.

Há algumas décadas, as pessoas também não calculavam os custos gerados pelo nascimento de um filho. Atualmente, isso é considerado e tido como de total importância antes de uma gestação.

“Antes de decidirem ter um filho, os casais geralmente fazem um cálculo da existência da criança. Isso porque os espaços residenciais são cada vez mais restritos e os custos com escolaridade e assistência médica bastante altos”.

Tudo isso foi levado em consideração pela dona-de-casa Uderléia do Rocio Taverna Gueno. Aos 19 anos de idade, ela teve uma única filha, que hoje está com 17 anos.

“No começo, eu queria ter dois filhos. Porém, depois que minha filha nasceu, comecei a enxergar as dificuldades e resolvi ficar com uma criança só. Acho que não adianta colocar um monte de filhos no mundo e não poder criá-los de maneira adequada. Preferi ter uma filha e educá-la da melhor maneira possível”.