A escassez de profissionais na Polícia Científica do Paraná, que envolve o Instituto de Criminalística e Instituto Médico-Legal (IML), órgão que está sob intervenção da Polícia Militar, vem trazendo transtorno a parentes de vítimas. Além de sofrerem com a perda de um ente querido, familiares ainda enfrentam a demora na liberação do corpo para poderem realizar o enterro.

continua após a publicidade

Entre terça-feira e a manhã de ontem, pelo menos quatro famílias tiveram de esperar várias horas até que o médico-legista de plantão concluísse o exame de necropsia.

Visivelmente cansado, Amarildo Braz, pai de Ivanildo de Souza Braz, 23 anos, vítima de afogamento na manhã de terça-feira, passou a madrugada em claro ao lado do irmão a liberação do corpo.

Segundo ele, por volta de 16h de terça-feira, Ivanildo foi nadar com amigos na Represa das Pedreiras, na região de Campo Magro, e acabou se afogando. O corpo da vítima, que trabalhava numa multinacional e morava na Cidade Industrial de Curitiba, só deu entrada no IML por volta de 00h10.

continua após a publicidade

O perito criminal aposentado Arthur Conrado Drischel, 70 anos, também precisou de muita paciência. Seu cunhado, Alexandre Eugênio Festa, 80 anos, foi atropelado por volta de 7h30 de terça-feira no bairro Santa Quitéria. A vítima foi encaminhada ao Hospital Evangélico, onde morreu à tarde.

“Me disseram que não havia motorista no IML para buscar o corpo no hospital”, disse. O corpo de Alexandre só chegou ao IML à 1h e a liberação só foi feita dez horas depois.”

continua após a publicidade

Insatisfação

No Instituto de Criminalística, a carência de pessoal e o acúmulo de trabalho acaba provocando atraso nos laudos, que, por sua vez, atrasam as investigações da Polícia Civil e, consequentemente, o julgamento de réus.

Hoje, são 99 peritos na ativa no Paraná, ou seja, um para cada 102 mil habitantes do Estado. Desses, 75 atuam na Grande Curitiba nos laboratórios ou nos locais de morte.

Este número, porém, está muito aquém do necessário. A Associação Brasileira de Criminalística recomenda que seja um para cada 5 mil, ou seja, seriam necessários 2.040 peritos no Estado.

Em 2007, o governo realizou concurso público para preencher 40 vagas na Polícia Científica, sendo oito para peritos. Mas, conforme uma funcionária do IC, que trabalha há 15 anos no órgão e prefere não se identificar, até agora os aprovados não foram chamados para ocupar os cargos. “Além disso, muitos funcionários se aposentaram, reduzindo ainda mais o número de profissionais na ativa”, disse.

Interventor promete solução

Fabio Schatzmann

O atual interventor do Instituto Médico-Legal (IML), coronel Almir Porcides, defende-se das críticas e acredita que o problema para a falta de funcionários será solucionado em breve.

Ele disse que o concurso público abriu vagas para 120 novos profissionais que atuarão no órgão, já está na fase final e provavelmente até o começo de maio já eles estejam trabalhando. Para a conclusão, explicou que falta apenas os exames médicos admissionais.

Serão 120 funcionários para as áreas de médicos-legistas, auxiliares de necropsia, químicos e toxicologistas. A carência total, acredita ele, deverá ser suprida somente com um novo concurso para preencher vagas de técnicos administrativos, motoristas e mais auxiliares de necropsia. Atualmente, segundo o coronel, existem 120 pessoas trabalhando na capital e 270 profissionais nas demais cidades do Paraná.