O Banco de Tecidos Músculo-Esqueléticos do Hospital de Clínicas (HC), em Curitiba, está passando por sérias dificuldades. Há quatro meses a instituição não recebe uma única doação, e a fila de espera cresce a cada dia. A idéia equivocada de que a retirada de ossos deixa o doador desfigurado ainda é uma das principais barreiras a serem vencidas. Apesar da falta de doadores, o diretor-presidente do primeiro banco de ossos do Brasil, o médico ortopedista Gerson Tavares, desmente a informação de que o banco possa vir a encerrar suas atividades.
“Não há risco algum de fechar”, garante o médico. “Nosso problema é de dimensionamento. Temos uma carga muito grande: fornecemos 70% dos enxertos realizados no Brasil”, aponta. Há apenas quatro bancos de ossos no País: o do HC, em Curitiba, dois em São Paulo e um no Rio de Janeiro. “Se a gente atendesse apenas o HC em Curitiba, uma doação por semestre já resolveria o problema. A questão é que fornecemos ossos para todo o País”, alega. Apenas este ano, foram realizados cerca de 600 enxertos. A fila no HC à espera de um tecido ósseo é de aproximadamente 180 pessoas.
Segundo o médico, seria necessário que houvesse em média duas doações por mês. Cada doação atende de 40 a 50 pessoas. “Temos estrutura para poder fornecer, equipe médica para fazer a captação, mas existe muito preconceito”, lamenta. Ele explica que, ao contrário do que muitos pensam, ossos da região aparente como rosto e mãos não são retirados. Além disso, os ossos são substituídos por outros de plástico e, ao contrário de doação de órgãos como coração, fígado e rins, que deve ser feita durante a morte cerebral (com o coração batendo), no caso da doação de ossos pode ser realizada até seis horas depois da morte “oficial.”
Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Ossos (ABTO), os bancos oficiais de tecidos fornecem hoje material para 1,2 mil a 1,4 mil cirurgias por ano, enquanto o número de operações deveria ser de 25 mil a 30 mil por ano utilizando o tecido ósseo.
Campanha
Além de ser utilizado em cirurgias ortopédicas, cirurgia plástica e neurocirurgia, o tecido ósseo atende ainda a uma grande demanda de implantes dentários. Preocupados com a falta de doadores, os cirurgiões-dentistas Sheyla Fabrícia Correa e Alberto Junior Capeletto lançaram na semana passada campanha com folders e cartazes, que estão sendo distribuídos em hospitais, clínicas médicas e odontológicas. “A gente quer conscientizar a população sobre a facilidade que é fazer a doação e as dificuldades que temos com a falta de doadores”, explica Sheyla.
Segundo ela, a utilização de tecido fornecido pelo Banco de Ossos facilita muito o implante. Até então, explica ela, o paciente precisava se submeter a duas intervenções cirúrgicas, já que ele era o doador e o próprio receptor. “Havia muitos inconvenientes, como a internação hospitalar, os riscos, o encarecimento.”
Na fila
A artista plástica Elis Regina Guilherme Sosa, 33 anos, é uma das pessoas que aguardam na fila do Banco de Tecidos Músculo-Esqueléticos do Hospital de Clínicas (HC). Ela fez o cadastro há um ano e meio e ainda não foi chamada para a cirurgia. “O médico disse que se não houver o osso, não há como fazer a operação”, explica. Elis conta que tem um problema na coluna, denominado escoliose paralítica. “Sinto um pouco de dor e às vezes falta de ar, porque começa a apertar o pulmão”, relata. Ela diz que a cada três meses vai ao HC para saber se chegou a sua vez. “A ansiedade é muito grande”, afirma. Elis necessita de cerca de 100 g de ossos moídos da coluna.
Serviço: Para quem quiser mais informações sobre doações pode ligar para o Banco de Ossos, no (41) 262-4569 ou no Hospital de Clínicas, fone (41) 360-1800, ramal 6040.