Falta de verba faz hospital psiquiátrico fechar as portas

A Casa de Saúde Nossa Senhora da Glória, que atende dependentes de substâncias químicas em Curitiba, fechou as portas por falta de verba. Os últimos pacientes receberam alta ontem, mesmo sem ter terminado o tratamento de desintoxicação. Os funcionários reclamam que a instituição não está em dia com vários direitos trabalhistas, como os salários que estão atrasados e há três anos não recebem o 13.º salário.

A crise dos hospitais também chegou ao Nossa Senhora da Glória. Há três anos, a situação não vinha bem. A falta de pagamento do 13.º salário já era um indicativo. Além disso, afirma a funcionária Soraia de Fátima Saleh, os funcionários estão sem receber as férias e a contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) não vinha sendo feita.

Na última sexta-feira, o diretor da unidade convocou os funcionários para comunicar o fechamento da instituição, alegando falta de dinheiro. Ontem, eles passaram o dia na unidade esperando o diretor, Ênio Nudelman, para saber como ficariam os direitos trabalhistas. Conseguiram apenas receber o salário de setembro que estava atrasado.

Segundo a fisioterapeuta ocupacional Regina Braun, os funcionários vão entrar na Justiça para receber o restante. O hospital, fundado há 60 anos, é particular, mas atendia apenas pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Ao todo oferecia 89 leitos. Adolfo Correia da Silva, 42 anos, estava internado há doze dias e recebeu alta sem ter terminado o tratamento de desintoxicação. Estava preocupado com a volta para casa e o encaminhamento para o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) da Prefeitura de Curitiba. ?Não sei se vai resolver. Estou preocupado e quero continuar o tratamento, bebo há 32 anos e queria parar para me entender com a família?, diz.

A Prefeitura de Curitiba disse que o fechamento do hospital foi uma decisão unilateral e que foi comunicada apenas na última sexta-feira, embora o documento enviado tenha data de 1.º de outubro. Segundo a assessoria de imprensa, o Ministério Público foi acionado para investigar se há irregularidades. O dinheiro do SUS estava sendo repassado em dia.

Além disso, os pacientes que estão recebendo alta do Nossa Senhora da Glória vão ter prioridade nos Caps e quem precisar de internamento será encaminhado para outros hospitais que fazem este tipo de atendimento. Hoje existem na cidade dez Caps.

Segundo a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Fehospar), a desintegração da estrutura hospitalar psiquiátrica está prevista na reformulação da política nacional de saúde mental do País. O tratamento deve ser feito nos Centros e Núcleos de Atenção Psicossocial (Caps e Naps). No entanto, o Estado deveria ter pelo menos 170 unidades, mas não chega a 10% as que funcionam de modo satisfatório. Segundo a Prefeitura, a instituição reconhece o problema da demanda e está trabalhando para ampliar o atendimento na capital. O estado tentou entrar em contato com o diretor do Nossa Senhora da Glória mas não obteve retorno.

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