Muita lama, buracos e curvas perigosas é o que encontra o motorista que resolve se arriscar pela PR-092, única ligação entre Curitiba e o município de Cerro Azul. Construída em 1982, a estrada nunca foi asfaltada, o que resulta em uma série de prejuízos ao Estado. A partir de Rio Branco do Sul, a PR tem 56 km de extensão até Cerro Azul.
Em épocas de campanha eleitoral, vários candidatos ao governo do Paraná prometeram que se fossem eleitos a estrada receberia asfalto. Há alguns anos, o ex-governador Jaime Lerner anunciou em praça pública aos 17 mil moradores de Cerro Azul que as obras de pavimentação seriam iniciadas. Seu mandato terminou no fim do ano passado e nada foi feito.
Agora, a população deposita suas esperanças no governador Roberto Requião, que há cerca de dois meses afirmou que pretende fazer o asfaltamento. No início da estrada, ainda em Rio Branco do Sul, foi colocada uma placa anunciando a realização das obras.
Chuva
Pela estrada passam, diariamente, dezenas de caminhões carregados de laranjas, mexericas, lenha e outros produtos que abastecem o município, além de ambulâncias, veículos de passeio e ônibus escolares. Porém basta chover um pouco para que todos encalhem e não consigam chegar a seus destinos.
Ontem de manhã, depois de vários dias de seca, uma garoa forte já fez com que os problemas recomeçassem. Ao longo da estrada, que se tornava cada vez mais escorregadia, era possível encontrar veículos quebrados ou encalhados e motoristas que passaram a madrugada na estrada.
O caminhoneiro José Renato dos Santos, com o caminhão carregado de mexericas, deixou Cerro Azul às 21h de terça-feira com destino à capital. Após realizar metade do percurso, percebeu que o chão estava escorregadio e resolveu parar.
“Trabalho há 26 anos como caminhoneiro e já perdi a conta de quantas madrugadas passei no meio da estrada”, contou. “Muitas vezes, quando ameaça chover, chego a levar mantimentos na carroceria.” Segundo ele, quando as condições não estão boas, é melhor desistir de fazer a viagem. “O preço da mexerica que transporto está baixo e qualquer coisa que quebre no caminhão faz com que eu fique sem lucro algum”, afirmou. Outra desvantagem de viajar à noite é que a PR-092 não é iluminada.
Devido à trepidação na estrada, uma mangueira do veículo do caminhoneiro Aldemir Desplanches arrebentou, o que acabou atrasando a viagem. “É terrível transitar por estrada de terra”, reclamou. “A gente desvia de um buraco e cai em outro. Não há caminhão que agüente.” Aldemir revelou que, normalmente, anda com a carroceria cheia de ferramentas. “Sei que o risco de o caminhão estragar no meio do caminho e muito alto”, disse. “Só não faço um mecânico viajar junto comigo porque eu não teria condições de pagar-lhe o salário.”
Maiores problemas
Problemas ainda mais graves já foram verificados ao longo da estrada. Em 1999, a produção de laranja em Cerro Azul foi de quatorze milhões de caixas. Oito milhões se perderam na estrada. O prejuízo foi de R$ 16 milhões. Há um ano e meio, um morador do município teve um enfarto e precisou ser levado para um hospital de Curitiba. A ambulância que o transportava encalhou e ele acabou morrendo no meio do caminho. No início deste ano, uma adolescente de quinze anos grávida estava sendo levada para fazer uma cesariana na capital. Devido às más condições da estrada, o bebê acabou nascendo morto ainda na estrada.
Segundo a Prefeitura de Cerro Azul, a falta de asfalto impede que indústrias e fábricas se instalem na região, o que compromete o desenvolvimento econômico. Os estudantes também acabam impossibilitados de realizar um curso superior devido às dificuldade de se locomoverem diariamente até Curitiba.