Aumentam e ficam mais violentos os assaltos na área rural da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). A crise na agricultura é cruel e castiga os produtores rurais. Se levados em consideração esses fatores atuais relacionados ao campo, seria fácil e justo entender se os camponeses quisessem trocar chácaras, fazendas ou sítios por uma casa na cidade. No entanto, isso não está acontecendo e, pelo contrário, fala-se em um crescente "êxodo às avessas". A vida sem o estresse urbano, com a tranqüilidade bucólica, ainda parece valer a pena.
A população rural de Colombo atualmente está em torno dos dez mil habitantes, nem 5% da população total do município, segundo a secretária de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente, Rose Cavalli. É evidente que há alguns anos esse total era muito maior. Muitos deixaram o campo para tentar a vida na cidade. No entanto, os habitantes que permanecem lá estão por muito tempo e não pensam em sair, mesmo que as características atuais já não sejam as mesmas de antigamente.
Nildo Gasparin, de 42 anos, nasceu e sempre morou na região de Poço Negro, área rural de Colombo. A terra onde mora com a esposa e dois filhos já foi de seu avô e de seu pai. A ausência de poluição, tanto sonora quanto atmosférica, é que o faz permanecer no campo. "No momento não tem porquê eu sair ou trocar pela cidade. Estou muito bem na área rural", diz. Ele conta que a segurança está começando a ser problema, mas a liberdade e o contato com a natureza compensam. "A família fica mais próxima, assim como também estão próximos a casa do local de trabalho, que é praticamente o mesmo. Além disso, o campo continua sendo um lugar muito bom para criar os filhos. Quando não estão na escola, se ocupam com outras coisas, e os amigos da infância serão sempre os mesmos de toda a vida", comenta Gasparin.
Em outra região rural de Colombo, na Serrinha, Fernando César Lazarotto, de 35 anos, tem motivos suficientes para ficar no campo e também não pensa em sair.
"Se eu for morar na cidade, eu não consigo ficar, principalmente por causa do barulho. Aqui não tem vizinho muito perto. É melhor para a saúde e bem mais sossegado. Aqui tem tanque para a pesca e água nossa mesmo. O café da manhã, o almoço e o lanche da tarde são sempre momentos para reunir a família. Apesar de os vizinhos morarem longe, todos se conhecem e quando tem alguém estranho circulando, todo mundo já sabe e fica de olho. É a melhor coisa do mundo", diz Lazarotto.
Famílias preferem o sossego do campo
Em Almirante Tamandaré, enquanto a população urbana é de 105.354 habitantes, no campo vivem 4.379, segundo o diretor de turismo do município, Luciano Gulin. Ele explica que muitos jovens ainda saem da área rural para ir para a cidade. O êxodo ainda existe e, por isso, o município perdeu muito de sua cultura camponesa.
No entanto, também em Almirante Tamandaré, quem chega na área rural não pensa em deixá-la. É o caso de Hilton e Elaza da Cruz. As filhas já casaram e logo compraram uma casa na cidade, mas eles permanecem. O casal já teve uma experiência ruim de ser assaltado. Tal perigo eles dizem que é o lado ruim de morar num local afastado. No entanto, eles também ponderam: "De bom tem o trabalho da gente – com embutidos, com a lavoura e a criação. O clima e o ar também são bons. O melhor é acordar com o galo cantando e, durante o dia todo, escutar os pássaros assobiarem e os carneiros berrarem. Eu vou à cidade só se for a passeio", diz Hilton.
Exemplo
Já o caso da família Borgo é um pouco diferente. O casal e as filhas moravam e trabalhavam em Curitiba. Ele ainda trabalha no Hospital de Clínicas e ela deixou a profissão de artista plástica para se dedicar à agricultura. Hoje eles moram na Chácara Morro Alto, em Almirante Tamandaré. "Nós compramos um pedaço de chácara para o lazer dos finais de semana. Começamos a plantar e, quando vimos, percebemos que na cidade passávamos muito mal. A cidade não nos atendia mais depois que tivemos esse espaço. Era uma verdadeira angústia. Então, em 1994, resolvemos morar aqui", conta Jorge Borgo. A esposa, Elizabeth, diz que muitos conhecidos já fizeram o mesmo. "Agora está muito comum esse êxodo às avessas. Tenho várias amigas que trocaram Curitiba pela área rural de Campo Largo, Piraquara e outras cidades", diz ela, que, hoje, acorda cedo – às vezes às 5h, tira o leite da vaca, cuida da horta, faz pães e compotas para vender em feiras de Curitiba. (NF)
Falta de segurança virou problema e gera reclamações
Uma das reclamações não só de Marisa Paris da Silva, moradora da área rural de Campo Largo, mas de todos os demais habitantes é a falta de segurança. Ela conta que há algum tempo podia deixar a casa aberta que não havia perigo. No entanto, hoje, a falta de segurança assusta. "Meu genro deixou o caminhão aqui na frente da casa estacionado. De repente os ladrões entraram e fizeram a limpa. Nós ligamos para a polícia e eles disseram que foi descuido nosso", lamenta. Ela reclama que a patrulha rural normalmente não passa, só aparece quando chamada e, ainda assim, demora para chegar. "É complicado", diz ela.
Segundo o tenente Araújo, da Polícia Militar, no campo existe a patrulha rural, que faz o policiamento especificamente para essas pessoas que moram afastadas do centro da cidade. "O que é complicado, pela distância entre uma chácara e outra, é o tempo de espera pela polícia", admite. Ele afirma que existem algumas orientações básicas para se prevenir os assaltos. "Primeiro que as pessoas procurem evitar a situação de armamento em casa. Eu sei que é difícil para essas pessoas que moram no campo, mas em geral quem vai assaltar sabe que existe uma arma em casa, principalmente as de cano longo", explica Araújo. Outra coisa que pode manter longe os assaltantes seria a criação de um mecanismo de segurança com a ajuda da comunidade local. "Uma espécie de rede entre os vizinhos, para que as pessoas possam cuidar umas das outras", afirma.
Mais uma orientação do policial é que as cercas sejam sempre observadas, pois muitas já estão caídas e já não protegem mais. Outro fato sobre o qual se atentar é sobre a presença de pessoas estranhas. "Procurem recolher apenas as pessoas conhecidas. Quem mora na área rural geralmente não tem essa malícia e desconfiança", conta Araújo.
Por fim, Araújo explica que as pessoas que fazem esse tipo de assalto, além de roubarem os pertences de dentro da casa, também levam animais da propriedade. "Quem assalta na área rural não o faz sem planejar. Geralmente eles ficam cuidando e vigiando as famílias e as propriedades durante muito tempo", orienta Araújo. (NF)