Enquanto o teste da orelhinha não é oferecido de forma gratuita em toda a rede de saúde do Paraná, profissionais tentam alertar os pais da importância do exame. A Triagem Auditiva Neonatal Universal detecta nas primeiras 48 horas de vida do bebê se ele tem algum problema de audição. Se o exame der positivo, a criança tem mais chances de iniciar prococemente uma estimulação para desenvolver a aprendizagem. De cada mil nascidos no Brasil, três apresentam algum problema auditivo.
O exame da orelhinha é feito geralmente no segundo dia de vida do bebê, durante o sono natural da criança. A fonoaudióloga da Maternidade Curitiba, Alessandra Graciosa, explica que é colocado um pequeno fone na estrada do ouvido do bebê. Esse equipamento emite um som que atinge a cóclea – órgão responsável pela audição – e, em seguida, capta o retorno desse estímulo, que acaba sendo transferido para um gráfico, que aponta a receptividade do som. Se for detectada alguma alteração nesse gráfico, o exame é repetido em trinta dias.
Segundo Alessandra, o teste é importante, porque muitas vezes os pais só percebem que a criança tem algum problema aos dois anos de vida, quando ela apresenta dificuldades na fala.
"O teste serve como um diagnóstico precoce e não para reverter a surdez. Com esse diagnóstico, é possível diminuir as seqüelas, pois muitos pensam que o surdo é mudo, mas na verdade ele não fala porque não é estimulado", comenta. A profissional ressalta que os recém-nascidos que passam pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) têm mais chances de apresentar problemas na audição, já que ficam expostos a ambientes e medicação que podem destruir as células auditivas.
Apesar de o teste da orelhinha ser obrigatório no Paraná – conforme a Lei 14.588, aprovada em dezembro de 2004 -, o exame ainda não é oferecido gratuitamente na rede pública de saúde, bem como não é coberto por todos os planos particulares. O custo médio do exame é de R$ 50. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) estuda uma proposta para implantar o teste nos hospitais do Estado.
Pesquisa do IPP vence prêmio na América Latina
Elizangela Wroniski
Uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Pelé Pequeno Príncipe (IPP) sobre a cura do câncer de córtex adrenal em crianças foi a vencedora do Prêmio Saúde Oncológica América Latina, na categoria trabalho científico, promovido pela Novartis Oncologia e Aguilla Saúde. Devido ao estudo, será possível estender para todo o Estado o teste que ajuda no diagnóstico precoce da doença, aumentando de 50% para 95% as chances de cura. No Paraná, aparecem 15 novos casos por ano.
O cientista Bonald Figueiredo, que coordenou as pesquisas, destaca que o estudo do IPP junto com outros quatro (mais dois brasileiros e dois mexicanos) foram considerados os mais importantes na área de câncer da América Latina, dentro de um universo de 170 projetos. "Mostra que estamos nos sobressaindo a outros países como Argentina, que tem a medicina mais avançada", comenta.
O câncer de córtex adrenal é mais comum no Paraná e São Paulo do que em outros lugares do mundo. Na população em geral ele acomete entre 0,2 e 0,4 por um milhão de crianças com até 15 anos. Mas nesses dois estados o índice sobe para 3,5 por milhão de habitantes com a mesma faixa etária. Mas o diagnóstico da doença vem acontecendo de modo tardio, e o índice de mortalidade passa de 50%. Mas agora as chances de cura podem subir para 95%. Os pesquisadores desenvolveram a tecnologia usada em um teste de DNA para a identificação da mutação genética responsável pelo desenvolvimento da doença. De todas as pessoas que apresentam o problema, 10% chegam a desenvolver a patologia. O teste é feito ainda na maternidade. Como no do pezinho, é recolhida uma gota de sangue para o exame do DNA. As crianças que apresentam a mutação genética começam a ser acompanhadas. Os médicos fazem exames quatros vezes ao ano até completar 15 anos. Caso desenvolvam a doença, é feita uma cirurgia para retirar o tumor na fase inicial, aumentando as chances de cura. "Normalmente quando procuram atendimento médico, os pais contam que os sintomas apareceram há mais de um ano. O diagnóstico tardio leva ao alto índice de mortalidade", explica o cientista. Entre os sintomas estão o aparecimento de pêlos nos órgão genitais da criança, acne, alteração de voz, ganho de peso e hipertensão. Como a tecnologia usada no teste foi totalmente desenvolvida pelos pesquisadores do IPP, os custos são baixos, sendo possível realizá-lo em larga escala. Enquanto um teste de DNA convencional custa cerca de R$ 400, a adaptação técnica feita pela equipe do cientista cai para R$ 2,70. As maternidades públicas e privadas de Curitiba já oferecem o teste desde o ano passado e num período de dois anos vai ser estendido a todo o Estado, beneficiando 360 mil crianças. Como o procedimento vai ser realizado em todo Paraná a intenção é cruzar os dados e entender a relação genética e ambiental ligados a este tipo de câncer. O IPP iniciou suas atividades em 2005 e conta com o apoio de Pelé para arrecadar fundos que vão financiar pesquisas que aumentem o percentual de cura de doenças em crianças.