A entrega de 1.411 moradias marcada para esta sexta-feira (06), no bairro Ganchinho, será ainda mais especial para Leonildo Monteiro, de 38 anos, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua no Paraná. Ele, que é ex-morador de rua, vai receber as chaves de um apartamento do Residencial Parque Iguaçu I. Outra ex-moradora de rua, Lourdes dos Santos, de 52 anos, também vai morar em uma unidade do mesmo conjunto.
“Em Curitiba, a política habitacional do Município garante atendimento para esta parcela da população. A população de rua pode se inscrever na Cohab, desde que a Fundação de Ação Social (FAS) emita um parecer garantindo que o cidadão reúne condições de administrar uma casa e gerenciar a própria vida”, explica o presidente da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), Ubiraci Rodrigues.
Leonildo chegou em Curitiba em 2005 atrás de emprego. Nada saiu como o esperado e ele acabou nas ruas. No ano seguinte foi embora para São Paulo, onde conheceu o movimento nacional de população de rua. Foi convidado para participar como coordenador do estado do Paraná e desde então luta pelos direitos desta parcela da população.
Em 2010 inscreveu-se na Cohab e dois anos depois conseguiu ser sorteado. No final de agosto assinou o contrato de financiamento e está a um passo de receber as chaves de sua casa, onde vai morar com a esposa. “É uma grande conquista, uma vitória que pode servir de exemplo para outras pessoas que querem deixar as ruas e reconstruir a vida”, afirma Leonildo.
Lourdes estava vivendo há dez anos na Unidade de Acolhimento Mais Viver, coordenada pela FAS, após passar duas décadas nas ruas. Quando soube da oportunidade de ter a sua própria moradia, ela se inscreveu na fila da Cohab e foi sorteada para um apartamento no Parque Iguaçu I.
Inscrições
Oitenta moradores de rua já se inscreveram na fila da Cohab, porém 21 deles tiveram a inscrição cancelada por falta de renovação. “Assim como qualquer pessoa que se inscreve na Cohab, os moradores de rua também precisam renovar anualmente a inscrição, senão ela é excluída do cadastro”, explica Ubiraci Rodrigues.
Eles participam dos sorteios de unidades do programa Minha Casa Minha Vida, juntamente com as famílias vulneráveis, que são aquelas que vivem em residências precárias. Uma cota de 3% das moradias de todos os empreendimentos é reservada para esta categoria da população, que engloba famílias vulneráveis e moradores de rua. O sistema de sorteio é uma exigência do programa federal para a faixa 1 (famílias com renda até R$ 1,6 mil).
Além de Leonildo e Lourdes, outros dois ex-moradores de rua já foram sorteados para adquirir moradia. Sandro Marcos de Oliveira foi o primeiro a ser beneficiado. Após viver por sete anos nas ruas como usuário de drogas, ele passou a ser atendido pela FAS, se recuperou e desde 2011 vive com a família no Residencial Vila Mariana, no Tatuquara. “Na FAS minha vida mudou, fiz curso de pintura e aprendi uma profissão para poder sustentar o lar”, conta.
Outro morador de rua foi sorteado para ocupar uma unidade no Residencial Imbuia, empreendimento que está em obras no bairro Santa Cândida. Ele foi convocado e já entregou a documentação com vistas a aprovar o financiamento, contudo a documentação ainda está em análise na Caixa Econômica Federal.
Parecer da FAS
Até o momento da entrega das chaves do imóvel existe um longo caminho, que exige principalmente força de vontade por parte do morador de rua. Ele precisa demonstrar interesse em deixar as ruas, além de passar por um período de adaptações, com objetivo de largar possíveis vícios e se tornar capaz de levar um novo estilo de vida.
Tudo começa com o Resgate Social, quando a FAS recolhe os moradores de rua e os abriga em sua sede, onde oferece higiene, alimentação, albergagem e atendimento de saúde. Em seguida são realizadas as chamadas investigações sociais, que consistem em cadastros e entrevistas para coletar a maior quantidade possível de dados a respeito do cidadão.
Depois de cadastrados, muitos se tornam frequentadores assíduos da FAS. Aqueles que demonstram vontade de sair desta condição são incentivados a fazer os documentos pessoais para em seguida poderem efetivar a inscrição na Cohab. Após passarem por cursos de capacitação e mostrarem que são capazes de cuidar da própria vida, a FAS emite o parecer para que eles concorram às moradias.