A dona de casa Marli da Costa Hey, 60 anos, foi fumante por mais de quatro décadas. Cardíaca e portadora de um marcapasso, ela consumia dois maços de cigarro por dia. “E chegava a ser pouco. Se pudesse, fumava mais”, conta. Após perder a mãe, vítima de um câncer de pulmão, e a irmã, por complicações decorrentes do tabagismo, Dona Marli resolveu atender aos intermináveis apelos por parte dos quatro filhos e três netos para parar de fumar.
“Primeiro tentei um monte de simpatias e outras fórmulas mágicas, mas lógico que nada disso resolveu. Até que um dia, na Unidade de Saúde Monteiro Lobato, aqui no Tatuquara, eu vi um cartaz oferecendo tratamento para parar de fumar”, disse. O anúncio citado por Dona Marli se refere ao Programa de Controle ao Tabagismo, da prefeitura.
O programa funciona desde o final da década de 90 e hoje, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, atende em média 300 pessoas por mês. O tratamento é totalmente gratuito e está disponível em 54 unidades de saúde de Curitiba. De acordo com a médica Claudia Weingaertner Palm, responsável pelo programa, as equipes envolvidas trabalham em três campos de ação: prevenção, criação de ambientes livres de cigarro e tratamento, baseado em medicamentos e terapias de grupo.
“Hoje focamos muito o trabalho na prevenção, para que, principalmente, os adolescentes não comecem a fumar. A indústria do tabaco trabalha com um dado que é assustador, no qual adolescente que experimenta o cigarro tem muito mais chances de se tornar um adulto fumante, e é onde entra o nosso trabalho. E não estamos falando só de cigarro. O narguilé também é um elemento perigoso para o vício em tabaco”, afirma Claudia.
De acordo com a responsável pelo programa, o número de ambientes livres de cigarro tem aumentado após a criação da Lei Antifumo, em vigor na capital desde agosto de 2009. “Essa lei, além de inibir o fumante, também livra aqueles que não fumam, mas também sofrem os males do cigarro quando estão num ambiente com fumantes, que são os chamados fumantes passivos”, explica.
Tipo de tratamento varia conforme o caso do paciente
Para o fumante que quer parar com vício, o Programa de Controle ao Tabagismo oferece duas linhas de tratamento, dependendo do caso de cada paciente. “Todo o caso é um caso e dependendo da situação clínica de cada paciente, indicamos a melhor linha de tratamento. Seja à base de remédios e adesivos ou apenas através das sessões de terapia de grupos. Em muitos casos, o ideal é associação dos dois tipos de tratamento, mas há pacientes que deixam de fumar apenas com a ajuda das terapias”, conta Ivete Boletta, cirurgiã-dentista e responsável pelo programa na Unidade de Saúde Monteiro Lobato.
Foi exatamente a linha de tratamento escolhida por Dona Marli. “Nos primeiros dias eu quase fiquei maluca, com muitas dores de cabeça, mal estar e ânsia de vômito. E nesse período eu perdi minha irmã. Estava perdida e chegaram a me oferecer remédios. Mas eu fui forte e consegui apenas com a ajuda das terapias”, conta.
Atualmente, Dona Marli está há três anos sem fumar. Segundo ela, sua vida mudou pra melhor e afirma que voltou a sentir o gosto da comida, não cheira mais à cigarro e se sente mais disposto. “Eu nem falo que melhorou 100%, eu digo que melhorou 500%. Além disso, sinto que meus filhos e meus netos me abraçam com mais vontade e isso me faz bem. Por isso, faço questão de contar minha história para todos e vou lá ao posto de saúde e participo das reuniões. É possível, tem muita gente boa ajudando e não custa nada. Só tem que ter força de vontade”, comenta.
Três em cada 20 pessoas atendidas conseguem parar
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Interessados devem procurar unidade de saúde. |
Apesar da história de sucesso de Dona Marli, quem trabalha no dia a dia com os pacientes que querem parar de fumar afirma que o trabalho é complexo. Segundo Ivete, num grupo de 20 pacientes que participam das sessões de terapia em grupo, no máximo três conseguem efetivamente parar de fumar. “Infelizmente, a taxa de sucesso é baixa. Mas se trata de um trabalho que lida com um vício que é físico, psicológico e comportamental . Então cada paciente que conseguimos livrar do vício do tabaco é uma conquista. É um enfarte e um AVC (acidente vascular cerebral) a menos no futuro. Nosso trabalho não pode parar”, comenta.
Serviço
Para participar do Programa de Controle ao Tabagismo, a Secretaria Municipal de Saúde orienta que os interessados procurem a unidade de saúde mais próxima para realizar a inscrição e obter todas as informações sobre o tratamento.
Lei Antifumo pegou em Curitiba
Hoje, Curitiba pode afirmar que seus ambientes fechados estão livres do cigarro. Pelo menos é o que afirma o diretor do Centro de Saúde Ambiental da Secretária Municipal de Saúde, Luis Armando Erthal. Segundo ele, três anos depois da lei municipal 13.254/2009, mais conhecida como Lei Antifumo, entrar em vigor, a quantidade de denúncias relativas ao uso de cigarro em ambientes não autorizados é ínfima.
“Logo após a implementação, recebíamos um número maior de denúncias por parte de clientes dos bares e restaurantes, e até de trabalhadores que reclamavam das empresas, que não cumpriam a lei. Mas hoje, o número de denúncias é muito pequeno, quase insignificante”, explica Erthal.
O diretor afirma que, com a Lei Antifumo, bares, restaurantes, empresas e qualquer outro ambiente púbico fechado são obrigados a orientar os clientes em relação à aplicação da lei. “É preciso estar muito bem sinalizado sobre a proibição. Além disso, é preciso indicar que o cliente que quiser fumar tem que ir para a rua, já que os fumódromos são proibidos”, completa.
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Proibição à utilização de cigarro deve estar bem sinalizada. |