Reunir uma turma de cerca de 50 alunos para uma atividade especial não é fácil. A agitação natural dos estudantes pela novidade é difícil de conter, e conseguir disciplina, então, sem se fala. São conversas paralelas, risadas em voz alta, aluno que não obedece a fila, menina cutucando menino, desatenção ao comando do professor e aquele que sempre chega atrasado. Mas a agitação é maior ainda se esses alunos têm entre 65 e 70 anos de idade e estão se reunindo para comemorar 50 anos de formatura.
Foi assim, nessa maior festa, que os alunos da primeira turma do Colégio Estadual do Paraná se encontraram ontem, em Curitiba, para participar de uma das atividades que irão marcar o cinqüentenário da turma. Eles fazem parte de um grupo de 482 alunos que no dia 15 de dezembro de 1956 concluía os estudos em um dos mais importantes colégios do Paraná – que foi criado em 1846 como Licêo de Coritiba e instalado em uma casa alugada no centro da capital, e que somente em 1943 passou a se chamar Colégio Estadual do Paraná. Entre as conversas, como não poderia deixar de ser, estavam muitas recordações de um período áureo, que foi marcado pela disciplina, descobertas e transformações. O professor universitário, que lecionou por 37 anos na disciplina de Futebol da Universidade Federal do Paraná, João Edgard Bandeira de Assis, lembra que o fato de participar das atividades esportivas no colégio foram fundamentais para sua carreira profissional. Ele começou a jogar futebol na escola e acabou participando da seleção brasileira de futebol amador, disputando partidas inclusive fora do Brasil. ?Foi uma época muito boa. Sei que causei até inveja nos meus colegas?, conta, relembrando do fato que o amigo de turma e ex-governador do Paraná, Jaime Lerner, ficava irritado por não poder participar do time do colégio.
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João Bandeira de Assis. |
Nas recordações também não poderiam faltar os mestres. O mais lembrado foi o professor José Ribeiro, que somente com sua presença fez calar um ginásio cheio de alunos. ?No dia da inauguração do anfiteatro estava a maior algazarra, mas quando ele entrou no local era possível ouvir até uma mosquinha voando pelo silêncio do alunos?, comenta Mari Kotaka. Foi essa turma também que vivenciou a primeira experiência com salas mistas, com meninas e meninos. Mas na hora do recreio a divisão continuava. ?O pátio era separado e o corredor que ficava entre a gente ganhou o apelido de Paralelo 38 – que fazia uma alusão à linha que separava as Coréias do Sul e Norte na guerra ocorrida na década de 50?, lembrou Edgar Barddal.
Grandes amores
Mas o fato que mais marcou a época desses alunos do Colégio Estadual foi mesmo os amores. Muitas casais se conheceram naquela época e continuam juntos até hoje. É o caso de Eliete e Edgar Barddal, casados há 45 anos. Ela lembra que a formação no colégio foi tão boa, que ao concluírem o ginásio os dois passaram no vestibular: ela em Farmácia e ele em Medicina. A participação no Centro Estudantil talvez teria sido apenas um pretexto para Mari Kotana ficar ao lado do amigo Paulino, com quem está casada há 49 anos. ?Lembro que era primavera de 1954 quando tudo aconteceu?, brinca Mari.
