O escritor Rubem Alves, renomado por seus títulos que abordam a filosofia da ciência e da educação, proferiu palestra ontem, em Curitiba, no Centro Universitário Positivo (UnicenP), para falar sobre os temas atrelados à ética, palavra que anda em evidência às vésperas das eleições. Para o professor, diferentemente do conhecimento técnico, a ética não pode ser ensinada – e saber seus princípios não é garantia que o comportamento de um homem será assim caracterizado. Mas desenvolver o gosto pela arte na área educacional, principalmente através da literatura, pode significar o despertar para colocá-la em prática, partindo de experiências alheias para o bom desempenho individual.
Parece complicado, mas a filosofia de Alves é simples e remete a uma realidade de nosso tempo: a educação e a ética deveriam estar interligadas; no entanto, as carências do sistema de ensino esbarram justamente na ausência de estímulo ao pensamento, enfocando-se tão-somente a técnica. ?Não basta acrescentar mais humanidade ao ensino fundamental, conforme disse o presidente Lula recentemente. O problema é que o espírito de formação do caráter está ausente dos princípios que regem a educação, porque neles os burocratas não pensam. Os políticos só pensam em acrescentar mais períodos, mais anos, mais escolas, quando deveriam raciocinar sobre o que está errado nesse sistema?.
Além desse fator, Rubem Alves vê também no despertar da compaixão o princípio da ética. Teólogo, acredita que é no ?sentir a dor do outro? que mora o segredo do agir eticamente. ?Os políticos responsáveis pelo apodrecimento de nossa sociedade são pessoas que sabem discernir entre o certo e o errado, mas falta neles esse sentimento de pensarem que, quando tiram algo para si, o subtraem de quem mais necessita?, critica. Motivo que, raciocina, não consegue levar os brasileiros a terem o mesmo sonho e lutarem em prol de sua realização. ?Gandhi e Martim Luther King, por exemplo, foram capazes de transformar os sonhos do povo em atos e palavras?, cita, finalizando com um questionamento ao País: ?Será que nosso pobre é tão pobre que seu sonho é ganhar o Bolsa Família e ser sustentando pelo governo??. Ele acredita que não.
