Tratar de assuntos como sexualidade, drogas e mudanças com o público adolescente ainda exige uma certa habilidade. Desde as mais freqüentes às mais delicadas, as dúvidas estão presentes entre os pais, na escola e também no dia a dia dos jovens. No entanto, para o psiquiatra Jairo Bouer, que trabalha com esse público há pelo menos 12 anos, o acesso à moçada é livre. O médico – que tem programas na televisão, em rádios e colabora em diversos jornais, revistas e sites – esteve na quinta-feira em Curitiba, discutindo o tema com mais de mil alunos do Colégio Santa Maria. À noite, a conversa do profissional foi com os pais.
"Tanto sexualidade quanto drogas são temas que estão presentes com muita freqüência e desde muito cedo na realidade dos jovens. A idéia é prepará-los melhor para tomarem as próprias decisões. Não é só informar, pois informações eles têm. O esforço deve ser em tentar achar um jeito de eles utilizarem essas informações", afirma Bouer.
De acordo com o profissional, o que o adolescente entende como o "cuidar dos pais" é bem diferente do que o pai entende por cuidar. "O que os adolescentes esperam é uma postura mais aberta e tranqüila sobre esses assuntos. Eles ficam constrangidos em conversar com os pais, mas devem sentir que quando precisarem, os pais estarão lá. Já os pais devem entender que proteger não significa cercar. A família protetora é aquela que consegue conversar e estar atenta às mudanças do filho", considera.
Atualmente, segundo Bouer, muitos pais já não estão mais tão presentes no dia a dia, acompanhando o filho. Por isso, é fundamental a troca afetiva, através do estabelecimento de um canal de diálogo. No entanto, o médico orienta que "a porta dos pais deve estar sempre aberta, mas eles não podem nunca abrir a porta dos filhos, investigando e invadindo".
Em relação às dúvidas mais freqüentes nos bate-papos com pais e adolescentes, Bouer diz não serem muito diferentes das de alguns anos atrás. "Em relação às drogas, acho que as dúvidas ainda são muito maiores. De um lado existe o fascínio, pelo modismo, e de outro existem os medos e tabus. No público entre 12 e 14 anos, as dúvidas maiores são em relação às mudanças pelas quais estão passando. As dúvidas de hoje são as mesmas desde quando comecei, em 1993", comenta.
Sobre o papel da escola, o médico acredita que os temas devem ser trabalhados de maneira transversal, ou seja, em diversas disciplinas e em atividades variadas. "As escolas têm se preocupado em estar abordando essas questões. O ideal é que não fiquem apenas nas aulas de Biologia e em eventos pontuais", aponta.
Mesmo considerando que na escola os adolescente se sentem mais confortáveis para conversar sobre sexualidade, drogas e outros temas, Bouer observa que é entre os amigos que o papo fica mais "sossegado", nem que seja para apenas contar vantagens e falar de muitas curiosidades.
Quanto à presença da internet na busca por essas informações, o médico conclui com um alerta: "Eles precisam aprender a usar melhor a rede. Ainda se percebe um certo deslumbramento que pode acabar colocando-os em risco".