Popularmente conhecido como fechados e mau-humorados, os curitibanos apresentam outra característica única: o modo de falar e seus mais variados dialetos. O editor-presidente do Instituto Memória & Projetos Culturais de Curitiba, Anthony Leahy, lançou o “Dicionário de Curitibanês”, que mostra o estudo do linguajar diferenciado do povo da capital do Paraná.
Natural da Bahia, Leahy adotou Curitiba e é hoje um dos principais estudiosos e conhecedores da história da capital do Estado. A necessidade de se comunicar melhor e de entender o palavreado diferente dos curitibanos fez o estudioso se aprofundar no tema. “Quando cheguei, notei a diferença no modo de falar das pessoas com mais de 40 anos em relação aos mais jovens. Isso me atiçou a curiosidade de querer conhecer o que foi perdido da identidade linguística dos curitibanos mais novos”, explicou.
“Quando chegava nas festas e nas reuniões sociais, procurava sempre as pessoas mais velhas para conversar, entender a cidade e o palavreado. Naturalmente nas conversas surgiam termos antigos e que hoje não são mais notados. A ideia foi resgatar isso, validando a identidade do curitibano”, emendou. O sotaque puxado dos curitibanos, que se apega muito ao fonema real da palavra, é conhecido nacionalmente e o identifica em outras regiões do Brasil. O popular “leite quente” é o termo que mais caracteriza essa expressão.
Leahy explicou que a dificuldade de comunicação dos primeiros imigrantes que chegaram à cidade foi mantida por muito tempo. “Curitiba teve uma imigração repentina e intensa. Com várias etnias, a necessidade era grande para conviver e aprender a se comunicar. Diante desse choque cultural, houve um processo de aculturação na cidade”, observou, destacando a forte influência europeia na capital paranaense. “As famílias que chegaram aqui continuavam falando suas línguas de origem. Porém, para a comunicação no Brasil, eles se apegavam muito ao fonema real das palavras e isso continuou até hoje”, justificou.
Para o estudioso, a mídia de massa e o modismo são os principais responsáveis para perda desta característica no modo de falar dos curitibanos mais jovens. “A língua que os mais novos estão falando é mais globalizada. Procuramos defender intensamente as regionalidades do Brasil que tanto orgulha a gente”.