Em Balsa Nova, na Região Metropolitana de Curitiba, existe um tesouro histórico praticamente perdido: o chamado Complexo do Tamanduá, onde se encontram a Capela de Nossa Senhora de Conceição do Tamanduá e um cemitério, construídos pelos jesuítas no século XVIII. Apesar de ter sido importante para o surgimento de Balsa Nova, Campo Largo, Palmeira e Lapa, existem poucos registros históricos sobre a área. Apenas os moradores da região conhecem as histórias que cercam o lugar.
Um grupo de alunos do Colégio Presidente Kennedy, em Campo Largo, está tentando resgatar a sensibilidade da população para cuidar, conhecer e visitar o complexo. Além desses pontos com alto potencial ecoturístico e de várias cachoeiras, em um raio de 18 quilômetros de distância existe ainda a Ponte dos Arcos, uma grande obra de 60 metros de altura construída em 1889, que abriga uma linha de trem.
O professor de História e coordenador do projeto, Irenilson Lubacheski, conta que a idéia para trabalhar com o Complexo do Tamanduá partiu de um concurso nacional de uma indústria automobilística, que tem como objetivo chamar a atenção de regiões sobre locais históricos esquecidos. Assim, o grupo de cinco alunos (formado por Fernanda Guadagnin, Franciane Mocelin, Priscila Gaspar, Dayane Vieira e Vinícius Prone) escolheu a área, cujo valor na história paranaense é imenso.
A Capela de Nossa Senhora de Conceição de Tamanduá, conhecida apenas pelos mais velhos em Campo Largo e Balsa Nova, é a segunda igreja do Paraná e a quinta de origem jesuítica no Brasil. Ela está em bom estado de conservação, mas não guarda as características originais da época depois de algumas reformas. “As lendas contam que os jesuítas guardavam ouro na capela. Várias ações aconteceram na igreja na tentativa de achá-lo, mas o ouro não foi encontrado e a igreja ficou danificada. O mesmo ocorreu no cemitério, pois diziam que as pessoas eram enterradas com suas riquezas pessoais”, explica a estudante Fernanda, participante do projeto. Outra história da época está relacionada com um túnel pelo qual os jesuítas fugiram das forças indígenas. “Existe uma pedra solta no chão, parecendo realmente uma tampa, mas não há comprovações”, afirma.
Temendo depredações e roubos, a Cúria Metropolitana, que detém os direitos da capela, fez a transferência da santa para uma igreja em Palmeira no começo do século XX. O grupo está precisando lidar com algumas dificuldades, como conseguir a chave da capela para fazer as análises. A igreja está fechada desde 2002.
Cemitério
Há poucos registros sobre o cemitério do Complexo do Tamanduá, mas os moradores da região dizem que o cedro que existe nos fundos do local foi plantado em sua inauguração. Os alunos recolheram amostras e estima-se que a árvore tenha 360 anos. Após quatro reformas, o cemitério também perdeu algumas características originais. Os muros da época, feitos essencialmente de pedras encaixadas, foram ganhando extensões de diversos materiais, inclusive de cimento.
A Ponte dos Arcos e o Contestado
Segundo o professor de História Irenilson Lubacheski, a Ponte dos Arcos, construída no início do período republicano a pedido de Marechal Deodoro da Fonseca, foi um dos cenários da Guerra do Contestado, ocorrida na década de 1920. Tudo começou quando o governo federal não pagou o serviço da empresa Brasil Railway, responsável pela construção da linha de trem que liga o Oeste de Santa Catarina e do Paraná até o porto de Paranaguá.
Como forma de pagamento da dívida, ofereceu 15 quilômetros de terras de cada lado da linha férrea para a empresa. “Mas existiam pessoas morando lá. Os fazendeiros se armaram e foram brigar por suas terras”, comenta o professor. “O governo republicano venceu, mas ficaram feridas na população. A empresa foi paga mais tarde com um empréstimo feito aos Estados Unidos.”
Para o grupo, é necessário despertar nas pessoas da região a importância do local. “Elas não sabem que existe o Complexo do Tamanduá, com pousadas, cachoeiras e muita história, e que ele está perto da gente. Elas prefrem viajar para outros estados”, afirma a estudante Priscila.
De acordo com Lubacheski, o trabalho já surtiu efeito dentro da própria escola e está começando a dar resultados em Campo Largo. A reunião dos trabalhos vencedores no concurso dará origem a um livro de História regional e, ao mesmo tempo, brasileira. (JC)
