Alunos de escolas municipais e estaduais estão agindo contra as pichações nos muros dos colégios. Incentivados pela campanha da Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil (ACGB), os estudantes limpam os vestígios que os pichadores deixaram na escola. Eles também ajudam a limpar os muros dos vizinhos e da comunidade do bairro. Ontem foi a vez das mil crianças da Escola Estadual Gelvira Correa Pacheco, na Barreirinha, em Curitiba, fazer a boa ação.
Estela Rohde, coordenadora da campanha, explica que a visita em cada escola tem duração de dois dias. Na primeira etapa, os alunos assistem a palestras e recebem informações sobre as pichações. “Nós ensinamos que eles devem ligar para a Guarda Municipal (telefone 1532) ou para a polícia (190), caso vejam algum pichador agindo”, conta Estela. “Os alunos também são orientados a observar bem a pessoa para fazer a descrição precisa para a polícia prendê-la.”
A coordenadora expõe que é necessário um trabalho de educação para inibir a vontade de fazer pichações. De acordo com ela, essa manifestação era ligada às classes pobres. Mas a vontade de infringir a lei também desperta o interesse dos alunos de classe média. “Isso se manifesta nas pichações dentro do colégio, nas carteiras e nas portas dos banheiros, por exemplo. Isso cria um pichador em potencial”, avalia.
Com essa abordagem, a campanha ajuda a direção da escola a realizar outros trabalhos de conscientização. “A escola também está fazendo uma campanha contra a violência porque a pichação está ligada a isso”, comenta Carmem Rosário de Freitas, coordenadora pedagógica do estabelecimento de ensino. “Nós aproveitamos para resgatar valores da vida, como respeito e responsabilidade”, afirma.
Depois de receberem todas as informações, os alunos são convidados a colocar em prática tudo o que aprenderam. Uma mistura de cal e corante é usada para fazer a nova cobertura dos muros. “É a hora de eles verem que não é fácil deixar um muro branquinho”, brinca Estela. Os estudantes ficam entusiasmados em ajudar a recuperar o patrimônio do bairro. “É legal porque a gente ajuda a melhorar o visual da escola”, conta Bruno Vinícius de Oliveira, 14 anos. “A partir de agora, eu vou ajudar outras pessoas do bairro a despicharem os muros.”
A comunidade também ganha com a ação dos alunos. Muros de casas vizinhas ao colégio também receberam atenção. “Não é justo deixar a escola bonita e em volta estar tudo pichado. As crianças também fazem esse trabalho no bairro”, comenta Estela.
A orientação da coordenadora, para crianças e adultos, é pintar a parede assim que ela for pichada. “Os pichadores preferem aqueles muros já ocupados por outras pichações. Com isso, eles têm certeza que o recado vai estar exposto por mais tempo”, conta Estela. “Esse é um alerta para a população mantê-los afastados.” Ela acredita que medidas como essa podem diminuir em até 80% o número de pichações.
A campanha é realizada desde 2000 e visitou 32 escolas. Estima-se que mais de 30 mil alunos já participaram do projeto. A cal usada na cobertura é doada por empresas de Almirante Tamandaré. Os outros materiais são fornecidos pela organização do programa.