Educação

Estudantes aprendem sobre trânsito seguro na teoria e na prática

“O adulto se preocupa com levar multa, não em obedecer as regras de trânsito porque é uma atitude segura. Essa mentalidade tem que mudar. Por isso estamos fazendo este trabalho com as crianças nas escolas, para que elas cresçam dando prioridade à segurança no trânsito”, resumiu a agente da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) Juliana Prudlo durante atividade do projeto Trânsito com Educação com alunos da Escola Sônia Maria Coimbra Kenski, em Santa Felicidade.

Entre outras atividades, as agentes da Setran lotadas na Escola Pública de Trânsito (EPTran) vão passar o ano de 2016 visitando 10 escolas municipais e três Centros Municipais de Educação (CMEIs) para realizar este trabalho. Elas primeiro dão uma pequena palestra às crianças e, depois, levam as turmas para fora da escola, para que reconheçam a sinalização de trânsito ao redor e vejam na prática o que viram na sala de aula. São seis módulos de atividades, um por mês, que falam sobre temas diversos, como história do trânsito, ver e ser visto, sinalização, entre outros.

Bronca

Na visita à Escola Sônia Maria Coimbra Kenski acompanhada pela Tribuna, as crianças de 9 e 10 anos (4.º e 5.º anos) fizeram isto. E já saíram portão afora dando bronca nos motoristas que passavam fazendo coisas erradas. “Olha lá, o homem não tá usando cinto”, “Aquela mulher passou falando ao celular”, diziam os alunos.

“As pessoas acham que, porque o deslocamento é curto, porque só vão pertinho de casa, ou por ser periferia, onde nem sempre tem fiscalização da Setran, que não precisam usar o cinto ou podem falar ao celular que não levarão multas. Mas isso não está certo. Temos que respeitar as regras por quê? Qual é a primeira coisa que devemos nos preocupar no trânsito?”, perguntava a agente Prudlo. “Segurança”, respondiam as crianças, com a palavra já na ponta da língua.

Multiplicadores

Foto: Felipe Rosa

No trajeto fora da escola, as crianças aprenderam muitas coisas, como: não atravessar na lombada (e sim, um pouco afastado dela); atravessar a rua em linha reta (não em diagonal) e em pontos que permitam visualizar os veículos nos dois sentidos; o significado das cores das faixas pintadas no chão e a velocidade perto das escolas (30 km/h); respeito às vagas especiais (idosos e deficientes); que cães também devem usar cinto dentro do carro; e que crianças só podem andar no banco da frente quando atingirem 1,45 metro de altura.

“O legal disto é que eles levam o que aprenderam para casa, viram multiplicadores. Repreendem os pais e avós. Brigam porque o pai não colocou o cinto ou porque a mãe está falando ao celular dirigindo. Elas fazem os pais mudarem a visão que têm do agente”, diz Juliana, que se sente feliz com o trabalho que faz.

“O agente de trânsito é muito discriminado. Mal tratado, muitas vezes. Esse trabalho de educação melhora muito a autoestima. E para mim é como uma vocação, uma missão educar, pois você tem retorno das crianças. É recompensador trabalhar com algo que causa mudança de comportamento”, relata a agente, que também realiza trabalhos educacionais com os pais dos alunos.

Pequenos conscientes

Além do trabalho com as crianças do 4.º e 5.º anos e dos CMEIs, as agentes da Setran estão iniciando este ano a conscientização junto às crianças dos 1.º anos (5 e 6 anos). Os pequenos também assistem a uma palestra em formato de teatro, com as personagens Vovó Maria e sua neta Júlia, que simulam diversas situações de trânsito. Depois, vão para um minicircuito de trânsito (com semáforo e faixa de pe,destre) montado pelas agentes no pátio da escola. Lá, as turmas colocam em prática o que aprenderam com a vovó Maria e a Júlia. E as crianças se divertem. Riem e sorriem do começo ao fim e, claro, aprendem brincando.

Independência precoce

As agentes da Setran têm começado o trabalho educativo com as crianças menores por conta de uma constatação séria: quanto mais na periferia estiver localizada a escola, maior a quantidade de crianças que se deslocam sozinhas para a aula. Algumas ainda têm a responsabilidade de pegar os irmãos mais novos nos CMEIs e levar para casa. Em alguns bairros de Curitiba, essa porcentagem de crianças “independentes” chega a 80%. “Nós entendemos que os adultos têm a necessidade de trabalhar e, por isto, se obrigam a deixar as crianças se deslocarem sós. Mas também não ensinam como fazer isso de forma segura”, relata uma das agentes participantes do projeto educativo. (GU)

Trabalho surtindo resultados

Escola Pública de Trânsito (EPTran) funciona desde 2014. Foto: Felipe Rosa

A Escola Pública de Trânsito (EPTran) tem um limite de atendimento de escolas, anualmente. Por isto, a Secretaria de Educação é quem escolhe quais escolas serão contempladas pelo projeto, a cada período. Apesar de ainda ser recente, o projeto de educação nas escolas já trouxe resultados.

“Ano passado, trabalhamos na Escola Professor Dário Persiano de Castro Vellozo, na CIC. Lá, a maioria das crianças vai e volta sozinha da aula e havia um número considerável de atropelamentos no entorno. Quase toda semana acontecia algo por lá. Depois do trabalho que fizemos na escola, não tivemos mais nenhum relato de acidente com crianças ou atropelamento. Não temos números para comprovar o que estamos falando, é apenas uma percepção. Mas uma percepção que nos deixa muito felizes”, comemora a agente Juliana Prudlo.

Educação pra todos

Além deste trabalho com as crianças, a Escola Pública de Trânsito, que existe desde 2014, tem outras ações de educação. Atua na capacitação de agentes de trânsito, idosos (que pela mobilidade reduzida, são as maiores vítimas de atropelamentos), motoristas do transporte coletivo, ciclistas, motociclistas (maiores vítimas e provocadores de acidentes), estudantes do ensino médio (que estão afoitos para pegar logo a carteira e transferem essa “pressa” para o volante), entre outros públicos.

São ações feitas tanto fora, quanto dentro da EPTran, onde há um minipercurso de trânsito, onde os “alunos” colocam em prática o que viram nas capacitações teóricas. “Percebemos que não adianta investir só na infraestrutura ou na fiscalização para reduzir os índices ruins de trânsito. A educação tem um papel fundamental nesse trinômio fiscalização + engenharia + educação”, explica Sandro Luis Fernandes, diretor da EPTran. 

Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (artigo 320), todo órgão que recolhe dinheiro de multas deverá aplicar os valores em sinalização, engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e educação de trânsito. Mas a EPTran têm ciência de que os resultados podem não ser tão rápidos. A Holanda levou 40 anos para promover mudanças no trânsito, desde as primeiras ações de educação.

Bicicleta nas escolas 

Foto: Gabriel Rosa/SMCS

A utilização consciente e segura da bicicleta nas ruas da cidade é o foco do programa Bicicleta na Escola, iniciado neste mês de maio pelas secretarias municipais de Trânsito (Setran) e de Educação. O foco são alunos do 8º ano de, escola da rede municipal de ensino, que assistirão palestras e vídeos em sala de aula com temas relacionados à ciclomobilidade em Curitiba. Nos próximos meses, serão atendidos mais de 1, 8 mil alunos em 45 turmas de 11 escolas municipais.

“Conversamos sobre como se deve andar de bicicleta nas ruas da cidade, a utilização dos equipamentos de segurança, a sinalização do ciclista no trânsito, apresentamos o Guia do Ciclista da Setran. O objetivo é formar bons ciclistas em Curitiba e incentivar uma cultura de respeito ao trânsito na cidade”, diz o coordenador de mobilidade urbana da Setran, Gustavo Garrett.

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