A pressão para passar no vestibular e a conseqüente necessidade de se dedicar ao máximo nos estudos estão deixando os candidatos estressados. Além disso, eles não comem regularmente, não praticam exercícios físicos e não dormem como deveriam. Esses fatores prejudicam a qualidade de vida dos estudantes, o que também influencia, de forma negativa, o rendimento nas salas de aula.
Para diminuir o estresse dos jovens, o Curso Dom Bosco realizou ontem um teste para avaliar o nível em que os alunos se encontram. A medição consistiu em tirar uma gota de sangue e colocá-la em um aparelho. O resultado sai em um minuto. "Esse foi um teste de lactato, um produto metabólico que associamos ao estresse. Conseguimos mensurar o estresse fisiológico dos alunos. O teste é muito parecido com o que é aplicado em atletas. Aqui, houve uma adaptação", conta Keith Sato, pesquisadora do Laboratório de Exercício Físico, do curso de Educação Física da Faculdade Dom Bosco, responsável pela medição.
De acordo com ela, a preocupação maior dos pesquisadores está relacionada com a qualidade de vida. O estresse influencia em outros setores do cotidiano da pessoa nessa situação. "O jovem só se preocupa em estudar e acaba não cuidando de outros fatores, como a alimentação e a atividade física. Lá na frente, eles vão influenciar muito o estudante", comenta Keith. A maioria está pecando pela falta de atividades físicas e de lazer, além de não ingerir alimentos saudáveis. Alguns também não estão dormindo direito. A pesquisadora explica que o sono ajuda na fixação do aprendizado. "Em uma das fases do sono, existe a fixação de tudo o que foi falado na sala de aula. Durante o sono, também é liberado o hormônio do crescimento. Se o estudante não faz exercício físico e não dorme corretamente, acontecerá uma hipotrofia muscular." Depois de passar pelo teste, os alunos receberam orientações de como podem amenizar o estresse na reta final de preparação para o vestibular.
Resultados
Os testes apontaram que o nível de estresse está muito alto entre os vestibulandos. Segundo a escala de medição, se o aluno conseguir índice de até 1,2 ponto, a situação é satisfatória; de 1,3 até 2,5 pontos, regular; e acima de 2,6 pontos, preocupante. O estudante Roger Moreira, de 18 anos, quer cursar Odontologia. O seu teste indicou 7 pontos. "Achava que ia dar alguma coisa, mas fiquei surpreso porque treino futebol de salão e sempre saio com os amigos. Acredito que o resultado tenha sido pela natureza. Fico estressado com tudo", avaliou.
Eduardo Brunetti Cunha, de 19 anos, quase alcançou o amigo: atingiu 6 pontos no teste. "Eu não esperava tudo isso. Acho que o nível foi alto porque já é o segundo ano que estou tentando passar no vestibular e a pressão é muito grande, está acumulada. Faz dois anos que não tenho final de semana ou feriado", afirmou o estudante, que pretende cursar Biologia. Eduardo faz academia e, segundo as orientações dos especialistas, precisa melhorar a alimentação. Já para Bruno Miranda, 18 anos, que quer fazer faculdade de Engenharia Mecânica, o índice foi um pouco menor: 3,4. "Eu não me sinto tão estressado assim. Mas muitos colegas estão ficando doidos, ainda mais faltando pouco tempo para o vestibular", observou.
Para quem quer passar, não existe feriado
O clássico caso do estudante que larga tudo para estudar está representado por Nathalie Harada, 17 anos, candidata ao curso de Odontologia. O estresse dela foi considerado regular, apesar da estafante rotina que adotou neste ano. Ela estuda em casa das 21h às 5h da manhã quase todos os dias. Às 7h, vai para o cursinho. "Se tiver sono, durmo das 13h até às 16h. Às vezes nem durmo", relata. "Se isso mostra melhoras no estudo, eu faço porque é só este ano. Quando sinto muito cansaço, tento manter a calma e descanso um pouquinho."
O consolo para muitos vestibulandos é justamente pensar que a rotina estressante acontecerá apenas por um ano. Mesmo com o feriado, ontem os alunos do curso Expoente tiveram aulas. Muita gente faltou, mas cerca de 300 estudantes fizeram questão de estar cedo na sala de aula para não perder nada. "Perder finais de semana e feriados uma vez na vida não vai matar. Às vezes, é um dia que pode garantir uma vaga no vestibular", opina Eduardo Setti, candidato aos cursos de Farmácia e Química Ambiental.
A mesma opinião é compartilhada por Lisiane Breseghello e Bruna Castro, que desejam entrar para Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia. "Muita gente não leva a sério. Mas fazemos de tudo para no ano que vem estar na faculdade." Quando perguntados sobre o local onde gostariam de estar para aproveitar o feriado, todos responderam juntos com ênfase: a praia seria o destino certo se não tivessem que estudar.