Estradas paranaenses sofrem com descaso

A PR-090, conhecida como Estrada do Cerne, deveria ser uma das alternativas para quem quer “fugir” do pedágio da BR-277, que liga Curitiba ao norte do Estado. A rota está incluída no programa “Estradas da Liberdade”, do governo do Estado, que tem o objetivo de criar esses trechos alternativos. Mas após um ano e oito meses – quando o governo falava no início das obras – pelo menos 50 quilômetros entre Bateias e Castro continuam sendo só pó. Até agora, somente 16 quilômetros entre Campo Magro e Bateias já estão asfaltados nas proximidades de Curitiba. Em Castro, uma frente de trabalho iniciou atividades na semana passada e outros oito quilômetros – que fazem parte de um acesso de Castrolanda à PR-090 – também já foram asfaltados.

Porém, nos 50 quilômetros que estão sem asfalto quem sofre são os motoristas que têm que passar todos os dias por lá. Alternativa ao pedágio, aliás, ninguém acredita que seja. “Quem precisa trabalhar só usa a BR-277 pedagiada. Quem é que vai andar nisso aqui? Só quem não tem alternativa mesmo”, reclamou o caminhoneiro Hamilton Cordeiro, que passa há 15 anos na Estrada do Cerne no trecho entre Bateias e Santa Cruz, em Campo Largo – cerca de 30 quilômetros. “Se este trecho que eu faço fosse asfaltado, eu levaria 40 minutos. Mas hoje levo uma hora e meia”, reclamou.

O caminhoneiro Anderson Simões também sofre com a estrada. Ele usa a PR-090 todos os dias, pois depende dela para seu sustento. “Levo 3 horas para fazer o trecho de Curitiba até São Silvestre, em Campo Largo. E além da falta de asfalto, não tem sinalização nem na parte asfaltada”, disse. Para o diretor do Sindicato Rural de Castro, Eduardo Medeiros Gomes, o asfalto na Estrada do Cerne é um anseio bastante antigo. “Continuamos pagando três pedágios por aqui e só não usamos a estrada porque ela ainda não está asfaltada”, reclamou. Para ele, as estradas da liberdade são positivas. “Creio que vai forçar até a melhoria dos serviços das concessionárias, pois vão ficar mais atentos para manter o bom estado de suas rodovias”, disse.

Getúlio de Oliveira, que anda de carro de passeio com freqüência na Estrada do Cerne, acredita que se for realmente asfaltado, o trecho será uma boa alternativa para quem quer fugir do pedágio. “Quem anda com caminhão diz que é um grande atalho. Mas tem que terminar a estrada, se terminar todo mundo vai usar”, comentou. Oliveira mora em Três Barras de Cima e freqüentemente vai a Bateias, Campo Largo e Curitiba, sendo que o trecho sem asfalto é a alternativa mais rápida para chegar.

O secretário estadual para Assuntos Rodoviários, Rogério Tizzot, explicou que o trecho de estrada de chão deverá começar a ser asfaltado no segundo semestre do ano que vem. “Vamos iniciar o projeto em outubro e devemos concluir em março do ano que vem”, disse. Sobre a falta de sinalização, o secretário explicou que no Cerne o trabalho ainda não foi concluído. “Uma segunda camada de asfalto será colocada e a sinalização será melhorada.”, informou.

Iniciativa divide opiniões de usuários

Muita gente que depende da utilização das estradas para o próprio sustento nem pensa em utilizar vias alternativas, sobretudo se elas estiverem malconservadas. No caso dos representantes comerciais, é isto que ocorre: muitos deles preferem pagar pedágio e trafegar numa via segura a enfrentar o pó e a falta de sinalização, já que algumas “estradas da liberdade” ainda não foram asfaltadas
e outras, que já foram, têm sinalização deficiente.

Uma pesquisa informal feita pelo Conselho Regional dos Representantes Comerciais no Paraná (Core-PR) com alguns de seus associados revelou que muitos profissionais do ramo preferem as estradas pedagiadas. O presidente do Core, Paulo César Nauiack, disse que não é totalmente a favor do pedágio nos moldes de hoje. “Acho que a ta,rifa deve ser mais justa”, afirmou. Segundo ele, grande parte de seus associados prima mais pela segurança e rapidez, em detrimento de não gastar com a tarifa. “Claro que temos o lado positivo das estradas alternativas, mas se estiverem em boas condições. Nossos associados reclamam muito das estradas não pedagiadas”, observou Nauiack.

Já quem trabalha com o transporte de cargas, principalmente os caminhoneiros, prefere as estradas alternativas. Só que em bom estado. Na opinião do presidente da Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Paraná (Fetropar-PR), Epitácio Antônio dos Santos, mesmo não tendo condições favoráveis para receber tráfego pesado, as “estradas da liberdade” continuam sendo uma boa opção.

“Sabemos que em alguns trechos, como o da PR-280, por exemplo, que é difícil conservar mesmo, justamente por causa dos caminhões carregados.

Claro que as alternativas não estão tão boas como as pedagiadas, mas estão razoáveis”, afirmou. Santos acredita, porém, que as rodovias alternativas poderiam ser melhor sinalizadas. “Creio que teria que ter mais fiscalização e balanças”, opinou. Para ele, o pedágio é muito alto. “O pedágio no Paraná está supervalorizado e os serviços, muitas vezes, ficam a desejar”, disse. (MA)

Asfalto pela metade

Os outros dois trechos que fazem parte das “Estradas da Liberdade” são a rota Maringá – Cascavel – Foz do Iguaçu, que passa pelas rodovias PR-323, PR-486 e BR-467; e a rota Paranavaí – Londrina, passando pela PR-218, abrangendo as cidades de Rolândia, Sabáudia, Astorga, Ângulo e Atalaia. No primeiro trecho, o motorista também passa pelas cidades de Cianorte, Umuarama e Toledo. As estradas desviam quatro pedágios da BR-277. Na outra rota, três praças são desviadas.

No primeiro caso, segundo Rogério Tizzot, grande parte das estradas já estão pavimentadas. Faltam ainda – por enquanto não há licitação – os trechos entre Cruzeiro do Oeste e Umuarama (PR-323) e entre Assis Chateaubriand e Toledo (PR-239 e PR-317).

“E em muitos trechos já asfaltados faltam algumas recuperações”, completou.
Já na segunda rota, segundo Tizzot, quase tudo já está pavimentado, faltando apenas algumas recuperações. O que falta concluir é a rodovia entre as cidades de Atalaia, Ângulo e Iguaraçu, na PR-218.

Corte de trechos e investimentos

Em janeiro de 2007, o governo do Estado anunciou que além destas três rotas, outras duas – uma entre o sudoeste do Estado e Curitiba e a outra entre Campo Mourão e Ponta Grossa – também seriam alternativas para “fugir” do pedágio. Porém, neste ano foram confirmadas apenas três.

O total de investimentos até 2010 em todas as “estradas da liberdade” é de R$ 280 milhões, sendo que no início, quando eram cinco trechos, eram R$ 200 milhões. Segundo Tizzot, os valores mudam para mais ou para menos depois que se tem os projetos em mãos. (MA)

AS RODOVIAS DO GOVERNO DO ESTADO PROMOVIDAS COMO FUGA AOS PEDÁGIOS

ROTA 1 – PR-090

Cidades – Curitiba, Campo Largo, Castro, Tibagi, Telêmaco Borba, Ortigueira Desvio de 4 praças de pedágio

Investimento até 2010: R$ 187,7 milhões

Trechos já concluídos: 16 km da PR-090 entre Campo Magro até a 2.ª ponte do Rio do Cerne, em Bateias e 60 quilômetros da PR-340 entre Castro e Tibagi

Falta concluir: 50 quilômetros depois da 2.ª ponte do Rio do Cerne

Em obras: 8 km da PR-340, entre Castrolanda e PR-090

ROTA 2 – PR-323, PR-486 e BR-467

Cidades – Maringá, Cianorte, Umuarama, Toledo, Cascavel e Foz do Iguaçu Desvio de 4 praças de pedágio

Investimento até 2010: R$ 66,1 milhões

Trechos já concluídos: PR-323, entre Paiçandu e Cruzeiro do Oeste, entre Umuarama, Cafezal do Sul e Rio Piquiri e duplicação entre Maringá e Paiçandu. Na PR-488, entre o rio Santa Quitéria, Vera Cruz do Oeste e Céu Azul.

Na PR-486, entre Assis Chateaubriand e rio Piquiri

Falta concluir: na PR-323, entre Paiçandu e Água Boa; entre Cruzeiro do Oeste e Umuarama. Na PR-239 e PR-317, entre Assis Chateaubriand ,e Toledo

ROTA 3 – PR-218

Cidades: Rolândia, Sabáudia, Astorga, Ângulo e Atalaia

Desvio de 3 praças de pedágio

Investimento até 2010: R$ 29,5 milhões

Obra em andamento: na PR-218, entre Atalaia, Ângulo e Iguaraçu

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