Foto: João de Noronha |
Situação da Estrada da Ribeira melhorou com novo pavimento e sinalização. Mas devido ao tráfego pesado, já há sinais de deterioração. continua após a publicidade |
?Cada real que um governo deixa de aplicar na conservação de uma rodovia significa R$ 8 de prejuízo no futuro com consertos.? A informação é do secretário de Estado dos Transportes e diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PR), Rogério Tizzot, com base em um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU). ?Nosso custo aumenta em média 20% por causa de uma rodovia em más condições. O ideal é fazer um programa de manutenção permanente?, afirma o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado do Paraná, Fernando Klein Nunes. Apesar de a manutenção das estradas do Paraná ter dado lugar ao conserto nos últimos anos, tanto os órgãos responsáveis pelas rodovias quanto os usuários defendem que o ideal é investir em manutenção. Pelo menos daqui para frente.
Nos últimos dois anos foram diversos os casos, inclusive que culminaram em brigas judiciais porque nem o Estado nem a União queriam assumir 945 quilômetros da malha rodoviária paranaense que necessitavam de reparos urgentes. O DER-PR gastou cerca de R$ 1 bilhão com as estradas estaduais em quatro anos, sendo que boa parte desse dinheiro foi para recuperar rodovias precárias. Já o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) gastou cerca de R$ 42 milhões na operação tapa-buracos em 2006. ?As rodovias estaduais estão em boas condições faz mais ou menos um ano. E a melhoria nas federais começou agora. O tapa-buracos do ano passado foi uma lástima?, analisou Nunes.
As rodovias federais no Paraná são o principal alvo de críticas. ?Acho que, de certa forma, estão abandonadas. A Estrada da Ribeira (BR-476) é um caso clássico que sempre denunciamos. Hoje ela está muito boa. Foi feita uma renovação esplêndida, está com pavimento novo, está sinalizada, mas como ela foi arrumada em uma região que tem muito transporte de madeira, veículos que geralmente andam com excesso de peso, ela já está sendo deteriorada?, reclama o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos do Paraná (Sindicam), Diumar Bueno. A BR-163, a BR-272, a BR-487 (Estrada Boiadeira) e a BR-153 (Transbrasiliana) são estradas federais no Paraná com trechos mais críticos.
Apesar dos problemas, o coordenador do Dnit no Paraná, David Gouveia, defende que o péssimo estado em que as estradas federais ficaram nos últimos anos foi incomum e garantiu que a manutenção será feita. Mas antes, explicou, é preciso superar problemas burocráticos. ?Temos 20 lotes de manutenção em licitação. É o programa de manutenção e conservação. O programa emergencial foi atípico. Agora estamos entrando numa situação rotineira?, afirmou. Segundo Gouveia, o Dnit-PR tem R$ 300 milhões para gastar com manutenção este ano e tem potencial para receber mais R$ 200 milhões. Entretanto, a briga das empreiteiras que querem fazer as obras atrasam o processo, já que as empresas que perdem as licitações entram com diversos recursos.
BR-476
A BR-476, em toda sua extensão, é um exemplo do problema da conservação. O asfalto foi recuperado no ano passado, a pintura das faixas e demais sinalizações foram feitas e as placas de trânsito foram recuperadas. No entanto, já é visível que os buracos estão começando a aparecer novamente. Mas, além dos buracos, o agropecuarista Acir Loreno Pinto, que usa a estrada para escoar sua produção de soja e milho, completa a lista de problemas: ?Aqui precisa de acostamento e tem que fazer limpeza do mato mais constantemente?.
Segundo ele, sem o acostamento os caminhões que estragam ou furam um pneu correm risco porque precisam parar no meio da pista para fazer o conserto. O borracheiro Ademar dos Santos, que trabalha às margens da BR-476, conta histórias que reforçam os problemas causados pela falta de acostamento. ?Muitos pneus chegam aqui só na carcaça porque quando estragam os caminhoneiros não querem parar para trocar por causa do perigo. Rodar assim acaba com o pneu?, diz. ?Outro dia soubemos de um caminhoneiro que foi atropelado porque estava trocando um pneu?, completa.
Abuso de peso é muito comum, aponta o Sindicam
Foto: Ciciro Back |
Estradas federais contam com 13 balanças, mas nem todas estão operando. Nas estaduais, há 39. |
Problemas com segurança são uma reclamação constante dos usuários das estradas paranaenses. E a questão não é relacionada somente a problemas de violência, mas também a deficiências na fiscalização. Além do medo de assaltos, os motoristas, em especial os caminhoneiros, defendem um controle mais efetivo do excesso de peso e das condições dos veículos que trafegam pelas estradas.
?As rodovias estaduais estão em um estado bom. O maior problema é a segurança, porque hoje não temos um sistema de fiscalização de excesso de peso eficiente. E vemos muita gente abusando do peso?, reclama o presidente do Sindicam, Diumar Bueno. Ele lembra que as conseqüências do excesso de peso são a deterioração precoce do asfalto e os acidentes de trânsito que esses veículos podem causar, já que o freio fica comprometido.
O secretário de Estado dos Transportes e diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR), Rogério Tizzot, informa que as estradas estaduais já têm 12 balanças fixas, 27 móveis e mais 18 móveis devem ser colocadas nos próximos meses. ?Com esse número achamos que é possível controlar os problemas?, defende. Tizzot conta também que apresentou uma proposta ao Conselho Nacional dos Secretários de Transportes dos estados brasileiros, o qual preside, para que o País busque desenvolver uma tecnologia que não permita que os caminhões dêem a partida com excesso de peso ou um sistema automático que mostre o peso da carga.
Estradas federais
As estradas federais paranaenses contam atualmente com 13 balanças, porém nem todas em funcionamento. Mas o coordenador do Departamento Nacional de Infra-Estrutura e Transportes no Paraná (Dnit-PR), David Gouveia, prevê que todas voltem a funcionar ainda este ano. ?Faz uns quatro anos que o programa de balanças sofreu problemas com o fim do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER). Agora estamos reorganizando a casa?, explica.
Ao contrário do sistema estadual, quem é responsável por operar as balanças federais é a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Uma portaria do Ministério dos Transportes passou a incumbência desse tipo de fiscalização ao Dnit em 2005. Entretanto, em 2006 uma liminar da Justiça Federal de Minas Gerais devolveu a atribuição à PRF.
?A situação do peso é bem complicada. A polícia só pode fiscalizar por nota fiscal. E alguns caminhões andam com mais de uma nota. Sabemos a quantidade de carga por meio da cubagem, quando é possível fazer. Se temos alguma suspeita levamos a alguma balança?, explica o chefe de operações da PRF no Paraná, inspetor Gilson Luiz Cortiano. O problema é que, em alguns casos, não há balanças por perto. ?A fiscalização tem que ser em conjunto. O Dnit tem que colocar a balanças e a polícia tem que estar presente?, conclui. (AB)
PRE e PRF mapeiam pontos críticos para direcionar ações
Foto: Walter Alves |
PRF precisa de efetivo maior. |
Como não podem cobrir toda a área necessária, as Polícias Rodoviárias Estadual (PRE) e Federal (PRF) mapeiam os locais mais críticos com relação a acidentes e assaltos para direcionar as operações. A PRE, que tem 64 postos policiais para atender cerca de 15 mil quilômetros, não divulga o efetivo de agentes que têm. Já o chefe de operações da PRF, Gilson Luiz Cortiano, diz que o Paraná precisava de pelo menos 800 policiais rodoviários federais para cobrir com eficiência os 1,1 mil quilômetros de responsabilidade federal. Hoje a PRF conta com 530 homens.
?Hoje temos 13 postos em funcionamento e mais dois que devem ser abertos em breve, um deles em Catanduvas e outro no Contorno Leste. Há a previsão de mais um também para Tunas. É preciso lembrar que as principais rodovias estão sob nossa responsabilidade?, comenta Cortiano. ?Com o efetivo que temos atendemos o básico, que é o policiamento ostensivo nas rodovias e o combate ao crime. Temos um mapeamento do que ocorre e procuramos nos direcionar?, emenda.
Como a polícia não pode estar presente em todos os locais e principalmente porque os criminosos monitoram as ações dos policiais, Cortiano recomenda que os motoristas evitem lugares desertos em horários noturnos. Segundo ele, as regiões próximas às cidades merecem mais cautela também porque são locais onde a fuga é facilitada. ?Muitos caminhoneiros informam a polícia judiciária sobre os assaltos e não nos informam. Precisamos saber para direcionar o policiamento?, afirma.
O chefe de operações da PRE, tenente Scheldon Vortolin, explica que a polícia estadual não divulga o número de policiais por questões de segurança. ?Mas conseguimos fazer frente à nossa realidade com o efetivo que temos?, alega. Vortolin informa que a PRE também atua em cima de mapeamento das rodovias. (AB)