Estrada inacabada trava evolução de Cerro Azul

Uma viagem de uma hora e meia num percurso de 56 quilômetros de uma estrada de terra sem condições. Essa é a via sacra dos moradores de Cerro Azul, cujo único acesso é a PR-092, com saída de Rio Branco do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. Repleta de buracos, desníveis e curvas, a rodovia foi construída em 1982, mas nunca foi concluída.

Em abril do ano passado, uma ordem de serviço foi expedida pelo governo estadual para a retomada das obras, que começaram seis meses depois. A meta para as duas empreiteiras que ganharam a licitação era asfaltar dois quilômetros por mês, o que não foi cumprido. O prazo para o término das obras é de um ano.

Em dias de sol, a poeira é o grande problema. Por causa dela e dos desníveis do terreno, uma carreta pode levar até quatro horas para cumprir o trajeto. Nos períodos de chuva, a pista fica praticamente intransitável. Os veículos atolam na lama e, por muitas vezes, os motoristas precisam dormir na estrada, esperando a ajuda chegar. Se alguém necessita de atendimento médico emergencial, corre o risco de morrer durante o percurso.

A PR-092 inacabada não permite que Cerro Azul se desenvolva, pois não consegue atrair investimentos. A grande fonte do município é o plantio de laranja e mexerica em pequenas e médias propriedades. O prefeito da cidade, Adjahyr Bestel, estima que a produção seja de 14 milhões de caixas por ano. “Cerca de 80% é perdido, pois a estrada faz com que as frutas caiam do caminhão. Se chover, até esperar a estrada ter condições novamente, a laranja estraga”, conta. A safra é colhida entre abril e setembro. Além das frutas, a cidade depende da estrada para escoar a produção de madeira, feijão e gado.

Cerro Azul também tem o problema do valor das mercadorias. Como as empresas têm muita dificuldade para levar produtos, o custo aumenta e é repassado ao preço final. A população, que já não tem grande poder de compra, acaba sendo prejudicada.

DER

O diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Paraná, Rogério Tissot, explicou que a empresa Lemos da Nova, responsável pelas obras no trecho de Rio Branco do Sul até o Rio Piedade (27,8 quilômetros), deverá ser substituída até março. De acordo com ele, a empresa não está dando conta do serviço. “Já há alguns meses estamos insistindo para que ela melhore o ritmo das obras. Como não fomos atendidos, vamos substituí-la e transferir a obra para uma outra empresa da licitação”, comenta. Tissot afirma que se a Lemos da Nova não deixar as atividades, uma multa de R$ 15 mil por dia será estipulada.

A Gava, a empreiteira que realiza as obras do Rio Piedade até Cerro Azul, está com 6,5 quilômetros com base para o asfalto e dois quilômetros com o tratamento superficial prontos. Segundo Tissot, o governo também fez o pedido para a aceleração dos trabalhos. Ele acredita que daqui um mês a empresa vai poder cumprir a meta de concluir dois quilômetros a cada 30 dias.

Povo já faz até piada

A ponte sobre o Rio Piedade, localizada na metade do caminho entre Rio Branco do Sul e Cerro Azul, é envolta em histórias contadas pelas famílias da região. Segundo Zenaide Cordeiro Machado, a estrutura tem mais de cem anos e foi colocada no local por engano. “Eles se enganaram de lugar. Confundiram Rio Branco, no Acre, com Rio Branco daqui. Mas naquela época, só passava carroça”, conta a moradora. “Eles perceberam tarde que não era o lugar certo. Já que foi difícil de trazer a ponte, ficou aí mesmo”, revela.

A ponte é feita totalmente de ferro e o piso é de madeira. A ação do tempo e as enxurradas desgastaram a estrutura, que está toda enferrujada. Mesmo com o engano, a ponte sobre o Rio Piedade é utilizada até hoje. Outra ponte, de cimento, foi construída há mais de 20 anos e nunca foi concluída.

O DER, por meio de assessoria de imprensa, informou que a ponte foi colocada muito antes do projeto da rodovia. O órgão não acredita que ela tenha aparecido lá por engano e não soube precisar a data de inauguração da estrutura.

Conclusão da obra divide os habitantes

A conclusão da obra divide os 17 mil habitantes de Cerro Azul. Alguns já perderam a esperança. Outros ainda acreditam. “No ano passado, o governo renovou a nossa expectativa. Mas o desespero já está voltando”, afirma o prefeito Adjahyr Bestel.

Para dar um pouco de alegria em meio a uma situação complicada, fazendeiros e moradores da região fazem apostas sobre a estrada. “Como é uma polêmica antiga, o pessoal gosta de fazer uma aposta”, comenta o prefeito. “Faz mais de um ano que ela existe e já está em onze bois. Eu acho que vai chegar em vinte”, palpita.

A comerciante Zenaide Cordeiro Machado, dona de uma lanchonete na beira da rodovia, conta que o pessoal aposta mesmo. “Mas é uma brincadeira. Eles vão fazer churrasco e tomar cerveja de qualquer jeito, saia a estrada ou não”, revela.

Sofrimento

Ela conta que não existe comunicação para aqueles que vivem ou trabalham na beira da PR-092. “A gente sabe das notícias quando os outros falam”, afirma. Zenaide nasceu na região e trabalha há 14 anos na lanchonete. Para ela, a estrada não vai ficar pronta. “A gente já se acostumou com o sofrimento. O que fazemos agora é nos programar para eventuais emergências.”

O carro da família fica preparado para ajudar quem tiver dificuldades na estrada. “Ele está sempre em ordem para qualquer coisa. Sempre tem acidente por aqui ou caminhões que quebram”, comenta. “Se a gente não ajudar, quem vai?”, questiona.

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