O Asilo São Vicente de Paula em Curitiba começa a dar importantes passos para o cumprimento do Estatuto do Idoso. Parte das 138 idosas vão deixar o sistema de internato para morar em casas-lares. Nelas vão poder viver uma rotina parecida à de uma casa, resgatando sua autonomia. O asilo também vai oferecer os chamados centros-dia, onde os idosos passam o dia fazendo atividades e à noite voltam para a família.
O padre Pedro Bortolin assumiu a direção do asilo em setembro. As Irmãs Passionistas, que estavam à frente da entidade desde a sua fundação, há 78 anos, vão se dedicar exclusivamente à área da educação. O padre Pedro comenta que a criação das casa-lares e os centros-dia são passos importantes. "Precisamos tirar o Estatuto do papel e colocá-lo em prática", fala.
Serão construídas no terreno da entidade cinco casas-lares, cada uma para seis pessoas. Elas terão orientação e acompanhamento de uma equipe multidisciplinar formada por médicos, psicólogos e outros profissionais. Para o padre, a mudança será fundamental para a vida das idosas. "Vamos resgatar a individualidade, elas viverão com mais dignidade", comenta.
Os centros-dia começarão atendendo 20 idosos. Enquanto estão na instituição, os velhinhos participarão de diversas atividades, como artesanato e pintura. Além disso, terão todo acompanhamento médico. À noite, retornam para casa. "Assim, o idoso não fica sozinho em casa e mantém o vínculo familiar", afirma o padre. Também serão implantados no asilo um projeto de integração com outras entidades e até uma academia de hidroginástica.
Mas o padre afirma que para colocar todo o projeto em prática será necessária a parceria com a comunidade. Hoje, o asilo possui convênios com a Prefeitura e com o governo do Estado, mas sobrevive principalmente de doações.
Solidão
Cada idosa tem uma história de solidão para contar. Cerca de 40 delas têm transtornos psiquiátricos, 42 são totalmente dependentes e as demais possuem algumas limitações cognitivas. Com tantos problemas, foram abandonadas pela família. Algumas chegaram na casa quando ainda eram crianças. Algumas não têm a menor idéia do que é viver em uma casa.
Cecília Dropa, 60 anos, viveu a metade da vida no asilo. Para ela, a casa-lar vai representar um recomeço de vida. No entanto, a falta que essas mulheres sentem de seus familiares não será resolvida. São poucas as que mantêm vínculo com a família e, mesmo assim, as visitas são raras.
Cecília conta que veio da cidade de Wenceslau Braz quando sofreu um derrame. Depois do tratamento no Hospital de Clínicas, foi para o asilo. Não teve filhos e a irmã que mora em Curitiba está muita velha para visitá-la. Os sobrinhos não têm tempo de vê-la porque trabalham. "Sinto falta, é a família da gente", fala.