Cerca de quinhentas crianças, filhas de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná, fizeram ontem pela manhã a entrega simbólica de uma pauta de reivindicações, pedindo maior agilidade na solução de problemas agrários existentes no Estado, a integrantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
A entrega fez parte das ações de encerramento do 5.º Encontro dos Sem Terrinha, realizado nos últimos dois dias. O evento acontece desde o ano 2000, sempre nas proximidades do Dia das Crianças, e visa à construção de uma consciência política e social entre os filhos de pessoas que vivem em assentamentos e acampamentos. “Estamos reunidos para estudar nossos direitos e levar às autoridades nossas necessidades”, disse o participante do encontro Roberto Francisco Pereira, de 14 anos. “Mesmo sendo crianças, temos que conhecer nossos direitos e saber lutar por eles. Queremos boa alimentação e boa educação”.
A principal reivindicação do grupo é a construção de escolas nas áreas dos assentamentos e acampamentos. Segundo o integrante do MST e um dos coordenadores do encontro dos sem terrinha, Adilson Poleze, existem cerca de 32 mil crianças em idade escolar assentadas ou acampadas no Paraná, mas a maioria delas não encontra escolas nos locais onde vivem. “A situação educacional é muito precária, principalmente nos acampamentos. Diariamente, muitas crianças viajam de duas a três horas de ônibus, correndo risco de morte para chegar até a escola”, declarou. “Em uma sociedade desigual como a nossa, as crianças são as que mais sofrem. Por isso, elas precisam conhecer seus direitos para não serem usadas e exploradas”.
As crianças foram recebidas pelo engenheiro agrônomo e assistente técnico do Incra, Newton Bezerra Guedes. Ele falou aos meninos e meninas presentes que o instituto não tem recursos específicos para investir em escolas, mas que está sempre disposto a discutir o assunto e propor parcerias junto ao governo do Estado e ao Ministério da Educação (MEC).
Requião
Em seguida, os pequenos militantes se dirigiram ao Palácio Iguaçu, onde foram recebidos pelo governador Roberto Requião. Elas o presentearam com uma cesta de produtos agrícolas, cantaram músicas a favor da reforma agrária e pediram a construção de novas escolas nas áreas onde o movimento está instalado.
Ao discursar às crianças, o governador anunciou a abertura de um concurso público para contratação de mais 10 mil professores estaduais e disse que o ensino de qualidade é uma obrigação do Estado: “Vocês têm todo direito de estarem pedindo o que estão pedindo, pois educação é direito de vocês”, declarou. “Tenho certeza que daqui (do Encontro dos Sem Terrinha) não sairá gente que entende que tudo é comércio e vereador que vota a favor da Monsanto (multinacional que produz sementes transgênicas), como aconteceu ontem (anteontem) em Brasília”.
No final da solenidade, Requião propôs que houvesse uma quebra no protocolo e convidou o chefe da Casa Civil, Caíto Quintana, a declamar uma poesia às crianças. Quintana atendeu ao pedido prontamente e declamou uma poesia intitulada Galo de Rinha.