Da janela da sua casa, no quilômetro 4 da BR-476, a dona de casa Deverli Dionísia de Oliveira está vendo a transformação que o município, onde mora há 55 anos, está passando. Primeiro foi o movimento de carros de aumentou, e agora são as empresas que começam a se instalar. A expectativa de Deverli é que em uma delas o filho, que vai completar 17 anos, consiga uma vaga e possa ficar na cidade junto com ela. Esse sentimento de esperança de uma vida melhor é relatado pela maioria dos cerca de sete mil habitantes de Adrianópolis, município que fica no Vale do Ribeira, no sudeste do Paraná, considerada uma das regiões mais pobres do Estado.
O motivo da euforia dos habitantes é a conclusão de um trecho de pouco mais de 60 quilômetros de pavimentação, ligando Tunas a Adrianópolis. A obra, que demorou cerca de 45 anos para ficar pronta e foi concluída no final de 2005, já está dando sinais da retomada do desenvolvimento social e econômico da região. Isso pode ser confirmado com a quantidade de investimentos que começam a pipocar. A empresa Valor Florestal fez uma aplicação inicial de cerca de R$ 30 milhões, no mês de setembro, para a aquisição de uma área de 2,5 hectares em Adrianópolis.
O diretor florestal da empresa, Edson Antônio Balloni, diz que um dos motivos para a escolha da área foi devido à vocação para silvicultura da região e facilidade de escoamento. "Além disso, o preço da terra é mais baixo, e a estrada ajuda a levar os produtos até Curitiba e de lá para Paranaguá", cita Balloni. A meta da empresa – que tem bases em Jaguariaíva (PR), Rio Negrinho (SC) e interior de São Paulo – é construir na cidade uma base industrial, que irá dobrar os atuais 50 empregos diretos que já foram gerados.
Potencial
No mês de março, um grupo italiano também deve confirmar a instalação em Adrianópolis de uma empresa de transformação de resíduos de madeira em energia. A intenção dos empresários é utilizar um ramal de estrada de ferro existente no município para escolar a produção para os portos de Santos e Paranaguá. A expectativa é que ela gere 180 empregos diretos e outros 100 indiretos.
Outro investimento esperado com ansiedade pela população é a construção da usina hidrelétrica do Tijuco Preto. A concessão para a instalação da usina, que pertence à Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do Grupo Votorantim, existe desde 1988. Ela prevê a utilização do Rio Ribeira do Iguape, que corta os estados do Paraná e de São Paulo, para a geração de 144 megawatts de energia. O custo estimado do empreendimento é de US$ 100 milhões e, em seis anos, prevê a geração de 4 mil empregos, o que equivale a 50% da população de Adrianópolis. A execução da obra ainda está esbarrando em protestos e pendengas ambientais.
O prefeito de Adrianópolis, Osmar Maia – que cumpre o seu terceiro mandato – está muito otimista, e acredita que em curto prazo a cidade irá mudar seu perfil econômico, pois hoje a Prefeitura é quem oferece o maior número de empregos, sendo que os aposentados e funcionários públicos são os que sustentam o município. "Nossa população passou de 18 mil para 7 mil habitantes nas últimas décadas. Agora a gente já observa que elas estão voltando, pois não se encontra mais casas para alugar na cidade", pondera. Outro ponto positivo destacado por Maia é a valorização das terras. O alqueire que era vendido por R$ 1,5 mil há cerca de dois anos, hoje está sendo comercializado a R$ 6 mil.
Isolamento faz parte do passado
A falta de acesso é uma das situações que a população quer esquecer. Por não ter o asfalto concluído, Adrianópolis ficou por incontáveis vezes isolada. Em dias de chuva, os veículos encalhavam e a população tinha que seguir a pé por uma estrada enlameada. A dona de casa Deverli Dionísia de Oliveira lembra que, por duas vezes, a cidade ficou desabastecida e os mantimentos para suprir os mercados da cidade foram trazidos de helicóptero. "A pior vez foi quando caiu a ponte da Ribeira", recorda. A ponte, que liga Adrianópolis à cidade paulista de Ribeira, foi destruída em 1997 por uma enchente. O novo acesso foi reconstruído dois anos depois.
O comerciante Sidnei Straub diz que a pavimentação da rodovia "abriu as portas da esperança de Adrianópolis". Ele conta que nem a visita de parentes de outras regiões do Estado ele recebia mais, pois eles temiam não poder voltar para a casa. Agora a situação está mudando. No final do ano passado, sua loja registrou um dos maiores movimentos nos doze anos de funcionamento. "As pessoas vinham do interior de São Paulo para o litoral do Paraná e paravam aqui para comprar filmes e outros produtos", comenta.
Para os taxistas José Carlos Rodrigues Santos e Jairo Baldon Santos, a conclusão da estrada não trouxe muitas mudanças. Porém eles já observaram um movimento maior de carros nas ruas. "A nossa esperança é que movimente ainda mais a cidade, pois sem a estrada isso aqui estava quase deserto", fala Jairo. Os taxistas só esperam que o desenvolvimento da cidade não atrapalhe a tranqüilidade dos moradores, já que hoje, segundo eles, ainda é possível dormir com a casa e carros abertos sem ser surpreendido por marginais.
Turismo
No único hotel da cidade, a taxa de ocupação dos quartos passou de 7% para 12%. O proprietário José Maria Oliveira Martim considera esse crescimento ainda pequeno, se comprado com a década 80, quando hospedava grandes grupos, inclusive do exterior, que vinham à cidade atraídos pela exploração comercial de calcário e minérios. Porém o empresário está apostando na exploração do turismo – rural, contemplativo e ecológico – como uma grande sacada para mudar esse cenário. Hoje, ele está à frente do Fórum Sustentável de Adrianópolis, que, em parceria com órgãos como o Sebrae e Senar, está capacitando os moradores para explorar as propriedades para o turismo. (RO)
Asfalto muda perfil de outras cidades
Assim como Adrianópolis está começando a mudar seu perfil, outras cidades do Vale do Ribeira já estão colhendo os frutos que vieram com o asfalto. Uma dessas cidade é Tunas, que, com a conclusão da rodovia em 2000, registrou crescimento populacional de 300%.
No Censo do IBGE de 2000, o município tinha 3.940 habitantes. De acordo com o assessor especial da Prefeitura, Levi Renato Camargo, hoje a estimativa é que passem de 12 mil habitantes. "Só no Programa Saúde da Família são mais de 8 mil pessoas cadastradas, e mais de 3 mil alunos matriculados nas escolas." Ele destaca também que perto de 50 indústrias, principalmente do ramo da madeira, se instalaram em Tunas – 80% da produção é exportada. No rastro, vieram outros estabelecimentos, como supermercados e lojas de confecção.
Apesar dos avanços, o assessor destaca que a cidade não estava preparada para esse rápido crescimento e sofre com problemas de abastecimento de energia, comunicação e esgoto. Os recursos também são repassados com base no Censo do IBGE. Apesar disso, Camargo diz que a Prefeitura tem conseguido administrar esses problemas e destaca que existem desafios a serem cumpridos. Um deles é melhorar a renda per capita da população, que é, em média, 33% do salário mínimo, fazendo com que o município seja considerado um dos mais pobres do Paraná. O índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,68 está abaixo da linha de pobreza – que é de 0,70. O planejamento familiar é outro desafio, pois a média de filhos é de 5 por família e o índice de gravidez precoce (entre mulheres de 11 a 18 anos) é de 46%.
Outra cidade que percebeu mudança com a conclusão da estrada da Ribeira foi Bocaiúva do Sul. O assessor de gabinete da Prefeitura, Élcio Berti, um dos mais ferrenhos defensores do término da obra até Adrianópolis, diz que o município vem conseguindo atrair parte dos moradores que deixaram a cidade na década de 60. Além disso, tem atraído investimentos na área turística, o que pode fomentar a criação de um pólo rural na região. (RO)