Escolas deixam de lado a cultura afro-brasileira

Cerca de 45% da população brasileira é negra. Entretanto, nas salas de aula dos colégios públicos e particulares a cultura afro-brasileira geralmente é deixada de lado, prevalecendo a cultura européia. O assunto foi discutido ontem, no auditório do Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba, por professores e funcionários de escolas públicas, integrantes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), do Fórum Paranaense em Defesa da Escola Pública e da Secretaria de Estado da Educação.

No dia 9 de fevereiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a Lei 10.639, que prevê a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira nos estabelecimentos de educação básica, tanto para estudantes do ensino fundamental quanto do médio. No momento, diversas escolas no país começam a discutir formas de implementação da Lei.

“A grande maioria dos professores em atividade não teve formação adequada para trabalhar o assunto”, comenta o secretário-geral da APP-Sindicato, Luiz Carlos Paixão. “Deve-se tomar muito cuidado e iniciar um processo de educação dos educadores.”

Segundo ele, é função do Estado fazer com que os professores estejam preparados para ensinar questões ligadas à cultura negra. “A cultura negra deve estar presente no currículo escolar do primeiro ano do ensino fundamental ao último ano do ensino médio, inserida principalmente nas disciplinas de História, Educação Artística e Literatura”, diz.

Luís Carlos avalia que a implementação da cultura negra no currículo escolar é uma grande vitória. Discussões sobre o assunto são realizadas desde o início da década de setenta. “Fora da África, o Brasil é o país que possui a maior quantidade de negros em sua população”, lembra. “O ensino da cultura afro-brasileira vai fazer com que a criança negra resgate a sua identidade e contribuir com a democracia racial.”

Para o secretário de Estado da Educação, Maurício Requião, o sistema educacional brasileiro é extremamente discriminatório, sendo que os negros ainda encontram maiores dificuldades que os brancos para chegar ao ensino superior. “Hoje, a escola reproduz a discriminação presente na sociedade”, lamenta. “Somos um país de negros, mas são os brancos que ocupam a maior parte dos cargos de chefia. A sociedade não se reconhece em suas raízes e se acha branca.”

Na opinião da superintendente de educação da secretaria, Yvelize Arco Verde, o desconhecimento das origens negras é que leva ao preconceito. Segundo ela, como a cultura negra não é inserida no processo educacional, a grande maioria das pessoas passam a ter apenas referências européias ou norte-americanas. “Na nossa sociedade, falta inclusive literatura que aborde de fato a cultura negra”, aponta. “É necessário que haja um resgate urgente de nossas raízes e que a cultura negra seja de fato inserida em nosso sistema educacional e valorizada por todos.”

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo