Rapidamente, o problema de violência nas escolas se espalha pelo Paraná. Este ano, as primeiras notícias de atos violentos contra professores apareceram na capital. Em seguida, foram as escolas de Londrina que enfrentaram situações bastante críticas. Agora, Cascavel é que pede socorro. Coagidos, os educadores até falam em desistir do magistério.
Ivanildo da Silva é professor há 15 anos. Ele afirma que, em todo esse tempo, nunca teve o sentimento que tem hoje. ?Sinto-me acuado. Eu estou sentindo na pele o que meus colegas que atuam na periferia vêm enfrentando há algum tempo?, diz. O educador conta que, desde o início desta semana, vem sendo ameaçado por um aluno. Ele, que dá aula para o ensino médio noturno, diz que tentou resolver essa situação na escola, com a equipe pedagógica, mas não adiantou. ?Minha preocupação agora é a seguinte: se eu não tiver mais segurança não vou mais trabalhar?, lamenta.
A presidente da APP-Sindicato em Cascavel, Valci Maria Mattos, é professora aposentada. Durante os trinta anos que passou em sala de aula, ela diz nunca ter enfrentado uma situação como a atual, em relação à violência nas escolas. ?Enquanto sindicato, apontamos algumas ações que viriam amenizar o problema. Uma delas seria a redução no número de alunos em sala de aula. As salas estão inchadas, dificultando o trabalho do professor. Outra solução seria em relação à questão social, no fornecimento de oportunidades a esses jovens, que, por falta delas, acabam indo para o caminho da violência?, afirma.
Apesar da seriedade da situação, a educadora ainda considera a ação educativa mais positiva da que a coativa (com a ação da polícia). ?Isso vem acontecendo em várias cidades do Estado. Não são casos isolados. Há de se pensar a educação para um novo tempo. É uma situação difícil a que estamos enfrentando. De repente, a escola não está preparada para suprir novas necessidades. Essa situação da violência deve ser pensada como um todo?, sugere Valci.
Patrulha
De acordo com o tenente Tavares, comandante da Patrulha Escolar, do 6.º Batalhão de Polícia Militar de Cascavel, não são comuns os excessos nas escolas, mas às vezes existem. Quando atos mais perigosos acontecem, segundo ele, não é dentro da escola. Ele conta que, esta semana, uma arma de fogo (pistola 38) foi apreendida com um aluno, na saída do colégio. ?O que estamos fazendo para impedir isso é um trabalho preventivo. Nas escolas que apresentam mais problemas, trabalhamos com um efetivo maior e informando pais, funcionários e professores da escola?, afirma.
Professores e servidores estão parados
Lígia Martoni
Os professores de Cascavel entraram ontem no terceiro dia de paralisação. Já os servidores paralisaram as atividades pelo segundo dia consecutivo. Eles passaram o dia no centro da cidade fazendo panfletagem e expondo à população os motivos da greve, que é temporária – até quinta-feira. Na segunda-feira, os grevistas fazem uma passeata da igreja matriz até a Prefeitura. A categoria pede 5% e aguarda nova proposta do município ao reajuste oferecido de 3%.
O sindicato que representa os servidores (Sismuvel) considerou a adesão até o momento aquém do esperado. ?Mas esperamos que melhore nos próximos dias?, disse o presidente, Noraci Nonato. Segundo ele, o setor que mais aposta no movimento é a educação: pelo menos a metade dos servidores estaria paralisada. Já o sindicato que representa os professores (Siprovel) contabiliza adesão de 98% da categoria. De acordo com os sindicalistas, nenhuma escola está com quadro completo, mas em algumas está tendo aula. É o caso, por exemplo, da Nicanor Silveira Schumacher. ?Não estou contente com a administração municipal, nem com a categoria, mas não acredito que a greve seja a melhor solução no momento?, opina a professora Adriana Fontana.
A Prefeitura sustenta que, apesar da paralisação dos servidores, todos os serviços municipais estão funcionando normalmente.