Na segunda-feira pós-vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), estudantes e muito candidatos fizeram do feriado da Proclamação da República, ontem, um dia em que o amarelo virou a cor da indignação, numa clara alusão aos problemas na prova que comprometeu novamente a credibilidade do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A mobilização partiu dos próprios estudantes, que se submeterem às provas dos dias 6 e 7 de novembro. Eles se organizaram por meio de sites de relacionamentos e o movimento ocorreu em diversas cidades do Estado e do País.
Em Curitiba, os estudantes se concentraram na Boca Maldita e partiram em direção à Praça Santos Andrade. Boa parte das mais de 300 pessoas que protestavam eram candidatos de cursos bastante concorridos como Direito e Medicina, onde qualquer décimo de nota define a classificação.
“Estudei o ano todo e no dia do Enem vi fiscais mais nervosos do que eu e extremamente despreparados. Eles davam uma informação e minutos depois voltavam atrás, ou seja, mesmo quem não fez a prova amarela foi prejudicado”, relatou a candidata de Medicina Maria Lara Picolo, de 17 anos, que respondeu às provas branca e amarela no Enem.
“Nos dois dias de provas, houve pessoas que levaram calculadoras para o banheiro, usaram relógios nas provas, enfim, uma série de irregularidades que ninguém interferiu. Basta entrar nos sites de relacionamentos para ver vários depoimentos de pessoas que assumem tais fraudes”, aponta a estudante, que também acredita no suposto vazamento da redação. “Só para o presidente que foi tudo bem no Enem”, contesta.
“É um absurdo que com tantas irregularidades ainda queiram que a UFPR, reconhecida pela seriedade, adote integralmente o Enem como fez a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)”, avalia a candidata a uma vaga em Direito na UFPR, Maria Fernanda Moretti Balvedi, de 17 anos.
Sugestões
A também candidata a Medicina Marilisa Mibch, de 18 anos, defende que a solução mais democrática para o impasse seria realizar uma nova prova com caráter facultativo.
“Fiz a prova azul nos dois dias e acho que fui bem, não gostaria de repetir, mas como o erro foi do Ministério da Educação (MEC), não é justo que o estudante seja ainda mais prejudicado com uma decisão arbitrária. A prova facultativa traria para o candidato o poder de escolha sobre o seu futuro”, defende Marilisa, que foi prejudicada pelo Enem neste ano e em 2009. “Faz dois anos que presto vestibular, estudo muito porque o curso de Medicina é super concorrido, porém vem o MEC e apronta isso sucessivamente”, lamenta.
Vestibular
A UFPR confirmou que não irá alterar o calendário do vestibular 2010-2011 por conta de uma possível repetição de provas do Enem. O resultado da primeira fase está confirmado para o dia 25 de novembro, assim como a realização da segunda fase, que ocorrerá nos dias 5 e 6 de dezembro.
A divulgação do resultado final sairá no dia 21 de janeiro de 2011. A Universidade Estadual de Londrina (UEL), que também realizou as provas da primeira fase no último domingo, vai divulgar o resultado no dia 26 de novembro. As provas da segunda fase estão marcadas para os dias 5, 6 e 7 de dezembro.
Passeatas pelo País
Redação, com agências
A desorganização no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também foi motivo de manifestações de estudantes que aproveitaram o feriado de ontem para protestar em pelo menos outras três capitais, além de Curitiba.
Em São Paulo, cerca de 200 estudantes bloquearam duas faixas da Avenida Paulista e provocaram um congestionamento de pouco mais de um quilômetro. Em Belo Horizonte, cerca de 300 estudantes participaram de passeata, que foi encerrada na Praça da Liberdade, região centro-sul da capital mineira. Em Recife, o protesto foi na Avenida Conde da Boa Vista.
Na região do Vale do Rio São Francisco, na divisa entre Bahia, Pernambuco e Sergipe, a desconfiança acerca da segurança envolvida na aplicação do exame está levando estudantes a pressionar a reitoria da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) a adotar outra forma de seleção. O Enem é a única forma de ingresso na instituição.