Equoterapia, um tratamento em que tempo “voa”

Uma terapia que parece brincadeira. Um tratamento em que os pacientes não veem o tempo passar. Assim é a equoterapia, método que usa o cavalo e o ambiente como instrumentos terapêuticos em casos, principalmente, de pessoas com necessidades especiais. Há quatro anos, o Instituto Andaluz desenvolve esse trabalho na Sociedade Hípica Paranaense.

Vitor, de nove anos, e Davi, de três, nasceram prematuros e tiveram paralisia cerebral. A mãe dos meninos, Solange de Fátima Campos, conta que a doença afetou somente a capacidade motora. Há mais de um ano, ela começou a levá-los para a equoterapia. “A fisioterapia é boa, mas aqui a gente vê o resultado rapidinho. Em poucos meses já percebi uma melhora no equilíbrio”, relata.

Solange conta que os filhos não tiveram dificuldade em se adaptar à nova terapia. “O Vitor, na primeira vez que fez, não chegou nem a chorar e já queria mais”, diz. “Eles ficam muito animados para vir. Quando chegam ao portão, já começam a vibrar”, complementa. Solange afirma que indica a equoterapia para quem a questiona sobre o tratamento.

O Instituto

As sócias do Instituto Andaluz, Ana Carolina Pereira Matos e Viviane Miara, trabalhavam juntas desde 2005 com equoterapia quando, três anos depois, o lugar fechou. “A gente se viu com 35 pessoas querendo continuar o atendimento, um local como aqui na Hípica que eles cedem o espaço. Era o nosso sonho continuar, então tivemos a coragem de abrir uma instituição”, conta Ana Carolina. Em 2009, o Instituto Andaluz iniciou os atendimentos.

A equipe é formada pelas duas fisioterapeutas, uma psicóloga, um instrutor de equitação e três auxiliares guias. Hoje o instituto atende 120 pessoas com necessidades especiais – dos quais 40% são atendidas gratuitamente. “Já estamos com um projeto junto à Fundação de Ação Social (FAS) e estamos aguardando o aval para que a gente possa fazer a captação de recursos para atender mais 80 crianças gratuitamente”, complementa Ana Carolina.

Cavalos precisam ser dóceis

Daniel Derevecki
As fisioterapeutas Ana Carolina Pereira Matos e Viviane Miara e equipe: 120 pessoas atendidas. Veja na galeria de fotos e no vídeo com é o tratamento.

A fisioterapeuta Ana Carolina explica que o cavalo é usado por ser o animal que mais se assemelha ao homem em termos de movimento. “O movimento da anca do cavalo é o mesmo que a gente faz enquanto anda, por isso ele é o escolhido para a reabilitação”, destaca.

A equoterapia é indicada, segundo Ana Carolina, em casos de paralisia cerebral, síndromes, como a de Down, autistas, acidente vascular cerebral, traumatismos cranianos pósacidentes, distúrbios comportamentais, déficits cognitivos e crianças até seis anos para a pré-equitação (primeiros ensinamentos para a criança que quer aprender a andar a cavalo).

As sessões de equoterapia duram 30 minutos, no máximo duas vezes por semana. “É o tempo necessário para a pessoa que está montada receber em torno de 2.200 estímulos ao Sistema Nervoso Central; mais do que isso pode causar fadiga muscular”, ressalta a terapeuta. Os exe,rcícios variam caso a caso. “Fazemos uma avaliação inicial nas crianças para observar todas as dificuldades e capacidades e, através dela, traçamos o objetivo para cada uma delas”, diz.

Não é todo cavalo que pode ser usado na equoterapia. Independe de raça, mas o animal precisa ser dócil e precisa ter determinadas características físicas, como a mesma altura da cernelha e da anca. Os cuidados com os cavalos também são essenciais. “Eles são trabalhados todos os dias pelos auxiliares guias, são levados para galopar e gastar a energia acumulada; para que fiquem sempre tranquilos”, explica a terapeuta.

Entre os benefícios da terapia com cavalos estão melhorias no equilíbrio, na coordenação motora e na postura, e auxílio no desenvolvimento motor. Mas os resultados ultrapassam a parte física. “Afeta também a autoestima. Às vezes a criança chega muito tímida, insegura, medrosa e um dos primeiros sinais é que ela consegue se sentir mais importante em cima do cavalo”, comenta a fisioterapeuta. Além disso, também há uma melhora na sociabilização, em virtude do contato com o animal e com os profissionais que acompanham.

Progressos

São vários os casos de sucesso da equoterapia relatados por Ana Carolina. “Tem criança que não conseguia ficar sentada sozinha, e hoje, depois de cinco meses de tratamento, já consegue”, afirma.

Uma das pacientes do instituto, que é cadeirante, está se preparando para as Paraolimpíadas de 2016, onde vai disputar a modalidade de bocha. “Isso para nós é uma vitória, porque ela faz fisioterapia convencional e faz equoterapia, e ela mesma relata o controle de tronco que adquiriu, a movimentação de braço que consegue fazer”, finaliza Ana.

Veja na galeria de fotos e no vídeo com é o tratamento.