A dengue é uma doença cíclica, que se intensifica em epidemias em um período de sete anos, em média. Considerando que o ano de 2003 foi um dos mais preocupantes no Paraná em relação à doença, então isso significa que este ano todo o cuidado é pouco.
Sem falar que há três sorotipos circulando no Estado, o que também preocupa ainda mais em relação à dengue hemorrágica, a mais grave. Portanto, há parâmetros de análises para saber qual é a situação de cada município em relação ao mosquito Aedes aegypti, o transmissor da dengue.
Um deles é o Índice de Infestação Predial (IIP): segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), na semana passada, 29 cidades do Estado estavam com seus IIPs acima de 4%, o que significa que elas correm o risco de sofrer com uma epidemia de dengue logo.
O Programa Nacional de Controle da Dengue estipula que IIPs entre 1,00% e 3,99% significam alerta para epidemia; e igual ou superior a 4,00%, risco de epidemia. Ao todo, o Paraná tem hoje 150 casos confirmados e 1.047 suspeitos.
As cidades com maior IIP, segundo o boletim da Sesa, são Doutor Camargo, norte do Paraná (24,6%); Quatro Pontes, oeste (17,5%); Mercedes, oeste (15,45%); Astorga, noroeste (10%), e Paranavaí, noroeste (9,4%).
A grande maioria dos municípios não informa à Sesa esse índice, o que dificulta o levantamento de dados. Dos 263 municípios chamados de “infestados” (que deveriam informar o IIP), apenas 77 informaram até o fechamento do último boletim.
Dentre as que informaram e estão com índices zerados ou abaixo de 1% estão Curitiba, Pato Branco (sudoeste), Cruzeiro do Oeste, Altônia (noroeste), Lobato (norte), Bom Sucesso (sudoeste), Borrazópolis (norte), Cafeara (norte), Miraselva (norte), Pitangueiras (norte), Tamarana (norte), Curiúva (norte), Imbaú (centro), Ortigueira (centro), Reserva (centro), Tibagi (centro) e Ventania (centro) – ver quadro.
Diante de tal situação preocupante, o secretário de Estado da Saúde, Gilberto Martin, tem percorrido os municípios com a chamada “Caravana contra a Dengue”. Segundo ele, a ideia é dar uma retaguarda às cidades com dificuldades em combater o mosquito.
“Temos que eliminar do ambiente todos os criadouros, é a única solução definitiva”, alerta o secretário. Ele explica que o fumacê contra o mosquito até pode ser utilizado em situações extremas, mas não é o mais recomendável, pois é apenas uma medida paliativa. “Não tem saída, tem que prevenir”, diz ele.
O secretário de Saúde de Doutor Camargo, Marcos Antônio Batista, explica que o índice informado de sua cidade (de 24,6%) está errado. Ele contou que um funcionário equivocou-se fazendo o levantamento na área rural, onde praticamente 70% dos imóveis tinham focos do mosquito.
Porém, o índice correto, segundo o secretário, (e que já foi informado à Sesa) é de 8,7%, que também é altíssimo. “Estamos fazendo panfletagem, usando carro de som e, com os agentes, visitando as residências. Temos consciência de que 8,7% também é alto, mas estamos trabalhando. Tivemos muita chuva por aqui. Fazemos a conscientização, mas é difícil, as pessoas não admitem que estão erradas”, comentou Batista.
Para ele, seria necessário que o Estado determinasse as multas, já impostas em alguns municípios, como forma de punição aos cidadãos que não cuidam de seus imóveis. “O Código Tributário do nosso município não permite isso”, lamentou. Em Doutor Camargo não há caso confirmado da doença.
Fique atento aos sintomas e às formas de prevenção
Os sintomas principais da dengue são febre alta, dor forte atrás dos olhos e nas articulações e, às vezes, vermelhidão na pele. Se a pessoa viajou para áreas infestadas, o ideal é informar ao médico.
No Paraná, até ,agora, não foi registrado nenhum caso de dengue hemorrágica, mas a dengue “normal” também pode ser perigosa, como explica o médico e diretor do Centro de Epidemiologia de Curitiba, Moacir Gerolomo.
“Idosos e crianças devem ter cuidados redobrados. A dengue comum é uma reação do organismo e se a pessoa já tem algum problema, pode complicar. Já na hemorrágica (que pega na segunda ou terceira vez) o organismo faz uma reação imunológica e pode ser bem mais perigoso”, explica o médico.
Os principais cuidados contra o mosquito são: fechar caixas, tonéis e barris de água; colocar o lixo em sacos plásticos e manter a lixeira fechada; não jogar lixo em terrenos baldios; garrafas devem ser mantidas de boca para baixo; não deixar água acumulada na laje; encher pratinhos ou vasos de plantas com areia; se for guardar pneus em casa, retirar toda a água e mantê-los em locais cobertos; limpar as calhas com frequência; lavar com esponja os recipientes de água. (MA)
Quatro Pontes tem índice alto de infestação, sem caso confirmado
A segunda cidade com maior Índice de Infestação Predial (IIP) no Paraná é Quatro Pontes, na região oeste (17,5%). A secretária municipal de Saúde, Anaelise Pletsch, afirma que o índice alto se deu porque os agentes da cidade não param de trabalhar e, com isso, encontram mais focos.
“No final do ano nossos agentes não tiraram férias, continuaram indo de casa em casa para alertar a população”, disse ela. A cidade também não tem qualquer caso confirmado da doença até agora. Na última sexta-feira, agentes fizeram uma campanha com distribuição de panfletos informativos, com direito até a bandas de pagode.
Com o início das aulas, a secretária conta que a informação deverá chegar às escolas. “A intenção é de que os estudantes levem as instruções para casa e as multipliquem. As pessoas não estão conscientes da gravidade da doença”, comentou a secretária, que se mostrou tranquila. “Não acho que a doença vai vir
com tudo este ano, o problema é o excesso de chuvas”, diz.
Casos
Entre as cidades com maior número de casos confirmados da dengue este ano estão Maringá (55), Foz do Iguaçu (25), Londrina (23), Toledo (10) e Cianorte (7).
Em Curitiba já são oito casos confirmados (todos importados) só em janeiro. Porém, este número é preocupante, uma vez que em todo o ano passado, a capital paranaense registrou sete casos.
O secretário de Saúde de Maringá, Antônio Carlos Nardi, diz que o trabalho contra o mosquito não para nunca. Cerca de 12 bairros da região norte da cidade são os mais críticos.
Segundo o secretário, o maior problema são os focos nas residências (pratinhos de vasos de plantas e garrafas e latinhas com água acumulada, por exemplo). “Não adianta ninguém apontar ignorância sobre a dengue, sobre o controle dos focos. Os agentes estão nas residências, todo o País está mobilizado. Acho que o que falta não é conscientização, mas sim, ação”, alerta o secretário.
Em Maringá, assim como em vários outros municípios, os profissionais de saúde recebem orientação para saber diagnosticar corretamente a doença. “A dengue sempre foi preocupante para nós. Hoje temos três sorotipos circulando e uma grande circulação de pessoas de estado para estado”, alerta. (MA)
Municípios aplicam multas aos descuidados
A cidade de Londrina, no norte do Paraná, é a terceira em número de casos (23), mas a primeira em notificações da doença (casos suspeitos, até agora são 376). Há alguns anos, o poder público municipal tem multado os moradores que não colaboram no combate ao mosquito.
Curitiba tem oito casos importados este ano, sendo que em 2009 inteiro foram sete. Em Umuarama, no noroeste, a situação ainda não está tão crítica, mas a quantidade de multas aos cidadãos que não atendem aos pedidos de higiene da prefeitura tem crescido de maneira su,rpreendente: no ano passado inteiro, o município multou cerca de 90 pessoas.
Este ano, somente em janeiro, já são mais de 100 multas, que variam de R$ 50 a R$ 400. Em Umuarama, o Índice de Infestação Predial (IIP) é de 2%, em média, e há nove casos de dengue confirmados.
Mesmo assim, em função da falta de conscientização da população, das chuvas e do calor (e ainda por ser uma cidade universitária, com grande circulação de pessoas), a Vigilância Sanitária da cidade está atenta. “Muita chuva e muito calor nos deixam preocupados”, afirma a coordenadora em Vigilância em Saúde de Umuarama, Renata Pitto.
Os bairros mais atingidos por focos são Parque Industrial, Guarani e Bem Estar Social. “Já fizemos vários mutirões de combate à dengue. Em um deles retiramos 190 toneladas de lixo. Agora estamos focando nossas atenções aos bloqueios quando constatamos um caso suspeito fazemos uma varredura em
torno da residência e no preparo do profissional de saúde, pois estamos preocupados com a dengue hemorrágica”, observa Renata. Em todo o ano passado, foram realizados 70 bloqueios em Umuarama. Somente este ano, já são 60.
Os agentes de Londrina também multam quem não colabora. O diretor da Vigilância Sanitária da cidade, João Martins, diz que este ano serão mais rígidos na fiscalização.
“Ou a população se torna parceira, ou vamos ter epidemia de dengue”, alerta ele. No ano passado, era esperada a reincidência do morador para aplicação da multa. Este ano não. “A pessoa tem direito à defesa, mas de dois focos para cima já multamos”, explica.
A multa em Londrina pode chegar a R$ 16 mil, dependendo da gravidade do caso. “Precisamos de mais parceria da comunidade. Cada empresa deve ter um cuidador. No ano passado, o autódromo tinha 50 focos do mosquito, demos treinamento aos funcionários e na última fiscalização não havia nenhum”, conta Martins.