A vida da dona de casa Ivone do Rocio Arruda, de 60 anos, está prestes a ganhar um novo capítulo. Moradora de beira de rio na ocupação irregular Santos Andrade há quase quatro décadas, ela vai deixar no passado os problemas causados com as chuvas e passará a viver em um apartamento do programa habitacional do Município. Ela faz parte das 480 famílias que foram contempladas com unidades nos Residenciais Aroeira e Imbuia, na última quinta-feira (03).
No apartamento novo, Ivone vai morar com o marido e o filho. “Nossa vida vai melhorar bastante, é um alívio poder deixar a situação que vivemos”, afirma. Ela conta que o banheiro e a cozinha de sua casa desabaram para dentro do rio em uma forte chuva no ano passado. “A cada chuva as margens do rio iam desbarrancando e as rachaduras no piso da cozinha e do banheiro foram aumentando até o dia em que caiu tudo”, relembra.
Assim como ela, outras 145 famílias da mesma vila, situada no Mossunguê, serão reassentadas nas novas moradias construídas no Santa Cândida. Segundo conta a líder comunitária Rosenilda de Paula, a ocupação da vila Santos Andrade teve início há mais de 50 anos. “Foi quando chegaram as primeiras famílias. Naquela época o rio era limpinho, cheio de peixe. Era tanto peixe que dava para pescar com a mão”, conta Rosenilda.
Com o passar do tempo o número de moradores foi aumentando e este crescimento se deu de forma desordenada. Com as moradias precárias sendo erguidas muito próximas umas das outras, logo começaram os problemas do adensamento excessivo e falta de infraestrutura, como explica a moradora Aline de Oliveira, de 23 anos, também nascida e criada na vila. “Não temos asfalto, então quando chove fica tudo barrento, difícil de sair ou chegar em casa. As casas são quase empilhadas uma na outra, quase não temos espaço”, afirma.
Medo da chuva
Situação semelhante vivem os moradores da vila Hakin, em Santa Felicidade, ocupação que iniciou em meados dos anos 70, com a chegada de oito famílias em um terreno que margeia um córrego. A população local cresceu rapidamente e junto surgiram os problemas. O esgoto era despejado direto no rio, e a ausência de ruas impedia o acesso para a coleta do lixo. Das 114 famílias que a Cohab cadastrou no local, 54 estão em área imprópria para moradia e serão transferidas para os novos conjuntos do Santa Cândida.
Caso da dona de casa Pedrocina Lopes, de 63 anos, moradora da Vila Hakin há 14. A casa onde reside com o marido e a filha está com os muros e o piso rachando. “Quando começa a chover já vem aquele medo. Não sei mais quanto tempo essa casa aguenta em pé. Felizmente vamos mudar para o apartamento novo e deixar esta angústia para trás”, destaca.
Sobre a futura moradia ela não esconde a alegria. “O conjunto ficou lindo demais, muito chique. Às vezes nem acredito, parece que estou sonhando. Depois de tantos anos de dificuldade, vamos morar em um lugar bonito, com tudo limpo”, diz.
Outra ocupação irregular incluída neste pacote de reassentamentos é a vila Bom Jesus, no Barreirinha, onde as primeiras famílias chegaram há uma década. A região é cortada por um rio com fundo de vale. Das 147 famílias cadastradas, 54 estão dentro da área de preservação permanente e serão transferidas para o Residencial Aroeira. Entre elas a dona de casa Marili Almeida, de 51 anos. “Estou muito contente em poder ir para um lugar melhor. Aqui é muito úmido e isso já está me trazendo problemas de saúde. È como se nossa vida fosse recomeçar”, afirma.
Adeus enchentes
A diarista Mariusa de Moraes, de 31 anos, estava inscrita na fila da Cohab há três anos e no ano passado foi sorteada para adquirir uma unidade no Residencial Imbuia. A norma do programa Minha Casa Minha Vida prevê que o atendimento para famílias inscritas no cadastro da Cohab com renda mensal de até R$ 1,6 mil se dá,; por sorteio. “Dei muita sorte em conseguir este apartamento, onde vou poder criar meus filhos com dignidade”, diz.
Mariusa vive com o marido e os quatro filhos em uma precária casa de madeira em beira de rio, em local que sofre frequentes alagamentos. Ela pagava aluguel de R$ 600 em uma casa no Barreirinha, mas não conseguiu mais arcar com este valor, então a solução encontrada foi morar na beira do rio. “Aqui não temos esgoto, vai tudo para o rio. Quando chove transborda e fica impossível sair de casa. Meus móveis apodreceram todos, terei que comprar tudo novo antes da mudança. Mas agora é só alegria, estes problemas ficam no passado”, destaca.
Casa mobiliada
A dona de casa Adriele Mari de Andrade Pires, de 22 anos, recebeu as chaves de seu apartamento nesta quinta-feira. Ela foi contemplada com uma unidade mobiliada, montada para servir de referência ao programa Minha Casa Melhor, da Caixa Econômica Federal, que permite às famílias a compra de móveis e eletrodomésticos em condições facilitadas.
Nascida e criada na vila Santos Andrade, Adriele, o marido e os três filhos estavam morando de favor na casa da irmã dela. “Na minha casa já tinha caído uma parte do forro, o piso estava cedendo, as janelas todas quebradas e eu sem condições de consertar. Como era perigoso continuar lá, me mudei para minha irmã até sair o apartamento”, conta.
Até o momento em que recebeu as chaves, ela não sabia que seu apartamento estava todo mobiliado. “Quase cai para trás quando descobri. É tudo muito lindo, os móveis da sala, o quarto das crianças, a cozinha. Nossa vida vai ser outra de agora em diante”, disse.