Está criada a rede solidária envolvendo a sociedade civil para ajudar o próximo governo no trabalho de erradicação da fome do Brasil. Ontem, em Curitiba, diversas entidades, entre elas a Pastoral da Criança, Igreja e MST, se reuniram para definir os primeiros planos de ação do Conselho Estratégico do Fundo Brasil Sem Fome. Segundo informações divulgadas por Daniel de Souza ? filho do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho ?, que também participou do encontro, 54 milhões de pessoas no País vivem abaixo da linha da pobreza.
Entre as propostas de ações apresentadas ontem, está a de um recadastramento nacional dos beneficiados pelos projetos de assistência social. “Tem gente que não precisa e está recebendo o benefício”, afirma o diretor executivo do Conselho, Maurício Andrade. Ele citou uma pesquisa que a Pastoral da Criança encomendou mostrando que nos nove municípios mais pobres do Norte e Nordeste do País os mais carentes não eram atendidos. Apenas 9,7% das 3 mil famílias pesquisadas recebiam algum benefício. Um dos motivos para isto seriam a falta de conhecimento ou corrupção nas prefeituras. Além disso, a administração dos diversos programas consome muito dinheiro, o ideal seria a sua unificação. Outro conselho é que programas enfoquem as mulheres mães de família, que administrariam melhor o dinheiro.
Incentivo agrícola
Além das sugestões ao governo, o Conselho vai implantar no início do próximo ano a ampliação do programa de incentivo à produção de feijão em assentamentos do MST e para pequenos produtores organizados, já desenvolvido pela Embrapa . Em dezembro devem ser divulgados os locais contemplados. A verba virá do Fundo Herbert de Souza Brasil Sem fome, criado este mês, que está arrecadando dinheiro pelo telefone e recebendo doações de empresas. Cerca de R$ 650 mil já estão na conta e a expectativa é chegar a R$ 1 milhão até o fim do ano. Parte também será destinada à campanha “natal sem fome”. .
No encontro foi divulgado um projeto do banco Itaú, onde os funcionários doaram uma hora de trabalho para a Fundação. A primeira parcela, R$ 300 mil , será entregue esta semana.
O chefe-geral do Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão (CNPAFA) da Embrapa, Pedro Arraes, salientou que é preciso aumentar a renda do agricultores, além de educar e fornecer meios de comercializarem a produção. Pequenas centrais de comércio ajudariam na hora de vender os produtos. Os compradores em potencial seriam prefeituras para abastecer creches, asilos e escolas.
Educação e emprego
Em relação à educação, será sugerido ao próximo governo atrelar aos programas sociais a escolarização e capacitação. Dom Luciano, Bispo de Marília, presidente de honra do Conselho, enfatizou a necessidade de dar mais atenção aos jovens, através da criação de empregos. Já a presidente da Pastoral da Criança, Zilda Arns, disse que o órgão vai ampliar o número de beneficiados pela Pastoral, que combate a desnutrição e o analfabetismo.
Para Daniel de Souza, se depender do Conselho e do governo, o sonho do pai dele de acabar com a fome será realizado. “Sairemos do projeto Natal sem Fome para implantar o Brasil sem Fome”, define. A próxima reunião do grupo ficou para fevereiro de 2003.