Algumas operadoras de planos de saúde estão oferecendo um serviço de monitoramento de pacientes crônicos por telefone e visitas domiciliares, com uma equipe formada por profissionais não-médicos, como enfermeiras, assistentes sociais, nutricionistas e psicólogas. O serviço já está sendo chamado de ?babá de paciente?. A intenção é prevenir internações e atendimentos desnecessários, reduzindo os custos das operadoras de saúde. Mas a iniciativa está sendo duramente criticada por entidades médicas.
Por meio de um call center, a equipe entraria em contato com o paciente crônico – como cardiopatas, diabéticos e hipertensos – para acompanhar o tratamento e saber se ele toma a medicação de maneira correta. Além disso, daria dicas de alimentação e exercícios físicos. Os pacientes crônicos poderiam ainda obter orientações pelo telefone, caso sentissem alterações em seus quadros de saúde.
Entidades médicas repudiam a adoção desse serviço pelas operadoras. Alegam interferências na relação médico-paciente. O call center seria uma barreira que impediria o acesso do doente ao atendimento médico. Isso causaria, inclusive, risco de morte em pacientes crônicos. As entidades médicas alegam que existe o interesse de aumentar os lucros por trás do monitoramento preventivo por telefone.
O Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) foi uma das primeiras entidades médicas a criticar a adoção deste serviço pelas operadoras. Para Cid Carvalhaes, presidente do sindicato, o monitoramento por telefone pode causar efeitos contrários à prevenção. ?É um absurdo. Fora de propósito. Uma atitude desonesta e capciosa dos planos, que visam os lucros, em prejuízo ao paciente?, opina. ?O paciente não está só correndo o risco. Isso é provocar uma situação, é questão de tempo. É incompreensível que um paciente crônico seja monitorado por call center?, afirma. Carvalhaes explica que um diabético, por exemplo, pode ter reações que mascaram sintomas graves, como um enfarte sem dor. Equipes não-médicas não saberiam diagnosticar esse quadro, mesmo em visitas domiciliares.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar), Mário Ferrari, diz que a consulta por telefone é considerada uma conduta anti-ética. ?No call center, o paciente ou seu familiar pode não conseguir transmitir os sintomas de maneira correta, às vezes esquecendo de um detalhe importante. O risco é enorme?, avalia.
Hélcio Bertolozzi Soares, presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), lembra que é antiga a iniciativa de implantar um monitoramento por telefone, amplamente utilizado em outros países. Segundo ele, há mais de cinco anos, as operadoras já haviam tentado colocar esse serviço para funcionar, sem sucesso. ?A proposta das operadoras é diminuir os custos. Elas já cobram muito dos usuários e pagam pouco pela assistência. Isso visa diminuir a possibilidade de assistência por parte dos médicos. O call center não é assistência médica?, declara.
De acordo com Ferrari, o monitoramento dos pacientes crônicos é bem-vindo desde que seja feito um gerenciamento com um médico, de preferência o mesmo que atendeu o doente. ?É uma conduta preventiva, que tem uma equipe técnica capacitada para isto, com a presença de um médico, não sendo necessariamente uma consulta. Já existem iniciativas de operadoras no Paraná neste sentido?, relata.
Abramge discorda das instituições
O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Arlindo de Almeida, não concorda com as críticas feitas pelas entidades médicas sobre o monitoramento de doentes crônicos. Ele diz que médicos de plantão integram as equipes multidisciplinares mantidas pelos planos de saúde nesse tipo de serviço. ?Você fica em contato direto e isso melhora a qualidade de vida do paciente. Não tem paciente que não goste desse serviço?, afirma. De acordo com ele, o paciente liga no call center e os médicos de plantão tiram dúvidas, fazem aconselhamentos e dão orientações em caso de aparecimento de sintomas. Se houver necessidade, o profissional se desloca até a residência do paciente e faz tudo o que for preciso, até encaminhamento para o hospital. ?Essa é uma grande vantagem para o paciente, que evita uma ida desnecessária para qualquer hospital, que não tem o histórico dele e precisa repetir todos os exames. Tem esse lado social, além do econômico?, avalia Almeida.
Ele comenta que os pacientes crônicos graves, que representam uma pequena parcela dos clientes atendidos, são responsáveis por 30% dos gastos das operadoras. ?O serviço tem sido aplicado em diversos países com sucesso. O lado econômico é um subproduto dessa melhora na qualidade de vida do paciente. Além do bem-estar, o monitoramento ocasiona a economia. A maioria dos grandes planos de saúde já está oferecendo esse serviço?, revela. (JC)
