Empresas usam a experiência da ‘melhor idade’

Quem chega de mau humor para fazer as compras de supermercado precisa encontrar Kunio Tsumanuma, que trabalha na portaria do estacionamento do Condor no bairro Água Verde, em Curitiba. Sempre sorridente, este senhor de 75 anos conversa com os clientes e dá as boas vindas com um enorme carisma. “Visualizo e já reconheço na portaria pelo menos 40% dos clientes”, conta.

Kunio garante que fica contente quando vai trabalhar. Desde que retornou ao mercado de trabalho, melhorou a saúde, melhorou o humor… Tudo mudou para melhor há cerca de dois anos e meio, quando foi atrás de uma vaga. “Passei 19 anos trabalhando no Japão, em um serviço pesado. Voltei para o Brasil e fiquei dois anos parado. Eu não aguentava mais”, relata.

Encontrar senhores e senhoras no mercado de trabalho, especialmente no setor do comércio, está sendo cada vez mais comum. Há benefícios tanto para os empregadores quanto para quem está na “melhor idade”. Quem está nesta faixa etária se sente mais útil trabalhando. Hoje em dia, as pessoas vivem mais e melhor. E ainda têm muito o que oferecer.

“Tenho 68 anos e vou longe. Nunca vou querer me aposentar. Para mim, isto é vida. É a troca de experiência e também ser exemplo para os jovens que estão começando. Mostrar que vale a pena se engajar e ter comprometimento”, afirma Maria Aparecida Dias Chaves, que trabalha na área de atendimento ao cliente no Supermercado Condor do Água Verde. Ela tem formação de pedagogia, especialização em educação e atuou muitos anos neste setor. Maria Aparecida criou os filhos e, antes de trabalhar no Condor, ficou sete anos em uma rede de varejo.

Aposentados por tempo de serviço podem ter registro

Marco Charneski
Perfil agrada varejistas.

As características específicas dos idosos têm levado à contratação destes profissionais especialmente nos setores de comércio e serviços. “Eles são mais pacientes, mais responsáveis e menos impetuosos do que alguns jovens que estão chegando agora”, ressalta Ângela Carstens, coordenadora estadual de intermediação de mão de obra da Secretaria de Estado do Trabalho e Emprego. Ela lembra ainda que as pessoas vivem cada vez mais e com qualidade de vida. Se antes os mais velhos eram descartados, agora eles se tornaram uma oportunidade. “As pessoas estão melhores fisicamente e psicologicamente na maturidade”, declara Ângela.

Além deste cenário, o aquecimento da economia e o baixo desemprego fizeram com que muitas vagas ficassem ociosas. Com esta dificuldade de preenchimento, principalmente por pessoas qualificadas, veio a oportunidade para este público. “As empresas estão apostando nesta maturidade. Com a mudança da expectativa de vida, as empresas passaram a enxergar diferente. Os mais velhos têm todo o potencial para trabalhar”, salienta Ângela.

Entre os idosos, há aqueles que trabalham mesmo sendo aposentados. De acordo com Annelise Marcengo, coordenadora de recursos humanos dos Supermercados Condor, a legislação permite o registro em carteira de trabalho para os aposentados por tempo de serviço. O mesmo não acontece para quem está aposentado por invalidez.

Maturidade apreciada no comércio

A experiência de vida destas pessoas está sendo valorizada pelas empresas e esta maturidade é apreciada no ramo do comércio pelo contato com o cliente, principalmente. “A empresa contrata idosos há muitos anos. Eles têm um carisma para lidar com o público. Quando retornam ao mercado de trabalho, voltam a fazer contato social e a exercer diversas atividades”, comenta Annelise Marcengo, coordenadora de recursos humanos do Condor.

Além destas situações, a troca de experiências entre diversas gerações em um mesmo local é levada em ,consideração pelos empregadores. “Os idosos trazem esta experiência que têm de mercado e se encontram com os mais jovens. Eles se entendem. Existe esta mescla”, analisa Silvia Duarte, supervisora de recursos humanos da rede de supermercados Angeloni. Os cargos para a “melhor idade” são diversos e levam em consideração as questões físicas, para não ocorrer sobrecarga. Há idosos trabalhando como empacotadores e operadores de caixa, além dos serviços de recepção e atendimento ao cliente.

Marco Charneski
Maria Aparecida: “tenho 68 anos e vou longe. Nunca vou querer me aposentar. Isto é vida”.
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